segunda-feira, 19 de julho de 2021

Chico César

 "Deus me proteja de mim e da maldade de gente boa, da bondade da pessoa ruim". Chico César nessa letra chama a atenção de uma coisa interessante, para os psicodramatistas, Não há "pessoa boa", não há "pessoa ruim". Há ações boas e ações ruins. Para os psicodramatistas, para Moreno, tudo se realiza pela ação, tudo se verifica na ação, tudo é validado pela ação. Pressupor que tudo que advém de "pessoa boa" necessariamente será bom ou tudo o que vem de "pessoa ruim' será ruim, é pressupor que tudo é imutável, nada nem ninguém se altera ao longo do tempo e das relações. Cada papel, cada relação é uma nova oportunidade de criar no papel, de alterar o modo de agir. Se não fora assim, para que psicoterapia? Tudo já estaria definido para todo o sempre. A visão Moreniana de papel, de papel cristalizado (pessoa boa, pessoa ruim), dá chance de se alterar formas de desempenhar nossos papéis, abre caminho de, com os pés fincados na realidade, abrir-se para mudanças.

quinta-feira, 8 de julho de 2021

Papel

Há uma passagem de Clarice Lispector, em A Hora da Estrela, em que ela escreve: "Todas as manhãs ela deixa seus sonhos na cama, acorda e põe sua roupa de viver". À parte a poesia e a verdade dessa passagem, ela abre, para mim, a possibilidade de tocar num assunto psicodramático. A Teoria dos Papéis Moreniana não é fácil de ser praticada, embora seja fácil, aparentemente, de ser entendida. Para ser compreendida há que se partir do conceito basilar da Socionomia; o ser humano é um ser relacional. Como tal, para ser compreendido o conceito tem-se que pensar, sempre e sempre, de forma relacional. E como as pessoas se relacionam? Por meio de papéis. Toda interação se dá por meio de papéis. Ou seja, o papel é a condensação de fala, conteúdo, afeto, gestual, na interação. Como um papel teatral, os papéis modificam-se à medida que o papel complementar se altera. Com um aluno, sou professor. Com meus filhos, sou pai. Com os amigos sou amigo. Com o chefe, sou subordinado. Com o subordinado, sou chefe. Ou seja, Moreno afirma que diante de nossas relações somos e devemos ser flexíveis. A cristalização do papel seria a grande patologia dos papéis. Ou seja, diante de filhos, amigos, alunos, subordinados, chefes, inimigos, sou SEMPRE,  por exemplo, pai. O foco aqui é no SEMPRE. Todo papel mantido indefinidamente sem se relacionar com o seu complementar, configura um sério problema relacional.

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E assim é.

Experimentar e refletir.  Este blog é um espaço para mostrar ideias sobre o psicodrama, sobre o teatro espontâneo.  Há mais de trinta anos...