O ano do calendário está se encerrando. Chegará, enfim, amanhã, o dia número 365. E depois o Dia 1 estará aí. O calendário diz que as coisas terminam e recomeçam. Todo ano há um fim de ano e há um primeiro dia do novo ano. Mas, em nós, parece que vivemos como se a estrada da vida fosse uma linha reta de mão única. Parece-nos que os começos são novidades e os fins são definitivos. Talvez por isso a culpa esteja presente sempre em nós, como se o passado fosse sempre passado, irremediavelmente passado. E o futuro nos chega como sempre oportunidades únicas, irrepetíveis, o tal do cavalo selado que só passa uma vez. "Perdeu, playboy!". E se, realmente, olharmos para as coisas como se houvesse, sempre, a possibilidade, de fazer de forma diferente aquilo que se fez e não deu certo? E se pudéssemos experimentar novos erros, em lugar de imobilizarmo-nos na culpa penitencial? Na filosofia Moreniana que embasa o Psicodrama está sempre o presente, palco do passado e da expectativa do futuro. Mas sempre o presente. Onde, ajudados pela louca da casa, a imaginação, podemos experimentar a re-visão do passado e viver o futuro. E, por fim, sair da imobilidade da culpa e da dor (do passado) e da imobilidade do temor (do futuro). Psicodrama é mais do que exercício de técnicas psicodramáticas. Psicodrama é o exercício contínuo da flexibilidade como instrumento do viver. Que possamos cometer erros novos. Porque repeti-los não é inteligente, e não tê-los é estarmos imóveis e imobilizados na vida.
quinta-feira, 30 de dezembro de 2021
segunda-feira, 27 de dezembro de 2021
Star Wars e a Loja Mágica
Há alguns dias estava assistindo a Império Contra-Ataca, Star Wars. E Yoda, Mestre Jedi, ao ser perguntado por Luke o que encontraria na caverna, responde: "Você encontrará o que você levar com você". Hoje, cedo, li uma provocação de um velho amigo Jorge Augusto (Gina) sobre uma técnica muita conhecida do Psicodrama, a Loja Mágica. Esse jogo dramático é simples. Alguém assume uma loja e todos do grupo podem vir pegar o que quiser e levar. Mas, há uma condição: tem que deixar algo em troca que talvez outro pegue. Se, imaginariamente, pretendo levar "criatividade", preciso escolher o que deixar. Impulsividade, p. ex. Mas, talvez o próximo que viesse buscar paz, escolha a impulsividade deixada pelo outro e explique :"Percebi que preciso é de mais ação, movimentar-me mais, deixar de ficar à espera". Não é certo e errado, não é bom ou ruim. É sobre perceber o que se tem e de que se precisa. É sobre sair do pensar estereotipado. Talvez haja sido o que Mestre Yoda queria fazer Luke perceber: Se não sabemos o que temos e carregamos encontraremos sempre isto pelo caminho. Ao Psicodrama/Teatro Espontâneo cabe a perspectiva do explorar, experimentar dramaticamente, de possibilitar sair dos caminhos antigos e, por isso, conhecidos e repetidos. Falando psicodramaticamente, a forma de sentir, pensar, ver e agir conservadas, tornadas conservas, fixas e imutáveis, podem ser (e são!) atingidas e modificadas pela experiência psicodramática.
