terça-feira, 25 de julho de 2017

Desconstruindo...

Desconstruir está sempre presente em toda atividade Socionômica (Psicodrama, Teatro Espontâneo, Socionomia). O que se desconstrói? A conserva cultural. Dito de outra maneira, aquilo que alguém já se habituou a sentir, pensar ou agir. Seja a dor ou alegria, o conceito ou o preconceito, a fé ou a crença. A intenção de balançar as raízes cristalizadas, de propor o acréscimo de um novo olhar, de um novo pensar, de um novo agir. De somar àquilo que já se conhece ou se pensa conhecer o risco de um "por que não?" O risco da experiencia, do experimentar antes de recusar. Quando Moreno diz que "a segunda vez liberta a primeira" mostra, poeticamente, isso. A possibilidade de experimentar um novo sentir ou pensar ou agir liberta ou abre o caminho para livrar-se do congelamento, da cristalização, da imobilidade das memórias  e das intenções.

quarta-feira, 19 de julho de 2017

Segurança, insegurança

Uma dupla, segurança versus insegurança, em que a escolha parece óbvia. Só parece. O que chamamos de segurança? Damos esse nome à ideia de que estamos corretos, que a escolha é acertada, que sabemos exatamente como fazer, à fixidez, enfim. Chamamos de insegurança à indecisão, hesitação, à mudança de planos, à troca de objetivos, à incerteza. Enfim. Buscamos aflitos a certeza, a inalterabilidade, a imobilidade. Corremos às léguas da incerteza, da mutabilidade, da mobilidade. Até na linguagem comum fazemos essa enorme diferença. Quem troca de posições ou ideias é vira-casaca, traíra. Quem desiste de algo é fraco, fracassado. Quem muda seu querer é volúvel. Tudo é para sempre. Tudo tem que ser previsível. "Procurou, agora aguente!". "Quem pariu Mateus que o embalance!". Tudo linear, tudo irreversível, tudo unidirecional, tudo sempre em frente. "Quem não avança, fracassa!". Então, se pensarmos diferente? Se considerarmos que mais do que a certeza, mais do que a segurança, mais do que a solidez, mais do que a fixidez, buscarmos a flexibilidade, o aprendizado dos planos B, a confiança no método, no conhecimento adquirido, o exercício da redefinição, a reflexão contínua sobre o caminho escolhido, a abertura da possibilidade de deixar de fazer o que se está fazendo sem pensar na palavra fracasso ou desistência. Segurança é irreal no nosso Universo, físico, afetivo e relacional. Diz o mestre Chico Buarque, em Beatriz: "Para sempre é sempre por um triz".

segunda-feira, 17 de julho de 2017

Plateia, público

Plateia e Público não são sinônimos. Plateia, em grego, significa praça., com tudo o que acontece de interação entre pessoas numa praça.. Público é o que é feito diante de outras pessoas, assistência, auditório. Dos dois conceitos,  um, a plateia, pressupõe a interatividade. O outro, o público, pressupõe a mera assistência, a passividade de um auditório diante de um evento qualquer. Plateia = interação. Público = assistência passiva. A alquimia que promove a transformação de um público passivo numa plateia interativa chama-se, em Psicodrama e Teatro Espontâneo, de aquecimento (warming-up, caldeamento). Essa alquimia é fundamental, vital, para a nossa atividade. Do chumbo do público ao ouro da plateia. A dramatização só pode ocorrer, só é possível, numa plateia. Jamais num público. Ao condutor/diretor de Psicodrama e Teatro Espontâneo cabe  ter claro que poupar tempo e investimento no aquecimento gera o fracasso da dramatização. Esse é o coração do Psicodrama/TE.

