Muito
frequentemente precisamos usar algumas palavras para referirmos-nos ao
que acontece no palco psicodramático. Dizemos, então, dramatização
ou encenação. Mais raramente e, sempre, com cuidado, a palavra
representação. Dramatizar, encenar, representar ou mesmo
teatralizar, são sinônimos, caso estejamos nos referindo a teatro.
Porém, a palavra dramatizar traz em si a raiz Drama que na linguagem
coloquial relaciona-se a exagero. Assim, além dos sinônimos
teatrais, há também, outros sinônimos, como exagerar, tornar
melodramático, fingir.
Agora
vamos ver do ponto de vista psicodramático. Apesar de Moreno não
ter o inglês como língua-mãe, ele conhecia o Inglês. Quando nos
seus inícios de teatro terapêutico, em seu livro Teatro da
Espontaneidade, ele quer se referir ao que acontece no teatro
espontâneo ele cria um neologismo em Inglês. ACTING OUT.
Investiguemos um pouco. To Act traduz-se simplesmente por
representar, atuar. É o que o ator faz: The actor acts. O ator atua.
Moreno queria algo mais. Ele queria uma palavra além da mera
atuação, repetição de texto já pronto. Ele queria, por oposição,
uma palavra que significasse “vivencia expressiva” (palavras de
Moreno). “Um agir do interior para o exterior”, um ex-pressar por
meio de ação. A ação vista como forma de comunicação. Esse
neologismo ganhou, entretanto, conotação pejorativa no jargão
psicanalítico como um agir impulsivo, uma passagem ao ato. Isto tem
uma profunda diferença na maneira de lidar com o ato espontâneo.
Mas Moreno coloca um limitador à possível impulsividade presente no
Acting-out. E aí percebemos porque o palco psicodramático é um dos
instrumentos capitais do fazer psicodramático. Não o palco
necessariamente como um tablado, fisicamente real. Mas, o palco como
espaço claramente delimitado de separação entre a realidade e
fantasia. Só esta nítida delimitação, até aqui é real, a partir
daqui imaginação, pode fazer o Espelho funcionar como recurso. Ao
usarmos o Espelho, usamos a regra do jogo fantasia/realidade; em pleno
momento intenso convidamos o protagonista a sair de cena e se ver em
cena. E de onde ele olha? Ele olha de fora do palco, do seu real para
a sua fantasia. E, dentro do palco, ação advém de dentro,
espontaneamente, mas não impulsivamente. Porque ela necessita se
adequar ao projeto cênico em curso. O nosso ACTING OUT é um atuar
de dentro para fora, expressar o interno, o privado, o subjetivo, mas
dentro da regra do palco, sujeito à adequação criativa em relação
a cena.
Este,
com certeza, foi o pulo do gato para Moreno intuir a potência
terapêutica da expressão cênica. Por isto, dramatizar, atuar,
encenar, soa algo empobrecido comparando com o seu profundo
significado psicológico e terapêutico. Talvez, em falta de outra
palavra, o melhor seja utilizar psicodramatizar, psicodramatização
para acentuar esta profunda diferença.
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