quarta-feira, 22 de dezembro de 2021
De Solstícios e Anos Novos
Como a órbita da Terra é elíptica e o globo terrestre ocupa um dos focos da elipse, em dois períodos do ano o dia é mais longo (Solstício de Verão) ou mais curto (Solstício de Inverno). E em dois períodos, os dias e noites têm a mesma duração (Equinócios de Primavera e Outono). Nos tempos antigos esse eram sinalizadores de tempo para os seres humanos. O Equinócio de Primavera marcava o inicio do ano, do plantio. No Hemisfério Norte corresponde a meados de Março. O Solstício de Verão (meados de Junho) no Norte era comemorado com fogueiras. E o Solstício de Inverno (meados de Dezembro), como era a noite mais longa do ano, marcava o fim da trajetória de Inverno e o início da caminhada do Sol em direção à Primavera. Essa data sempre foi considerada no hemisfério Norte como a data de nascimento de grandes guias da humanidade. Krishna, Mitra, e posteriormente, Jesus, por anunciar o retorno à vida depois de inverno rigoroso. Para nós do Hemisfério Sul prece contraditório por termos herdado a cultura do Norte. Mas, independentemente da geografia, o simbolismo permanece. O tempo sempre foi cíclico para a humanidade. Após inverno, o renascimento da primavera. Após gelo e penúria, pode-se esperar o plantio e a abundância. O tempo mítico sempre foi cíclico. Nossa cultura competitiva é que criou o tempo linear, de sucesso ou fracasso, ganhar ou perder, ser o primeiro ou ser derrotado. O fim do ano, o fechamento do ano gregoriano, traz embutido a sensação de nova chance, novos planos, novas oportunidades. "Promessas de ano-novo". Essa possibilidade de fazer de outro jeito, de experimentar outros caminhos, de fechar um ciclo e abrir novos ciclos, de sair do imobilismo trágico, é a filosofia Moreniana do Psicodrama. Que seja um feliz Solstício (Verão ou Inverno) e que seja uma nova Primavera. Que seja um novo ano!
quarta-feira, 15 de dezembro de 2021
Pra você
Em 1970 o cantor e compositor Silvio Cesar (os mais antigos lembrarão!) lançou a música Pra Você, sucesso estourado à época. No final há esse verso: "Ah, se eu fosse você, eu voltava pra mim". Solução poética maravilhosa. E, psicodramaticamente, também. O conceito de Inversão de Papéis, não só uma das três técnicas fundamentais do Psicodrama, como é, também, o grande objetivo relacional da Socionomia. .A possibilidade de inverter os papéis numa relação permite que os dois envolvidos acrescentem a visão de mundo do outro à sua própria. Quanto mais inversões de papéis aconteçam nos vínculos, mais eles se tornam estáveis. Menos monólogos alternados e mais diálogos reais. No verso de Sílvio César, imaginemos a cena em um palco psicodramático: o casal, o par, e um diz: "eu quero voltar para você". Invertem os papéis. Aquele que escutou a frase é quem a diz agora:: "eu quero voltar pra você". Aquele que o diz agora, ao retornar a seu papel original, tem a chance de perceber, "de dentro", como o outro se sente. Não apenas o que diz, mas como sente. Isto significa que haverá "happy end"? Não. Significa que os dois podem decidir com base na experiência do outro, acrescida à sua. Silvio César, os poetas, a arte, os artistas, como sempre, chegam primeiro e mais esteticamente bem resolvidos, aos conceitos relacionais que nós, profissionais da área penamos em descobrir.
sexta-feira, 10 de dezembro de 2021
prurido na língua
Talvez a maior dificuldade para um psicodramatista é deixar de ter a postura e expectativa interpretativa. Essa é natural do ser humano. Perguntar "Por Que?" Pressupor o Por Que?. É quase algo instintivo, responder-se a qualquer comentário de alguém com um "por que vc fez?", por ex. A mudança que o Psicodrama cobra inicia-se no próprio psicodramatista. Aprender a ver, enxergar e propor uma cena em que o protagonista, por ele mesmo, veja e enxergue e conclua o que puder concluir. Abster-se do prurido na língua de dizer algo inteligente, mas que é sua conclusão, sua interpretação, seu ponto de vista. E não de quem, essencialmente, será o próprio agente de sua mudança: o Protagonista.
terça-feira, 7 de dezembro de 2021
engrenagens e vínculos
sexta-feira, 3 de dezembro de 2021
Duplo, dublagem
Postagem em destaque
E assim é.
Experimentar e refletir. Este blog é um espaço para mostrar ideias sobre o psicodrama, sobre o teatro espontâneo. Há mais de trinta anos...
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