Nenhum sonho se pode contar. Seria preciso uma língua sonhada para que o devaneio fosse transmissível. Não há essa ponte. Um sonho só pode ser contado num outro sonho.
O outro pé da sereia- Mia Couto
Esse livro de Mia Couto ainda não li, mas vi essa citação. E, por si só, me fez viajar. Mia chama a atenção para uma particularidade muito conhecida dos sonhos. Contá-los é bastante complicado. pela condensação das imagens, pelo ritmo, pelo anacronismo, pela superposição de cenas e personagens. Enfim, é uma experiência cotidiana que contar um sonho, transpor a linguagem onírica para a fala organizada é difícil. O Psicodrama tem uma forma de lidar que denominamos de Onirodrama. A característica principal, à semelhança do que diz Mia Couto, é dramatizar o sonho sonhado e transformá-lo em sonho que está sendo sonhado. Em lugar de contar o sonho o Diretor/Condutor pede que o protagonista construa seu local de dormida, com detalhes bem detalhados, como forma de aquecimento específico, assuma a posição habitual que assume ao deitar e inicie a atuar o sonho. As cenas vão sendo desdobradas. Cada elemento que aparece em cena pode ser explorado em outras cenas. O Onirodrama é a dramatização do sonho. É imperativo que o protagonista não inicie a narrar o sonho. Por que? Porque ao narrar nós impomos uma sequencia e uma lógica narrativa.É importante, é vital, para o Onirodrama que haja o frescor da cena atuada ex-novo, com o frescor da cena nova. Mia Couto tem razão.
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