quarta-feira, 6 de junho de 2018

Psicodrama, Fernando Pessoa

Em um apontamento de Fernando Pessoa, por ele atribuído a Ricardo Reis, ele diz que Poesia não é um derramamento de emoção mas sim a emoção submetida à disciplina do ritmo e da métrica. Em outro poema - Isto – ele diz: “Dizem que finjo e minto tudo o que escrevo. Não. Eu simplesmente sinto com a imaginação. Não uso o coração”. Não vejo melhor definição de Teatro Espontâneo. O protagonista sente com a imaginação e tem sua emoção sob a disciplina do ritmo e da estética. Este é o antídoto do espontaneísmo e da impulsividade histriônica.  .Em “Autopsicografia” diz Pessoa: O poeta é um fingidor. Finge tão completamente que chega a fingir que é dor a dor que deveras sente. E os que leem o que escreve, na dor lida sentem bem. “Não as duas que ele teve, mas só a que eles não têm.” O protagonista finge a dor que tem e estas são as suas duas dores: a sentida e a dramatizada. Os participantes, quando não aquecidos, não envolvidos, sentem apenas a que eles não tem. Em Medicina, quando se fala de alergia, há o conceito de Atopia: pessoas que, diante de estímulos comuns, de intensidade pequena, reagem de forma brusca e excessiva. O olhar poético é o olhar “atópico”. O poeta reage de forma marcante e profunda diante de estímulos banais ou simples ou comuns. Diante do grave, do pesado, todos reagem, mas diante do já visto e não enxergado, só o poeta. Mário Quintana diz: “O poeta não lê poesia. O poeta lê os classificados”.

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Experimentar e refletir.  Este blog é um espaço para mostrar ideias sobre o psicodrama, sobre o teatro espontâneo.  Há mais de trinta anos...