sexta-feira, 3 de dezembro de 2021

Duplo, dublagem

Dirigindo um encontro de Psicodrama/Teatro Espontâneo, em um momento precisei intervir com um Duplo (Dublagem). Algumas pessoas que não conheciam o Psicodrama perguntara, ao fim, o que era aquilo. Explicar a técnica de Duplo ou Dublagem não é muito fácil. Usar essa técnica é ainda mais difícil do que explicá-la. Vamos lá. Imaginemos uma cena. Alguém faz uma pergunta ao protagonista. Esse emudece, dando mostras fisionômicas de angustia. O Diretor pede a  um dos ego-auxiliares para fazer um Duplo. O Ego-Auxiliar aproxima-se do protagonista, assume sua postura e diz algo. O que é esse algo? Aí é o difícil de explicar e fazer. Não é uma interpretação, não é uma ajuda, não é o que o Ego-Auxiliar acha que deve dizer, não é a interpretação do Diretor. Então, o que é? Vamos a outro conceito. Outro conceito difícil. Co-Inconsciente grupal. Não é Inconsciente Coletivo Junguiano, Moreno nunca precisou esse conceito, nunca o definiu claramente. Mas, no exercício do psicodrama percebe-se o fenômeno. Quando o agrupamento de pessoas reunidas transforma-se em um grupo pelo aquecimento inespecífico, esse grupo construído funciona como um individuo. cada um dos membros do grupo é parte e parcela do grupo. Portanto, o que perpassa o grupo, perpassa cada  um dos presentes. Então, quando o Diretor pede a um Ego-Auxiliara um duplo do Protagonista, ao fazê-lo ele estará emitindo algo que pertence ao Protagonista. Não pertence ao membro que faz o papel de Ego-Auxiliar. Não é uma escolha racional, pensada. Ao se colocar na mesma posição, estando aquecido para o papel, ele "abre a voz e o tempo canta" (Chico Buarque). Neste caso, em vez do tempo, quem fala é o grupo. Por isso, a Palavra Dublagem seja uma tradução mais compreensível para "Double". O Ego-Auxiliar coloca outro texto na boca do protagonista, e esse texto advém de do Co-Inconsciente grupal. Parece mágica, mas é a resultante da coesão grupal.

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