quinta-feira, 18 de julho de 2019

Hércules?

Uma vez, há muito tempo, ouvi em um painel um psicodramista dizer esta frase: "Dirigir um grupo é uma tarefa hercúlea!". Estava nos passos iniciais do Psicodrama e isto me chocou. Hercúleo remete à Hércules, aos Doze trabalhos de Hércules. Será a direção psicodramática o Décimo Terceiro trabalho de Hércules? Como estava nos meus começos do papel de Psicodramatista não tinha clareza para entender o meu incômodo. Com o tempo, participando de grupos dirigidos por pessoas diferentes, em múltiplos lugares, fui clareando meu antigo e ainda presente incômodo. Realmente. Há Diretores Psicodramáticos que fazem da Direção uma tarefa pesada, difícil, hercúlea mesmo. E há outros diretores em que no seu dirigir sentimos e vemos fluidez, leveza, delicadeza. Nada hercúleo. Talvez afrodítico (terrível, eu sei!). E o que faz essa diferença? Não é a formação em A ou B, não é a influência de Bermudez ou Moreno. Após mais de trinta anos nesse palco psicodramático penso que achei uma luz. Os diretores que transformam o ato de dirigir um grupo em uma tarefa pesada, hercúlea, literalmente consideram que o grupo depende deles, eles carregam o grupo em suas costas. Pesado, hercúleo, duro. Os diretores que compreendem ser a direção de um grupo algo que não inclui carregá-lo, mas compartilhar, direcionar, consultar, perceber-se num papel diferenciado de membro do grupo ao tempo em que é diretor. Esses diretores transmitem uma leveza, uma fluidez e delicadeza que não é de Hércules, mas de Baco ou Afrodite.

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