segunda-feira, 31 de dezembro de 2018

ano e erros novos

Penso que uma virada de ano, uma mudança de data, pode ser apenas uma coisa cronológica, uma virada de calendário. Mas também pode ser um ritual pessoal de dar sentido à própria vida. As coisas serão ou não banais de acordo com o significado que agreguemos a elas. Então, nesse Ano Novo cronológico desejo a todos que cometam erros novos. Porque repeti-los é nada ter aprendido com a experiência. Não tê-los representa uma completa imobilidade na vida.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

Esperar, expectar

Esperar, ter esperança, expectar, ter expectativa. Embora palavras de etimologia próxima, talvez possamos brincar um pouco com elas. Iniciemos por expectar. Parece-me que expectar é a espera de forma ansiosa. Expectar é formular  uma imagem e aguardar que ela se concretize. Esperar, ter esperança, é abrir-se para o novo, deixar-se surpreender pelo inesperado. A expectativa pode ser frustrante. O futuro ao chegar pode não corresponder à imagem criada, à expectativa criada. Ter esperança, esperar, apenas esperar, sem imagens antecipadas, é como a criança que absorve o mundo como ele se apresenta. O adulto, expecta. A criança espera. A angústia do adulto está na expectativa da chegada do imaginado. A alegria da criança está em receber,  é alegria do que simplesmente virá. Com essa visão poética podemos pensar o Psicodrama/Teatro Espontâneo com o olhar da espera pueril, de aguardar o que virá sem preconcepções. Tomar o que vem não pelo que não foi, mas pelo que é. E isso, não tão poeticamente, é a atitude fenomenológica: Não expectar e frustrar-se, mas esperar e ver.

Uma criança é inocência e esquecimento, um novo começo, um jogo, um moto-contínuo, um primeiro movimento, um “sim” sagrado. Para o jogo da criação um “sim” sagrado é necessário”. Nietzche

"Não deixe que a próxima vez saiba demais sobre as vezes anteriores"  Moreno

terça-feira, 25 de dezembro de 2018

Natal e Psicodrama

  A origem do Natal está nas comemorações do Solstício de Inverno no Hemisfério Norte. Solstícios são os pontos da trajetória terrestre em que os hemisférios estão mais próximos (verão) ou mais distantes (inverno) do Sol. Assim, para as tradições místicas do Hemisfério Norte, esse período era quando, em seu hemisfério, Dezembro, a inclinação da Terra em relação ao Sol, voltava a se aproximar, quando o Inverno anunciava o seu fim, quando as esperanças de um novo plantio, de um degelo, surgiam, respondendo à expectativa da espera. Nas tradições místicas isso era o símbolo da renovação, do anúncio de um novo tempo. Avatares e deuses eram comemorados nesse dia. Krishina, Mitra, por exemplo. Por isto a tradição cristã aproveitou-se desse simbolismo. E isso que tem a ver com o nosso Psicodrama/Teatro Espontâneo? Nada. E tudo. Moreno, o criador do Método Socionômico (Psicodrama, Teatro Espontâneo, Sociodrama) era um judeu imbuído das tradições judaicas, principalmente da filosofia hassídica. E esse Hassidismo tinha por base a renovação, a fé na transformação, a esperança de um recomeço. Socionomia, Sociodrama, Psicodrama Morenianos são sempre fundados nessa atitude de mudança, transformação, um novo olhar, uma nova chance, um outro começo.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2018

Paulinho da Viola, Chico.

Achei bom repetir.

Ouvindo um samba antigo de Paulinho da Viola, Dança da Solidão:

"Solidão é a lava que cobre tudo
Amargura em minha boca
sorri seus dentes de chumbo
Solidão palavra cavada no coração
Resignado e mudo
No compasso da desilusão

Desilusão, desilusão
Danço eu, dança você 
Na dança da solidão"

Muitas imagens me ocorrem. Mas há uma especial. Desilusão e solidão. Des-ilusão. O desfazimento de uma ilusão. Havia uma ilusão reconhecida, mas não assumida. O desvelar a ilusão é sentido e expresso como desilusão. E seguindo o poeta Paulinho da Viola, esse desvelar revela a solidão oculta, embora existente. A ilusão é que seria a forma de velar, esconder a solidão. Solidão, ilusão, desilusão, solidão. E a roda gira e gira, sem parar. E  solidão é diferente de estar só. O estar só é espacial. O sentir-se só, a solidão, é relacional, é a ausência ou fragilidade dos vínculos. Como diz Chico Buarque: “Os poetas, como os cegos, sabem ver na escuridão.”

quinta-feira, 6 de dezembro de 2018

etimologia mais uma vez

Conversava com um cliente que é diretor de teatro. E enquanto conversava sobre o quanto ele não suporta a hipocrisia fiquei pensando com os meus botões. A palavra hipócrita designava na antiga Grécia os atores de Teatro. Hipocrinein é fingimento, hipócrités é aquele que finge, o ator. Com o passar do tempo a palavra hipócrita passou a se referir àquele que finge sem ser ator. Essa delimitação que no dia a dia fazemos, o palco é onde a realidade inventada, imaginada pode ser vista como realidade. mas para queles que atuam na vida fingindo uma personagem que não são, fora de um palco, os designamos de hipócritas.A verdade dramática, a verdade poética, a verdade psicodramática, é reconhecida porque há um palco físico ou suposto, há um contrato tácito que do palco para dentro é verdade dramática, do palco para fora é verdade do real compartilhado. Mas quando nas relações humanas não há esse contrato estabelecido, não há o palco suposto, ficamos diante de atores (hipócritas) fazendo uma personagem, fingindo uma personagem, às escondidas, veladamente.E os tomamos como seres reais. E não é para noooossa alegria.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

Amélie, Zen

No maravilhoso e meu preferido filme "O destino de Amélie Poulain" há essa frase: "O tolo olha o dedo que está apontando para o céu". Há uma expressão Zen, secular, que diz: "Quando o dedo aponta para a Lua, cuidado para não confundir o dedo com a Lua". A mesma coisa. Ambas referem-se a não se confundir o instrumento da busca com o objetivo da busca. Qualquer método, procedimento, técnica, nada mais são que dedos apontando para a Lua (ou o céu). Em Psicodrama (Teatro Espontâneo) há um método, há técnicas. Mas todos, tudo isso, estão a serviço da Criatividade. A meta do Psicodrama (TE) é concretizar o subjetivo, é possibilitar que a cena possua sua potência transformadora, é apropriar subjetivamente a cena e novamente devolvê-la ao grupo. Quando o método, a técnica, passam à frente do objetivo do Psicodrama (Teatro Espontâneo), surge a direção cristalizada, burocrática, preocupada em seguir o passo a passo, preocupada em fazer o correto. Conservas. Psicodrama (TE) é vida e , como tal, é o oposto, o inverso, da automatização.

Postagem em destaque

E assim é.

Experimentar e refletir.  Este blog é um espaço para mostrar ideias sobre o psicodrama, sobre o teatro espontâneo.  Há mais de trinta anos...