quinta-feira, 8 de julho de 2021

Papel

Há uma passagem de Clarice Lispector, em A Hora da Estrela, em que ela escreve: "Todas as manhãs ela deixa seus sonhos na cama, acorda e põe sua roupa de viver". À parte a poesia e a verdade dessa passagem, ela abre, para mim, a possibilidade de tocar num assunto psicodramático. A Teoria dos Papéis Moreniana não é fácil de ser praticada, embora seja fácil, aparentemente, de ser entendida. Para ser compreendida há que se partir do conceito basilar da Socionomia; o ser humano é um ser relacional. Como tal, para ser compreendido o conceito tem-se que pensar, sempre e sempre, de forma relacional. E como as pessoas se relacionam? Por meio de papéis. Toda interação se dá por meio de papéis. Ou seja, o papel é a condensação de fala, conteúdo, afeto, gestual, na interação. Como um papel teatral, os papéis modificam-se à medida que o papel complementar se altera. Com um aluno, sou professor. Com meus filhos, sou pai. Com os amigos sou amigo. Com o chefe, sou subordinado. Com o subordinado, sou chefe. Ou seja, Moreno afirma que diante de nossas relações somos e devemos ser flexíveis. A cristalização do papel seria a grande patologia dos papéis. Ou seja, diante de filhos, amigos, alunos, subordinados, chefes, inimigos, sou SEMPRE,  por exemplo, pai. O foco aqui é no SEMPRE. Todo papel mantido indefinidamente sem se relacionar com o seu complementar, configura um sério problema relacional.

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