sábado, 30 de novembro de 2019

A alegria

Estou pensando sobre o epitáfio de Moreno: "Aqui jaz aquele que trouxe alegria à Psiquiatria". Como qualquer expressão, essa pode ser entendida de várias formas. Um forma é ver nela o quanto de bufão tinha Moreno, de histriônico, exagerado. Uma outra forma é de chamar a atenção para a completa e total ignorância desse estado de humor dentro da Psiquiatria/Psicologia/Psicodrama. Não só ignorância, mas também  a total desqualificação da alegria no ambiente psicoterápico. A dor, o sofrimento, a tristeza, esses estados, esses sim, são supervalorizados. A Alegria, nesta área PSI, quando aparece é em seu estado desproporcional e inadequado e patológico, a Mania ou Hipomania. Propriamente falando do e no Psicodrama/TE, tenho a impressão que existe uma busca incessante pelo tema doloroso, pela cena triste, pelo choro, enfim. Eu acho que alguns diretores de Psicodrama (e outros psicoterapeutas) só se sentem validados pela catarse dolorosa e, jamais, pelo riso aberto e espontâneo. Mas, às vezes o chorar pode ser uma conserva psicodramática: Uma forma já estereotipada para lidar com a própria vida. Aí, o viés do riso espontâneo pode ou poderia ser mais libertador do que o choro.
Mas o riso interminável que transcende tanto os fracassos quanto os êxitos preenche a plateia... Seria bom conhecer a origem do riso... Acho que o riso teve início quando Deus viu a si. Foi no sétimo dia da criação que Deus, o Criador, voltou a olhar para os seus últimos seis dias de trabalho – e estourou – gargalhando de si... Esta é também a origem do teatro... sim, enquanto ele ria, rapidamente cresceu um palco sob os seus pés. Ei-lo aqui, embaixo de nós”. Moreno

terça-feira, 19 de novembro de 2019

Não só no palco!

Quaisquer que sejam as situações, clínicas, aulas, conferencia, o que quer que sejam, pode-se pensar em usar a metodologia psicodramática. Não como dramatização em si. Mas pensar na estrutura básica e fundamental do Psicodrama, TE ou Sociodrama. Aquecimento, dramatização, compartilhamento e processamento. Fora das atividades sociátricas específicas, fora do palco psicodramático, essa estrutura pode ser mantida. Visualizemos uma coordenação de uma mesa de temas livres em um congresso. Nada mais diferente do palco clínico. Entretanto, ali temos um agrupamento de pessoas esperando a transformação para um grupo, um diretor (o coordenador da mesa) e protagonistas. Portanto, aquecer o agrupamento de pessoas é grupalizar, prepará-las para o que virá. Cabe ao coordenador fazê-lo, saber quem são as pessoas, os motivos de ali estar, de onde veem. Isto pode ser feito em pouquíssimos minutos. Dirigir os protagonistas na cena, já que apresentar o tema é a própria dramatização. Estar atento ao aquecimento grupal, mostrado no interesse da plateia, cuidar para que o protagonista-apresentador não perca o ritmo e desaqueça-se, desaquecendo a plateia. A transição entre as cenas-apresentações. O compartilhamento seria aqui dar voz ao grupo. E, caso seja necessário, o processamento seria o apanhado final que dê coesão às cenas-apresentações. Podemos transpor para qualquer outra situação grupal e essa estrutura será útil, operacional e enriquecedora.

quarta-feira, 13 de novembro de 2019

Coreografia

Li em algum lugar da obra de Moreno: "O corpo lembra o que a mente esquece". A memória da ação persiste. A coreografia da dança executada continua impressa no corpo. Quando, por meio do aquecimento bem realizado, conseguimos como Diretores de Psicodrama/Teatro Espontâneo, que a ação seja realmente espontânea isto recupera a memória inscrita no corpo. É como se o aquecimento destravasse o controle racional permitindo que as memórias inscritas, a nossa coreografia existencial, pudesse enfim voltar ao palco.

sexta-feira, 8 de novembro de 2019

Papéis e Papéis

Há palavras que usamos e de tanto usá-las acabamos por ir modificando ou alterando o conceito nela embutido. No Psicodrama/TE/Socionomia há a palavra Papel. Papel, em inglês Role, advém do teatro. Era o rolo em que estava impresso, escrito, o texto para cada ator. Então, papel é o conteúdo (texto e ação) de cada personagem em uma cena. Quando Moreno trouxe sua experiência do teatro para sua criação, o Psicodrama, trouxe muita da terminologia teatral. Papel é uma dessas palavras. Mas há aqui algo diferente. O papel desempenhado por uma personagem, numa peça de teatro ou num filme, é fixado no roteiro, no script, no "rolo". Não cabe ao ator alterações em seu desempenho. Tudo já lhe está prescrito. O que sai do estabelecido é dito "caco", uma intervenção pessoal no texto estabelecido. Portanto, no uso habitual papel é algo pré-estabelecido pelo autor do script, roteiro, "rolo". Moreno considerava, e a Socionomia assim pensa, ser o ser humano um ser em relação. Ele, essencialmente, necessita de estabelecer relações com outras pessoas, seres vivos, objetos, ideias, símbolos. O ser humano não apenas necessita, mas só assim se estrutura. As relações, os vínculos que estabelecemos, são o que nos constrói, nos constitui. Para Moreno, para a Socionomia, para o Psicodrama, para o TE, Papel é a nossa forma de atuação quando entro em contato com outra pessoa, objeto ou o que seja, quando estabelecemos relações, vínculos. E esta relação é relacional (redundância aqui necessária). Não pré-existe. É móvel, flutuante, dependendo do desempenho dos dois papéis que se complementam. Papel e papel complementar. Um constrói o outro, um estabelece o outro, um cria o outro. Quando os papéis perdem essa fluidez, essa mobilidade, esta capacidade de adaptação, os papeis se congelam, se cristalizam, e traduzem-se em repetições enfadonhas e destrutivas. Daí o centramento da Socionomia Moreniana na Espontaneidade/Criatividade.

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E assim é.

Experimentar e refletir.  Este blog é um espaço para mostrar ideias sobre o psicodrama, sobre o teatro espontâneo.  Há mais de trinta anos...