terça-feira, 21 de setembro de 2021

vínculo

Em geral quando reflito sobre algo parto sempre da etimologia da palavra. Nenhuma palavra existe à toa. Em algum momento foram criadas para responder a uma necessidade de expressão. Assim, quando  retomo a etimologia de uma palavra é como se eu ultrapassasse o senso comum e fosse mergulhar no clima original que a gerou (em Psicodrama dizemos Status Nascendi). Hoje, em uma sessão psicoterápica, estávamos tratando de relacionamento afetivo. Pedi à pessoa que se imaginasse (era online) dançando sozinha, fazendo os movimentos que lhe dessem na telha. Em seguida, pedi-lhe que segurasse em minha mão e dançássemos. Perguntei-lhe, então, que diferença havia; Ela disse-me que não podia fazer tudo o que queria, já que tinha que levar em conta que estava segurando a minha mão. Aí entrou a etimologia. Vinculo, em latim, em italiano também, é corrente. Vínculo liga, mas limita. Une, mas cria limites de ação. Aí, entrou outra palavra e sua etimologia. O vínculo pressupõe compromisso. E compromisso, ao pé da letra, é promessa mútua. Vínculo, ligação, limite, compromisso. Vínculo, núcleo do Psicodrama.

sexta-feira, 17 de setembro de 2021

belchior e a memória

"João, o tempo andou mexendo com a gente, sim" (Comentário a John). "Eu estou muito cansado do peso da minha cabeça" (Todo sujo de batom). Essas músicas de Belchior têm-me perturbado o juízo ultimamente. E acho que uma tem a ver com a outra. A passagem e a vivência do tempo e das coisas vividas nesse tempo. E tudo preenchendo e enchendo e pesando "na minha cabeça". E o psicodrama? nossa memória não é apenas um arquivo morto, um depósito que se empoeira com o tempo. Ela é viva. Mas pode se tornar amortecida. Fazendo com que histórias, fatos, fiquem congelados. E congelados com o pacote completo: imagens, sons, significados, afetos. Acessar esse depósito poeirento, abrir essa janela acontece nas dramatizações psicodramáticas. O pacote completo ao ser re-presentado pode ser re-significado, re-experimentado, re-dimensionado. E aí, pode acontecer que "o tempo mexendo comigo" não "pese tanto na minha cabeça".





sábado, 11 de setembro de 2021

agrupamento e grupo

O Psicodrama (todas as ferramentas Socionômicas) não é (não são) tão somente um instrumento terapêutico. É um conhecimento e uma vivência para lidar-se com as relações interpessoais, grupais e intergrupais. O conceito de aquecimento (warm-up, caldeamento) é vital para se iniciar qualquer relação. Nada pode ser construído se o terreno não for preparado. Em agricultura e engenharia é algo óbvio. Mas, curiosamente, nas relações humanas não é algo tão óbvio. Há sempre uma pressuposição que  tudo começa comigo. Que tudo depende, sempre, de mim. Pensar-se, conceber a ideia de que o grupo tem uma gestalt própria, que o grupo é muitíssimo mais do que a soma dos componentes, que o grupo é um ente próprio. Com suas idiossincrasias, com suas leis autoimpostas. E grupo não é apenas o grupo terapêutico. Qualquer agrupamento de pessoas pode ser, pelo, aquecimento devido, grupalizado, tornado grupo. Apresentar um TCC, dar uma aula, um casamento, uma reunião de trabalho, qualquer agrupamento. E só e quando um agrupamento torna-se grupo é que é possível trabalhar-se com grupo. Se não, por não estarem aquecidos, por não serem grupo, poderão ser tidos como resistentes, opositores, rebeldes, não-cooperadores. Agrupamento, aquecimento, grupo, dramatização, compartilhamento Essa é a sequencia psicodramática. E esse compartilhamento, momento em que o grupo exibe as repercussões em cada um de seus membros, repercussão afetiva e não cognitiva. o grupo repõe, devolve aos que dramatizaram as vestes afetivas de que se desnudaram  para protagonizar no palco. Agrupamento, aquecimento, grupo, protagonistas, compartilhamento. Sequencia completa dos instrumentos Socionômicos.

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E assim é.

Experimentar e refletir.  Este blog é um espaço para mostrar ideias sobre o psicodrama, sobre o teatro espontâneo.  Há mais de trinta anos...