sexta-feira, 29 de abril de 2022

situação ideal?

 Esperar a situação ideal é ilusório. O método Psicodramático ou Socionômico pressupõe que tomemos a realidade tal como ela se apresenta. O Diretor/Condutor não carrega o grupo, não é o responsável solitário pelas decisões e escolhas; cabe ao Diretor/Condutor, seguindo o método Socionômico, ter sempre em mente que ele é membro do grupo, em papel diferenciado; trazer para o grupo os problemas e dificuldades porque ao grupo cabe encontrar a forma melhor e adequada de lidar com estes percalços. Enfim, o método Socionômico é a nossa ferramenta para lidar com as dificuldades operacionais. Há que se viver o método, tornando-o parte inerente do exercício de todos, todos mesmos, instantes da atividade grupal. Ou seja, dificuldades e problemas podem ser aquecimento para a próxima cena. Limitar-se ou desesperar-se por acidentes, esvaziamento do interesse, desaquecimento, é, com certeza, levar uma situação grupal difícil a uma situação grupal impossível. Isto faz parte das funções do Diretor/Condutor: estar atento ao ritmo, ao aquecimento, ao interesse grupal, a si mesmo, enfim.

terça-feira, 19 de abril de 2022

Rir de, Rir com

Conversando com uma psicodramatista (Penha) sobre um post dela, escrevi essa frase: rir com não é rir de. Escrevi, porque é o meu jeito de pensar. Mas, também fiquei refletindo. Quando as pessoas estão em um agrupamento há sempre quem diga "não  gosto de me expor, vou só observar". Expor-se é sentir-se no centro das atenções, ficar na berlinda. Depois do aquecimento inespecífico em que o então agrupamento torna-se grupo, acontecem jogos dramáticos, dramatizações, catarses, e, ao fim, quando compartilhamos os, já agora, membros do grupo, sentem-se exatamente isso: partes de um todo grupal. E, ao se perguntar, qual a diferença desse momento  para o inicial, aquelas pessoas que haviam externado o medo de se expor e, entretanto, foram protagonistas das ações dramáticas, dizem, "agora foi diferente,  eu nem me percebi exposto". O que aconteceu? Mágica: não. Para haver exposição ou sentimento de estar exposto é necessário que haja um que olha e um que é olhado, um de fora olhando e um de dentro sendo olhado. Ao se promover o aquecimento, ao se grupalizar, ao se transformar um agrupamento em um grupo, deixa de haver a dicotomia eu e o outro. Jamais será "rir de". Será sempre rir com, chorar com, ter raiva com, ter carinho com. O Grupo é Nós.

segunda-feira, 11 de abril de 2022

Deborah, Psiquatria, Psicodrama

 Chegando, devagar, aos 70 anos, tive a minha maior experiência estética-mística-afetiva-filosófica-psiquiátrica-psicodramática. Assisti, pela segunda vez (na estreia e agora) ao espetáculo de Débora Colker - A Cura. Como dizia Moreno - A segunda vez liberta a primeira - esta segunda vez me pegou além da magnífica experiência estética da primeira. Dessa vez a expressão hebraica Hineni - Eu estou aqui - foi a chave que abriu meu portal pessoal. Na criação de Débora trata-se da relação do ser humano com a sua dor. Mas, isso me levou além, muito além do horizonte. Na Psiquiatria, no Psicodrama, todo o tempo nos encontramos diante da relação do ser humano com sua vivencia temporal. O existir é no presente, o presente é. Sem mais. Entretanto, a pessoa tem memória, que nos liga ao passado e o cria. E tem imaginação, que nos liga ao futuro e o cria. E a memória constrói sua versão dolorosa, a culpa. E a imaginação constrói sua versão ameaçadora, a angústia. Ao viver pendulando entre a culpa e a angústia, entre o passado que devia ou podia ter acontecido, e o futuro, que nos ameaça de acontecer, o ser humano sai de seu presente, onde realmente existe. No Psicodrama, Moreno e Zerka sempre insistiam para todos as dramatizações acontecerem no tempo presente, não contadas no passado ou no futuro. Não como isto aconteceu ou acontecerá. Mas, como "está acontecendo". Ancorando a pessoa no seu presente. E é no presente, na experiência imediata, que é possível criar uma nova relação com a dor. Daí o Hineni. "Eu estou aqui" é uma vivência profunda de iluminação, potência e criação. Obrigado, Débora Colker (E a todas as pessoas que criaram e executaram uma obra de arte coletiva).

quarta-feira, 6 de abril de 2022

Poetas e diretores de Psicodrama

 Chico Buarque em sua música Choro Bandido diz, à certa altura: "o poetas como os cegos sabem ver na escuridão. O poeta Thiago de Mello diz: "Faz escuro, mas eu canto". E isso nos ajuda em que no Psicodrama? Talvez em lembrar, sempre e sempre, que a condução de um grupo exige algo mais além que o conhecimento teórico. Exige algo da alma do poeta, da sensibilidade de perceber além do imediatamente iluminado, de, mesmo se tudo estiver escuro ou nebuloso, é possível se continuar. Mas esse continuar não é carregar o grupo nas costas. É usar sua sensibilidade poética em perceber além, para, junto com o grupo, escolher os caminhos.

Postagem em destaque

E assim é.

Experimentar e refletir.  Este blog é um espaço para mostrar ideias sobre o psicodrama, sobre o teatro espontâneo.  Há mais de trinta anos...