terça-feira, 19 de março de 2024

Pais

 Hoje seria aniversário de meu pai. 112 anos faria. E hoje, aos 70 anos, sinto falta de ter uma pessoa mágica, que tudo resolve, em que confiava plena e totalmente. Hoje pesa estar nesse lugar. Lugar que para outros é mágico, poderoso, solucionador de problemas. Dá para entender, mutatis mutandis, a expressão evangélica que todos tem um lugar para dormir e só o Filho do Homem não tem onde repousar. Em escala, a tarefa dos pais é assim. É o fim da linha, posto da último esperança. E eles não têm onde repousar. A missão torna-se maior que o bem estar pessoal. O outro se torna mais importante do que meu próprio estar bem. É fácil gerar pessoas. Mas, não é fácil ser pais. Transcender-se por amor.

domingo, 10 de março de 2024

Notícia de jornal

 "A dor da gente não sai no jornal". Trecho da música, "Noticia de jornal", de Haroldo Barbosa, também gravada por Chico Buarque (procurem ouvir). Pois é. A dor pode não se revelar à visão dos outros. "Quem vê cara, não vê coração". Ditado popular e verdadeiro. Olhar-se no espelho é uma   mão dupla. Vejo meu reflexo e esse reflexo produz em mim uma reação de similaridade. A Neurociência fala de neurônio espelho.  Algo como "me torno o que vejo em mim". Então, uma imagem especular cuidada pode levar a pessoa que olha a sentir-se algo melhor. E o contrário também é verdadeiro. Ver-se descuidado, semblante triste, reforça a sensação depressiva. E o nosso Psicodrama? Ele tem entre suas técnicas fundamentais o chamado Espelho. E o Espelho usa o palco como se tornasse possível a pessoa ver-se agindo de fora, sendo plateia de si. O Diretor/Condutor, após uma cena determinada, solicita ao protagonista que saia do palco para ver, em seu lugar, um ego Auxiliar reencenando o que aconteceu antes. Ao sair do palco, saindo do mundo do Como Se, indo para a plateia, o protagonista vê-se em ação. Seu gestual, sua expressão facial, seu tom de voz, sua prosódia sua interação. Vê-se, enfim. E para que? Ao contrário da interpretação de uma história contada que traduz o ponto de vista do psicoterapeuta, aqui é a própria pessoa que tem a chance de ver-se e ter uma nova opinião, uma nova dúvida. Muda-se algo na mirada da vida. Inclui-se o ponto de vista observacional e relacional do outro. Não, a dor da gente não sai no jornal. Mas, no palco psicodramático o protagonista tem a possibilidade de perceber isto. Que, como dizia Moreno , a nossa cabeça não é transparente. E por assim ser, a dor transforma a todos em ilhas, isoladas sem relações entre elas. O vínculo é o istmo/ponte que muda a ilha em continente. O palco psicodramático e todas as suas técnicas fundamentais promovem essa construção de pontes vinculares, transformando ilhas em penínsulas.

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E assim é.

Experimentar e refletir.  Este blog é um espaço para mostrar ideias sobre o psicodrama, sobre o teatro espontâneo.  Há mais de trinta anos...