domingo, 29 de outubro de 2023

Surpresas

Conversando com alguns, bem mais jovens, médicos, escutei, surpreso de forma agradável, algumas observações: "Eu converso com meu paciente e isso  a consulta ficar melhor"; "acho que é mais importante dizer que ele não tem gravidade do que dizer que ele não tem nada"; "Acho que a gente não entende de saúde, a gente aprende doença". O que um médico psiquiatra psicodramatista contribui nessa conversa? Eu disse: "acho que vcs estão falando de CLÌNICA". A palavra clínica vem do Grego Klinikós que significa Leito. Ou seja o Clínico está junto com o paciente,  na intimidade do leito (real ou figurado) do paciente. O grande clínico e pensador da Medicina, William Osler disse: "O bom médico trata as doenças, mas o grande médico trata o paciente”. Tratar o paciente é estabelecer um vínculo entre o profissional e o paciente, não entre, apenas, o profissional e a doença. E é aí que o nosso Moreno, criador do Psicodrama, aparece com sua insistência em ser o ser humano um ser relacional. O médico medieval Avicena disse: "A imaginação é a metade da doença; a tranquilidade é a metade do remédio; e a paciência é o começo da cura". Reconhecer o ser humano que TEM a doença, mas não É a doença, é a essência do exercício dessa atividade profissional tão humana e tão antiga. Bem a atitude psicodramática. Mesmo não sendo Psicodrama, é Psicodrama.


terça-feira, 17 de outubro de 2023

Ah, a criação espontânea!

 Numa manhã de domingo ensolarado, estávamos, eu e o pessoal da Matriz Criativa (CE), conversando e trabalhando sobre Teatro Espontâneo. Já é o nosso segundo encontro online. nesse dia nos dedicamos a perceber e criar o senso de história: início, desenrolar, desfecho. Ritmo, estética.  Em uma das vezes após experimentarmos várias vezes, uma participante inicia com um grito "Fora!", a participante seguinte emenda com "Dentro!", a próxima disse, em tom de voz algo conciliador: "Dentro, Fora". E o último encerra com tom enfático e definitivo: "dentro, fora, o que importa?". Interrompo e faço uma observação: "Vcs perceberam que dramatizaram a Fita de Moebius (Uma fita torcida uma vez, em que o lado externo se torna lado interno ao ser continuado? ? "Imaginem se, em vez de criarem espontaneamente, eu lhes houvesse pedido para "Dramatizem a fita de Moebius!"? Belo exemplo de criação coletiva que faz brotar do caos amorfo inicial um cosmo de criação que pode ser lida e sentida de múltiplas formas. Um sketch espontâneo com resultado filosófico.

quarta-feira, 11 de outubro de 2023

O artista e o diretor

 Assistia a uma entrevista do grande pianista, já falecido, Arthur Rubinstein, em que lhe é perguntado o que ele achava de ser considerado o melhor pianista do mundo. Diz ele: "Fico muito aborrecido. Em Arte não há como se dizer o maior ou melhor. Cada artista pode ser diferente".  De fato, afora os esportes e outras situações em que claramente um ganha e outro perde, só se pode ser diferente. Assim é na direção de um ato psicodramático. Como uma obra artística, o dirigir não pode ser julgado em termos de melhor ou pior. mas, sim, de que forma aquele que dirigiu usou as ferramentas à sua disposição e o olhar psicodramático para atingir o objetivo. Em Psicodrama, em toda direção de ações socionômicas há estilo, há ritmo, há estética. Isso é que faz a diferença entre os vários Diretores. A atenção para o ritmo, aquecimento, estética da cena pode fazer daquele ato de uma intervenção terapêutica a uma obra de arte cênica.

segunda-feira, 2 de outubro de 2023

A ponte e o vínculo

Congresso de Psicodrama. Florianópolis. Ponte Hercílio Luz. Ponte. Pontes. Ligação de ilha ao continente.  Vínculo. Ligação entre papéis. Tema do Congresso. Atividade pública no parque. "Quando o muro separa, uma ponte une". Dia chuvoso. Toldo grande, cadeiras. Espaço. Primeira ponte se fez entre eu e a Música. Segunda ponte entre eu e o músico (Blévio e Regina). Pessoas chegando. Sentando. Esperando. A Música inicia-se e vai-se construindo com a sensibilidade de Diretor de Psicodrama do nosso casal. As pessoas são convidadas a sentir as músicas, sentir o corpo e deixar o corpo dançar. Camila. O aquecimento vai-se fazendo sem palavras. Só música, letras, voz e violão. Mercedes Sosa, Caetano, Ceumar, Lenine. Todos, enfim, no presente e aqui. Dispostos e disponíveis.  Duas histórias. De pontes rompidas e muros construídos e impenetráveis. Pessoas passeando no parque. parando para escutar as músicas e ficando pelo que estava rolando. Uma nova história, de uma dessas pessoas. Um novo olhar. Uma nova ponte. O final intenso. O compartilhamento inicia-se por outro passante que tornou-se ficante. Diz ele;" Foi comovente e verdadeiro". Bela definição de um ato psicodramático. Atingiu e comoveu. Mas foi visto não como representação tão somente, mas como uma dramatização vivida no como se. Toda a potência de um palco e de um método. Obrigado Blévio, Regina, Camila, Ademar, Mari e Mari. Obrigado a Moysés. As pontes podem, sim, ser construídas.

Postagem em destaque

E assim é.

Experimentar e refletir.  Este blog é um espaço para mostrar ideias sobre o psicodrama, sobre o teatro espontâneo.  Há mais de trinta anos...