domingo, 21 de janeiro de 2024

O côncavo e o convexo

Escrevo sobre Psicodrama, sempre relacionado com as coisas da vida, no consultório e além consultório. E por que faço isto? Porque, apesar do psicodrama ser mais que centenário, ainda é um ilustre desconhecido para o senso comum. Como entre a palavra psico e a palavra drama parece que a palavra drama chama mais a atenção. Drama, dramático, teatro, teatrinho, banalidade. E psico, remete à psicologia, psicoterapia. Seria um teatrinho em que apenas se representa uma atitude dramática? E olhem que a palavra drama e dramático já tem algo de desqualificante, leviano, no uso cotidiano. Não. O Psicodrama advém do Teatro, mas não é Teatro. Teatro é re(a)presentação de algo escrito ou imaginado, por um autor,e atuado por um ator ou atriz. As técnicas psicodramáticas vêm do fazer teatral, o palco é do Teatro. Mas a peça é a história daquela pessoa ou grupo. O protagonista em uma peça teatral é a personagem central re(a)presentada por um ator. No Psicodrama o protagonista/autor atua sua vida no aqui e agora. O texto é vivido naquele instante. No palco teatral, tal como descrito por Aristóteles, é a plateia que sente o impacto da catarse da história. Não o ator/atriz. Esse sentiu o impacto na leitura, nos ensaios, na criação da personagem. Não na hora da atuação. Naquele momento é a personagem quem atua.. No Psicodrama é o protagonista e o grupo que vivenciam o impacto catártico de sua própria história. As técnicas psicodramáticas são para o protagonista/autor também ser a plateia de si. ver-se em cena. O Psicodrama, fenomenologicamente, põe o protagonista para experimentar os múltiplos papéis em cena. As várias posições de olhar de cada papel com o qual se relaciona. O palco no Psicodrama é experiência de multiplicar miradas e visões, de incorporar, além da sua já existente, outras formas e maneiras de conhecer e experienciar o mundo e suas relações. O drama que cuidamos é o Drama do existir de cada um em seus múltiplos papéis e vínculos. É o dentro e o fora, o subjetivo e o objetivo, o côncavo e o convexo.

sexta-feira, 12 de janeiro de 2024

Além, muito além...

 Além, muito além daquela serra que ainda azula no horizonte...". Por acaso, reli esse trecho inicial de Iracema, obra de José de Alencar. E esse trecho, pequeno trecho, me remeteu ao Psicodrama. Moreno, criador do Psicodrama, e Zerka, grande renovadora do Psicodrama, tinham pontos de vista, posturas, atitudes, que não são fáceis de entender e muito menos de atuá-las. Talvez por isto, certamente por isto, fazer Psicodrama e tudo relacionado a ele, não é apenas aprender uma técnica ou várias técnicas. Não é só um saber a ser aprendido. Além, muito além disto, é ter como fundamento a ideia que todos podem ser agentes da própria mudança. É ter como fundamento ser o grupo senhor de seu destino, sendo o condutor/diretor um organizador, um iluminador de cenas, um estimulador de novas aventuras. É ter como fundamento o respeito integral a tudo o que aconteça no e com o grupo. É ter como fundamento ser ele, o condutor, um sensor do clima do grupo, por estar em papel diferenciado, sendo simultaneamente o diretor e membro do grupo. É ter como fundamento ser o aqui e agora o tempo e espaço do Psicodrama, mantendo todo o tempo o protagonista e o grupo nesse aqui e agora, palco da vida. É isto: Além, muito além das técnicas psicodramáticas que ainda azulam no horizonte.

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E assim é.

Experimentar e refletir.  Este blog é um espaço para mostrar ideias sobre o psicodrama, sobre o teatro espontâneo.  Há mais de trinta anos...