terça-feira, 28 de julho de 2020

Conserva cultural

Há cerca de 4 meses abri um canal no Youtube e no Instagram para falar de psiquiatria incluindo uma visão psicoterápica. Psiquiatria em outro Tom e @psiquitriaemoutrotom. Também comecei afazer grupos online, Ou seja, em quatro meses, inclui os meios digitais na minha atividade. Refleti sobre este Blog, que é linguagem escrita, e os canais de Youtube e Instagram, que são linguagens orais. A linguagem oral exige menos esforço, exige mais mais coerência e conteúdo sólidos por não poder ser facilmente corrigidos. A linguagem escrita cobra uma definição de assunto mais imediato, a linguagem oral permite que se construa gradativamente o assunto ou o desvio do assunto inicial. A linguagem escrita dá-me a sensação de ter registrado definitivamente algo, está ali e ali permanecerá. Aquilo que Moreno chamaria de Conserva Cultural. Mas o vídeo gravado também é uma Conserva Cultural, lá está e lá permanecerá. Assim, A conserva Cultural não depende do tipo de linguagem usada, mas sim do registro ou não registro. Mas, mesmo aquilo tornado em conserva, pode ser revitalizado por uma nova perspectiva, uma nova leitura, uma nova percepção, uma nova ação. A Espontaneidade refresca a Conserva.

quarta-feira, 22 de julho de 2020

Aqui e agora

Vendo o documentário sobre os 40 anos do disco Refavela de Gilberto Gil, voltei-me para esse álbum. Nele há uma belíssima música, Aqui e Agora. Nela, há esse verso: o melhor lugar do mundo é aqui e agora. É o melhor e não há outro. Breve, simples e até prosaico. Mas que envolve uma postura existencial radical. Centrar-se no presente. Manter-se no aqui e agora. A experiência de viver só ocorre no presente. Mesmo a lembrança ou a imaginação são vivenciadas no presente. E o Psicodrama coloca o palco psicodramático como o lugar do aqui e agora. Tudo é feito no tempo presente: as ações, as falas. Tudo é presente. O palco psicodramático é o espaço próprio do aqui e agora.

quinta-feira, 16 de julho de 2020

Grupo

"Diferente esse Psicodrama!" (Angélica). Semanalmente nos encontramos online. Semanalmente construímosum grupo para fazeralgo juntos. Semanalmente temos o compartilhamento final em que a sensação de construção coletiva e pertinência grupal está presente. Ontem, pouco antes do horário marcado tive uma ocorrência. Um paciente com ideação suicida que me ligava do interior. Além da situação clínica em si, é uma pessoa marcada pela culpa de tudo ter e nada sentir de bom. Cancelei o evento já que não sabia o tempo que precisaria. "Cancelei o evento". Não é verdade. Se fôra um evento ele poderia ter sido cancelado. Mas, nunca foi um evento. Sempre foi uma construção coletiva. E, após mais de duas horas, quando escrevi ao grupo "Resolvido", imediatamente tive retorno, tive uma ressonância grupal. O grupo sempre esteve ali e estava ali. Aguardando, sustentando, suportando. Esta é a sensação do protagonista. E esta é a sensação do grupo. "Diferente esse Psicodrama". Não foi diferente. Foi um grupo de Psicodrama. Só isto. E basta.

sexta-feira, 3 de julho de 2020

Psicodrama virtual: teatro ou cinema

Realizando atividades psicodramáticas online percebo, no processo e em mim, diferenças da atividade psicodramática realizada presencialmente. A primeira diferença é a sensação de espacialidade, de concretude dada pela presença física. A  segunda diferença é o plano de observação. Em um palco a cena, o protagonista, é observado tridimensionalmente. A cena é apreendida de uma só vez. Na tela, a experiencia é repartida em múltiplas telinhas. Uma fragmentação, um mosaico da cena. A terceira diferença ainda é no plano de visada: na tela é um plano americano, mais parecido com cinema do que com teatro: só se vê a parte superior do corpo. A quarta diferença é a ausência absoluta do toque físico, dependendo exclusivamente da voz, entonação, mensagem, mímica facial e do plano superior do corpo. A quinta diferença é a limitação quase total de movimentação A sexta diferença é a presença de múltiplos palcos, pequenos palcos, não um único que focaliza a atenção da plateia. A sétima é a presença constante e regular do acidental. O acidental passa a fazer  parte inerente à cena, ao aquecimento. Seja esse acidental pela presença de pessoas passantes, de interrupções de internet, de lag, de um tempo, entre a voz e o gesto. Algo muito parecido com teatro espontâneo em rua, em ambiente aberto. Nesse momento, essas observações levam-me a crer que o uso da ferramenta virtual dependerá de uma visão mais cinematográfica do que teatral e  de uma direção mais como teatro espontâneo. Cinema e Teatro Espontâneo.

Postagem em destaque

E assim é.

Experimentar e refletir.  Este blog é um espaço para mostrar ideias sobre o psicodrama, sobre o teatro espontâneo.  Há mais de trinta anos...