terça-feira, 15 de março de 2022

Chico e Nelson

 A leitura de um texto me estimulou a reler a peça de Nelson Rodrigues , de 1957, "Perdoa-me por me traíres". E, ato contínuo, pensei na versão cinematográfica de 1980, que tem a música de Chico Buarque "Mil perdões", na qual ele termina  dizendo: "Eu te perdoo por te trair". O título da peça de Nelson é dito pela personagem que se supõe traída. O verso da canção de Chico é dito pela personagem que trai, Saindo da peça e do filme, fiquemos apenas com o verso da música e o título da peça, "Eu te perdoo por te trair" e "Perdoa-me por me traíres". Se montarmos como um diálogo, seria:

- Suposto traído -  Perdoa-me por me traíres! (suplicando e culpabilizando-se) 

- Suposta traidora - Eu te perdoo por te trair! (enfaticamente condescendente e culpabilizante)

O que seria o esperado seria o traído poder ser clemente do alto de sua condição de vítima e a personagem traidora pedir perdão e humilhar-se. Mas a genialidade de Chico e Nelson iluminam, psicodramaticamente, os diálogos ocultos e subentendidos. Explicitam, desvelam. Em cena psicodramática talvez esse diálogo desvelador estivesse na boca dos Egos Auxiliares que, em Psicodrama, podem fazer esse contraponto que chamamos de Duplo ou Dublagem.

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