quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

O canastrão e o ator

"Os papéis são a parte tangível do Eu", Moreno escreveu. Tangível é o que toca. Tangente, em Geometria, é a reta que toca a circunferência em um único ponto. E o que Moreno disse? Que os os outros só nos tocam atuando dentro de papéis. Que só podemos conhecer o outro por meio dos papéis que ele exerce. E os papéis têm seu roteiro, fala, guarda-roupa, gestual. Como os papéis teatrais. Mas, Cuidado! No uso habitual representar um papel soa como falsidade, mistificação, falta de autenticidade. NÃO é isto para a Socionomia, Psicodrama, Sociodrama, Teatro Espontâneo.Ao estabelecermos relação com uma outra pessoa ou objeto o fazemos dentro de uma perspectiva, dentro de um papel. Ele assume conteúdos e formas, desse papel. Só que esse papel é, sempre e sempre, criado e atuado junto ao seu papel complementar. Um existe em função do outro. Eles se criam simultaneamente, complementarmente. Um pai surge quando há um filho e vice versa. Professor e aluno. Quando se leva a atuação do papel além da relação complementar, quando ele permanece no palco quando sua atuação já acabou, quando se mantem o desempenho de um papel sem se levar em conta o seu complementar, temos a cristalização do papel. O indivíduo atua o mesmo papel em todas as suas relações. Tal como o canastrão no palco. O bom ator entra e sai dos seus papéis a depender da peça e com quem contracena. O canastrão faz eternamente seu mesmo papel. Comédia ou drama, aventura ou romance, suspense ou fábula, pornô ou místico. O canastrão cristaliza-se em um único desempenho. Assim o indivíduo comum quando petrifica seu desempenho. Um dos objetivos do Psicodrama e do Teatro Espontâneo é ajudar a descristalizar, fluidificar a atuação congelada e pétrea. Permitir que a relação entre papéis complementares esteja assentada  no presente, flexível, fluida, ritmicamente harmônica. 

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