terça-feira, 25 de abril de 2017

Dentro e fora

Moreno, criador do Psicodrama, escreve: "O Diretor é um membro do grupo em papel diferenciado". Pensemos um pouco. Membro do grupo. Então, como todos os participantes do grupo, também o Diretor tem uma relação de pertinência com esse grupo. Tudo o que acontece ao grupo e no grupo o atinge, o afeta, consoa no Diretor. Papel diferenciado. No Psicodrama diz-se que alguém está diferenciado no papel quando tem consciência, percepção, daquilo que lhe acontece, daquilo que o afeta, daquilo que o toca. E que portanto, sua ação não será uma simples reação impulsiva movida exclusivamente pelo afeto dominante. A indiferenciação seria, assim, seu oposto. O Diretor de Psicodrama está, em relação ao grupo, dentro e fora. Dentro por ser um membro do grupo, atravessado por todas as contingências grupais. Fora por estar diferenciado em seu papel, mantendo sua autopercepção permanentemente ligada nos seus atravessamentos grupais. Dentro o necessário para tudo consoar em si. Fora o suficiente para agir diferenciadamente. Ou seja, o participante do grupo desenvolve e é estimulado a agir espontaneamente. Ao Diretor cabe escolher dentre suas ações possíveis espontaneamente estimuladas pelo efeito grupal, aquelas que são operacionalmente, criativamente, mais úteis, cabíveis, necessárias ao trabalho diretivo. 

segunda-feira, 17 de abril de 2017

Amar, Respeitar...

Penso há tempos na impossibilidade do amar a todas as pessoas. Esta quase exigência nos faz sentir ou culpados ou não-seres humanos. Amar é uma relação bilateral. Em termos psicodramáticos, uma relação Télica: Em que eu e o outro nos reconhecemos e interagimos dentro do mesmo vínculo, em relação complementar e com o mesmo tipo de afeto e intensidade. Isto seria amar em sentido relacional. Usamos a mesma palavra para também nos referirmos ao cuidado a todos os seres da Natureza e à própria Natureza. Essa relação não necessita ser bilateral, complementar. Pode ser unilateral. E talvez seja melhor chamá-la não de amor, por ser este um afeto necessariamente espontâneo. O respeito, prefiro esta palavra, não precisa ser espontâneo, podendo ser ensinado, aprendido e cobrado. O respeito é o reconhecimento do outro, da existência do outro. Respeitar é reconhecer e aceitar a existência do outro, sob qualquer forma. É o respeito que pode conduzir à harmonia ou à discordância, ambas construtivas para o processo humano. Se nulificamos, reificamos o outro, o tornamos coisas, tudo se admite e nada é proibido. No julgamento em Nuremberg ficou visível essa nulificação como forma de proteger-se da culpa. Hannah Arendt chamou a isto de banalização do mal. Respeitar é reconhecer a humanidade intrínseca de todos. E o Psicodrama por ter a sua base, seu alicerce, na ideia de que somos seres relacionais, seres em relação, constrói a possibilidade do respeito com suas inversões papel e consequentes multiplicações das visões de mundo. 