quarta-feira, 12 de julho de 2017

Reinventando a roda

Já escutei muito essa expressão: "Não vamos reinventar a roda". Se já existe uma saída conhecida por que procurar outra solução? A roda está aí. Esse contínuo e imutável uso de conceitos, desempenhos, instrumentos, obras de arte; essas tantas rodas já inventadas e, portanto, inquestionáveis; a isso tudo Moreno chamou de Conservas Culturais. " A Mona Lisa é o maior quadro do mundo". Pronto. "Viver é sofrer". Pronto. "Quem não trabalha é vagabundo". "Se não parar vou falar com seu pai". Pronto. "Homem não chora". Pronto. "Guimarães Rosa é o maior escritor brasileiro". Pronto. "Isto é coisa de homem, isto é coisa de mulher". Pronto. Uma conserva culinária é conserva porque o conteúdo é conservado, não se alterará. Muito útil e necessário. A conserva cria e mantém a cultura. Mas também traz a imobilidade e inflexibilidade. "O que houve é o mesmo que há de ser". Para a tal inflexibilidade, rigidez, é que o Psicodrama estimula a espontaneidade e criatividade para reinventar a roda. O inalterável pode ser mudado. A conserva precisa existir para haver a rotina de vida, mas em relação ao desempenho de papéis abre o Psicodrama o lampejo do Role-Creating, criação no papel. Podemos criar a nossa forma de atuar o papel, quaisquer que sejam eles. O olhar pode ser descristalizado, desconservado, permitindo uma nova forma de ver. Reinventar a roda. Sem deixar de ser roda, ela também pode ser mesa.

domingo, 9 de julho de 2017

Condutor

Por que condutor, por que não apenas diretor? Conductor, em inglês, é maestro. Condutor em português pode ser o condutor de ônibus, de veículo qualquer. No primeiro sentido, maestro, acentua-se a função de harmonizar instrumentos diferentes, de diferentes sonoridades. De fazê-los produzir algo juntos. Sem perder sua sonoridade essencial usá-la a serviço da obra conjunta. No segundo sentido, motorista, mostra a função diretiva em si, de escolher caminhos, velocidades, pontos de paradas, respeito à sinalizações externas. Em Psicodrama e tudo o que se relaciona com ele, penso ser a palavra Condutor mais completa e menos autoritária do que diretor.

sábado, 8 de julho de 2017

Além, muito além

Além, muito além daquela serra que ainda azula no horizonte...". Por acaso, reli esse trecho inicial de Iracema, obra de José de Alencar. E esse treco, pequeno trecho me remeteu ao Psicodrama. Moreno, criador do Psicodrama, e Zerka, grande renovadora do Psicodrama, tinham pontos de vista, posturas, atitudes, que não são fáceis de entender e muito menos de atuá-las. Talvez por isto, certamente por isto, fazer Psicodrama e tudo relacionado a ele, não é apenas aprender uma técnica ou várias técnicas. Não é só um saber a ser aprendido. Além, muito além disto, é ter como fundamento a ideia que todos podem ser agentes da própria mudança. É ter como fundamento ser o grupo senhor de seu destino, sendo o condutor/diretor um organizador, um iluminador de cenas, um estimulador de novas aventuras. É ter como fundamento o respeito integral a tudo o que aconteça no e com o grupo. É ter como fundamento ser ele, o condutor, um sensor do clima do grupo, por estar em papel diferenciado, sendo simultaneamente o diretor e membro do grupo. É ter como fundamento ser o aqui e agora o tempo e espaço do Psicodrama, mantendo todo o tempo o protagonista e o grupo nesse aqui e agora, palco da vida. É isto: Além muito além das técnicas psicodramáticas que ainda azulam no horizonte.

terça-feira, 4 de julho de 2017

Delicadeza

Conta-se que um antigo governador da Bahia, na década de 40, Octávio Magabeira, ao sair do cargo, recebeu como parabéns pelo seu desempenho essa frase dita por um baiano: "O Senhor governou a Bahia com  delicadeza". Dirigir um grupo em qualquer circunstância (Teatro Espontâneo, Psicodrama, Sociodrama) exige isto do seu condutor: Delicadeza. E delicadeza não é frouxidão ou lerdeza. A delicadeza é o exercício da firmeza com mão leve. Leveza no olhar, ternura no conduzir, amorosidade no acolher, segurança no agir. Isto é dirigir em Psicodrama/Teatro Espontâneo.

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E assim é.

Experimentar e refletir.  Este blog é um espaço para mostrar ideias sobre o psicodrama, sobre o teatro espontâneo.  Há mais de trinta anos...