sexta-feira, 30 de novembro de 2018

Como é que é?

Lá nos idos do 2º grau aprendi em Física algo chamado Paralaxe. Trata-se da mudança de perspectiva entre figura e fundo pela mudança de posição do observador. Algo que ocorre quando olhamos o dedo indicador com apenas um olho aberto e depois alternamos o fechamento dos olhos. Esta mudança de posição relativa entre dedo e o fundo é a Paralaxe. E o que tem de análogo com o Psicodrama? Aqui quando reencenamos uma história, quando experimentamos outro final para ela, quando fazemos um espelho, duplo, inversão de papeis, quando usamos todos estes instrumentos de trabalho psicodramático, sempre o fazemos com o objetivo de permitir ao observador participante (grupo e/ou indivíduo) uma ou várias outras miradas novas da mesma cena. Isto é o que se torna o verdadeiro instrumento terapêutico do Psicodrama: a possibilidade de que o grupo e/ou indivíduo possa sair da visão única, cristalizada (talvez até patologizada) que até então acontecia para um horizonte de outras formas de ver. Sim, fazer Psicodrama é ajudar a construir múltiplos pontos de vista, é descongelar a visão de mundo. É fazer um movimento de Paralaxe existencial em que, sem que nada mude na superfície, algo se altere profundamente.




terça-feira, 27 de novembro de 2018

Além, muito além. outra vez

Moreno, criador do Psicodrama, e Zerka, grande renovadora do Psicodrama, tinham pontos de vista, posturas, atitudes, que não são fáceis de entender e muito menos de atuá-las. Talvez por isto, certamente por isto, fazer Psicodrama e tudo relacionado a ele, não é apenas aprender uma técnica ou várias técnicas. Não é só um saber a ser aprendido. Além, muito além disto, é ter como fundamento a ideia que todos podem ser agentes da própria mudança. É ter como fundamento ser o grupo senhor de seu destino, sendo o condutor/diretor um organizador, um iluminador de cenas, um estimulador de novas aventuras. É ter como fundamento o respeito integral a tudo o que aconteça no e com o grupo. É ter como fundamento ser ele, o condutor, um sensor do clima do grupo, por estar em papel diferenciado, sendo simultaneamente o diretor e membro do grupo. É ter como fundamento ser o aqui e agora o tempo e espaço do Psicodrama, mantendo todo o tempo o protagonista e o grupo nesse aqui e agora, palco da vida. É isto.

sexta-feira, 16 de novembro de 2018

Papel de Diretor/Condutor

Uma das características do Psicodrama/Teatro Espontâneo é tomar a realidade tal qual ela se apresenta. Ou seja, se não se sabe naquele momento que caminhos tomar, por exemplo, é possível compartilhar e dividir com o grupo a criação de caminhos novos. Para isso poder ser feito e acontecer é preciso estar lastreado na filosofia psicodramática que sustenta ser o Diretor/Condutor um membro do grupo em papel diferenciado. Isso significa que seu papel não é congelado, rígido. Ele é funcional: Na maior parte do tempo, no grupo, o papel de Diretor/Condutor pertence àquele que, nominalmente assim se intitula. Mas, se no decorrer da cena, da dramatização, se ele se indiferencia, esse papel pode transitar para outro membro do grupo.

sábado, 10 de novembro de 2018

Erro, acerto, vida

Tenho uma amiga bióloga. E suas conversas sobre Biologia sempre me remete a analogias relacionais. Como Evolução é sua área de atuação, o tema era esse. E veio à tona a ideia de que as mutações, que são erros de transcrição genética, são o motor da Evolução. A Natureza seria monotonamente homogênea sem as mutações. E essa homogeneidade levaria à extinção das espécies, por dificultar ou impedir a adaptação às mudanças e desafios. Ou seja, em a Natureza o erro leva à novas possibilidades. Diversidade. O acerto infinito leva à extinção. Em nossa vida, o erro, o equívoco, o desacerto, a falha, tornaram-se destrutivos, algo a ser evitado a todo custo, temido até não mais poder. Busca-se, a todo custo, a uniformidade, o consenso, a estagnação, enfim. A ideia do Psicodrama, a filosofia que sustenta o Psicodrama, insiste na Espontaneidade e Criatividade. Que são formas e ações de sair daquilo que Moreno chama de Conserva Cultural, a uniformidade. Assim como mutações sucessivas e frequentes são deletérias para a espécie, também sem elas não há como lidar com as mudanças ambientais. Assim também, com a Espontaneidade/Criatividade. Espontaneidade/Criatividade = Diversidade/Adaptação = Evolução.

sexta-feira, 2 de novembro de 2018

Psicodrama e a filosofia de Moreno

"Minha filosofia tem sido mal-entendida e desconsiderada em muitos círculos científicos e religiosos. Isso não me impediu de continuar e desenvolver técnicas provenientes da minha visão de como o mundo deveria ser estabelecido. É curioso o fato de que esses métodos - sociometria, psicodrama, terapia de grupo - criados para implementar uma filosofia fundamental de vida subjacente, têm sido universalmente aceitos, enquanto a filosofia é relegada aos cantos escuros das estantes e bibliotecas ou de todo esquecida."
Esse é um escrito de Moreno. E ele chama a atenção, já àquela época, que descolar o método da sua filosofia fundante é transformar o Psicodrama, em todas as suas formas, em um mero exercício de técnicas de mobilização grupal. As técnicas psicodramáticas são poderosas de per si. Elas, apenas, são nada mais do que isto: técnicas. Mas seu uso embasado na filosofia do Momento, na atitude não-interpretativa, na compreensão da teoria dos papéis, na confiança explícita no grupo, na confiança explícita no poder criativo inerente a cada pessoa, na busca do estímulo à espontaneidade e à criatividade, isto é que faz com que técnicas psicodramáticas possam ser vivenciadas como Psicodrama.

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E assim é.

Experimentar e refletir.  Este blog é um espaço para mostrar ideias sobre o psicodrama, sobre o teatro espontâneo.  Há mais de trinta anos...