segunda-feira, 10 de abril de 2017

Teatro Espontâneo e Psicodrama

Sempre temos visto escritos sobre o TE e todos dentro da perspectiva da ressonância junto à plateia, do potencial de transformação grupal ou dos protagonistas por meio da estética do momento. Quero agora refletir sobre outra vertente possível. O que muda no Diretor psicodramático que se dedica ao TE? O que se altera na sua prática, ainda que não seja teatro espontâneo que ele esteja realizando? Que especificidade de olhar psicodramático tem o diretor praticante de TE? Há alguma especificidade? Que importância tem para o psicodramista in status nascendi participar de TE?
Utilizando estas perguntas como iniciadores verbais, passemos a refletir. A rigor, o primeiro combatente (proto-agonista) é o que primeiro põe o pé no palco. Assim, o primeiro a proto-agonizar é o Diretor Psicodramático. Ele, naquele momento, é o que mais arrisca, o foco da atenção está sobre ele, espera-se um algo qualquer dele. Neste primeiro momento, a espontaneidade/criatividade do Diretor encontra seu maior espaço de desafio. O ritmo, a estética, a linha condutora advirá desta mesma espontaneidade criativa. Para saber enxergar e ouvir o grupo o Diretor precisa estar aberto, disponível, sem armaduras ou defesas prévias. E isto é exatamente o que o trabalho com o TE ajuda a desenvolver. O foco estético no TE é o eixo onde gira a Direção. Por isto, o cuidado com o ritmo, a fluidez, a ressonância junto ao grupo, a atenção particularmente quanto à manutenção do aquecimento grupal. Isto é vital. Porque se corre o risco, ao não se atentar para o aquecimento, que a plateia se esvazie. Como não há compromisso terapêutico, a plateia permanece enquanto se encontra motivada, interessada. Outro aspecto importante e curioso é que o público se apropria de partes ou trechos do acontecido. No compartilhamento é que se percebe que, da obra realizada, cada pessoa, cada parte da plateia, pinçou, apropriou-se de algo diferente.

Para o Diretor é necessário não ter uma postura autoral, quem dá (ou não dá) sentido ao acontecido é o público. Como o Diretor de TE trabalha fora da psiquiatria/psicologia, apresentando-se sem este aval, fica totalmente entregue ao que ele consegue construir junto com o grupo. Sua segurança virá da sua confiança em que o grupo é senhor e construtor de seu destino cênico. O grupo é que se dirige. Cabe ao Diretor, tão somente, dar forma esteticamente resolvida à dramatização.

Os psicodramistas não precisam todos fazer TE, mas se beneficiariam muito ao trabalhar com a ideia de ritmo e estética, de atentar sempre e sempre para o aquecimento grupal, de diminuir sua importância pessoal e ampliar sua confiança na capacidade de construção grupal. Por isto, fazendo Teatro Espontâneo farão um melhor Sócio Psicodrama.

quarta-feira, 5 de abril de 2017

falar e mostrar

"Se você me disser, é um ensaio, uma tese. Mas se você me mostrar é uma história" (Bárbara Greene). Há tempos anotei esta frase. Não conheço a autora. Mas ela define, de uma forma elegante e sintética, o olhar, as ações e o objetivo de um condutor de Psicodrama ou Teatro Espontâneo. Ajudar a construir histórias que possam ser vistas. E ao serem vistas poderem ser vivenciadas. E ao serem vivenciadas possibilitar uma nova mirada, um redimensionamento das relações.

segunda-feira, 3 de abril de 2017

O sozinho e o solitário

Estar só, sentir-se só. Sozinho, solitário. Estados de espírito não iguais, muito diferentes. Estar só é algo espacial, geográfico. É não ter pessoas em volta. Apenas isto. Sentir-se só é outra coisa. Nada tem a ver com quantidade de pessoas. Sentir-se só é consequência  de uma pobreza relacional. Solidão é não ter vínculos com nada. Uma pessoa isolada geograficamente vive e sobrevive das certezas de seus laços afetivos, das lembranças e desejos. Sentir-se só, o estar em solidão, é reconhecer a inexistência, é sentir o peso da ausência de vínculos que o ancore com o mundo.
"É ser isolado na alma, e isso é que é ser vadio,
É ter que pedir aos dias que passem, e nos deixem, e isso é que é ser pedinte" (Fernando Pessoa)

sábado, 1 de abril de 2017

1 de Abril de 1921 é a data inaugural do PSICODRAMA. Iniciou com uma sessão aberta em um teatro, em Viena, com um convite para a discussão sobre a realidade caótica do país àquela época. Cortinas abertas, uma única cadeira vermelha em cena, uma coroa sobre ela. Moreno convida a quem quiser assumir a coroa que suba ao palco. E com este gesto de desafio, coragem e comprometimento nasceu o PSICODRAMA.

Postagem em destaque

E assim é.

Experimentar e refletir.  Este blog é um espaço para mostrar ideias sobre o psicodrama, sobre o teatro espontâneo.  Há mais de trinta anos...