Estou agora diante da tela como um diretor/condutor de psicodrama quando ele e o grupo estão "sem assunto". Aí é que se começa a forçar a barra racionalizando o que fazer. As propostas não vêm de forma espontânea e, sim, para a suprir o desconforto do silêncio. Então, o que fazer? Talvez, apenas talvez, eu começasse por um solilóquio (quando expresso alto o que está passando por mim, em sentimentos e pensamentos, sem ponderações). Talvez, apenas talvez, eu dissesse , "estou me sentindo vazio, sem ideias, me sinto pressionado pela obrigação de ser diretor/condutor, fico constrangido em estar paralisado, quanto mais eu forço não aparece nada para fazer". Talvez, apenas talvez, alguém, espontaneamente, iniciasse o seu solilóquio. Talvez a esse sucedesse outro e outro. Mas, talvez, apenas talvez, os membros do grupo ficassem em silêncio. Talvez, apenas talvez, eu convidasse uma ou outra pessoa a fazer o seu solilóquio. E aí, talvez, aquele congelamento, aquela paralisia, se desfizesse, porque já teríamos um que fazer em grupo. Isso mostra que o diretor/condutor também é parte do grupo, também é membro do grupo, apenas deve estar mais diferenciado em seu papel para perceber seu mal-estar. E ter a liberdade (espontaneidade) de abrir-se para o grupo.
quarta-feira, 29 de junho de 2022
quarta-feira, 22 de junho de 2022
Tamanhos relativos
Todo organizador de festa sabe que o tamanho do espaço tem que ser proporcional ao tamanho do público. Um espaço grande para um público estimado pequeno passa a impressão de festa vazia. Um espaço pequeno para o público convidado transmite a ideia de aperto, desconforto. Um trabalho grupal, produzir um trabalho grupal também precisa levar em conta a relação entre espaço e público. Um grupo de cinco pessoas em um salão, grande, tem mais dificuldade para " dominar" o espaço. Vinte pessoas em uma salinha dificulta a movimentação, atrapalha o aquecimento corporal. Mas, isso posto, há que se levar em conta que nem sempre se pode escolher o espaço onde se trabalhará. Portanto, o recurso disponível para o Diretor/Condutor é o reconhecimento do espaço no aquecimento. Movimentar-se por todos os cantos, emitir a voz de todos os lugares possíveis (e impossíveis!), experimentar o mínimo espaço ocupado pelo corpo. Em última análise, o palco, o espaço cênico é o espaço de nosso corpo. Assim, seja pequeno, apertado, grande, espaçoso, o corpo sempre ocupa e cria o seu próprio espaço territorial e cênico.
segunda-feira, 13 de junho de 2022
Desenhos, Malas e Viagens
Há muitos anos li, era criança, em pé-de-página da revista Seleções, esta frase de John Gardner: "Viver é a arte de desenhar sem borracha". O desenho pode ser iniciado com a intenção de um barco, mas aparece uma linha curva e o desenho vai-se tornando uma onda no mar. Vai-se aproveitando cada traço, planejado ou acidental, para um desenho final que faça sentido, ao terminar. O escritor Fernando Sabino contava que o seu avô dizia que "as malas se arrumam no bagageiro durante a viagem." No Psicodrama isto seria denominado de ato espontâneo-criativo. Espontaneidade não é, definitivemente, fazer o que se quer, pura e simplesmente. Espontaneidade é como John Gardner e o avô de Fernando Sabino diziam: É poder estar aberto para o que acontece, é poder mudar de plano A para plano B ou C ou Z. É poder escutar e enxergar a circunstância. Isto, quando acontece, fornece à criatividade um terreno mais amplo de possibilidades. Espontaneidade é uma autopermissão para a criatividade fazer a melhor escolha para aquela cena, momento ou circunstância. Dirigir no Psicodrama é isso.
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