Talvez, junto a Fernando Pessoa e Herman Hesse, Jorge Luis Borges, seja um dos alicerces de meu sentir e pensar. Em um de seus grandes contos ele escreve: "O futuro não tem realidade a não ser como esperança presente, que o passado não tem realidade a não ser como lembrança presente." (Tlön, Uqbar e Orbis Tertius). Como sempre, o artista, o poeta chega primeiro e diz melhor todas as nossas verdades científicas. Esse período de Borges define toda a essência do pensar psicodramático. Zerka Moreno, companheira de Moreno e a grande sistematizadora da teoria psicodramática, em suas dramatizações sempre e sempre insistia pela contínua atenção à presentificação do protagonista e egos auxiliares. Usar o tempo presente, sempre. Nossas histórias de aventuras, infantis ou não, sempre começam por "Era uma vez" ou "Há muito tempo numa galáxia distante" ou "Cinderela era uma órfã" ou "Quando era pequeno" ou "quando eu crescer" ou "Quando for independente" ou "Quando eu for feliz". As nossas histórias são narradas no tempo passado ou num tempo futuro. No Psicodrama, seguindo Borges e Moreno, tudo no palco se passa no presente. As histórias não são contadas, nem no pretérito nem no futuro. Não são narradas, são dramatizadas, são vivenciadas, são atuadas "no como se". Mesmo o sonho não é contado. É dramatizado no presente desde o seu início. Todo o sonhado torna-se o vivido. São aquilo que Moreno chamava de verdade poética. O palco psicodramático é como se fosse uma máquina do tempo às inversas: não vai ao passado ou ao futuro, torna o futuro e o passado presentes. Essa é a razão principal do aquecimento, etapa inicial de toda atividade socionômica: trazer os membros do grupo para o presente e ajudar ao protagonista a se fundar no presente.
sábado, 27 de maio de 2023
quinta-feira, 18 de maio de 2023
Moreno entra em cena
Fernando Pessoa escreveu: "Se, depois de eu morrer, quiserem escrever a minha biografia, não há nada mais simples. Tem só duas datas — a da minha nascença e a da minha morte. Entre uma e outra coisa todos os dias são meus". Num ano civil comum, a data de morte de Moreno - 14 de maio - vem primeiro do que seu nascimento -18 de maio de 1889. Quando nasceu, como todos, era só um desejo e uma promessa. Fernando pessoa diz "todo começo é involuntário". Em seu início ele era um improvável filho de comerciante sefardita. Ao fim da vida, Moreno. Como todos os seres humanos somos construções de acasos, oportunidades e talentos. Moreno tornou-se isso: acasos e genialidade. E todos os dias foram dele.
domingo, 14 de maio de 2023
Moreno sai de cena
quarta-feira, 10 de maio de 2023
E por que não?
Em 1968 Caetano Veloso lançou Alegria, Alegria. Seus últimos versos dizem: "Por que não, por que não?". A resposta "porque sim", vem muitas e muitas vezes de quem detém alguma forma de autoridade, parental, educacional, laboral. A pergunta de Caetano é um dos núcleos da atividade psicoterápica psicodramática. O "porque sim" corresponde ao que nós chamamos de cristalizações, visões conservadas, imutáveis, congeladas, inquestionáveis, da realidade. A busca do psicodrama pela Criatividade e Espontaneidade é o contínuo exercício do "por que não?". Por que não experimentar algo novo, uma atitude cênica que substitua a atitude existencial, já cristalizada, no palco. Experimentar sair do inquestionável e questionar. Experimentar sair do imutável e mudar, experimentar sair da conserva cultural e vitalizar a existência. O Psicodrama experimenta, questiona, in-comoda, tira do já acomodado (que nunca é cômodo), reconta histórias já tornadas históricas, experimenta o riso em lugar do choro, o choro em lugar do cínico agir. O Psicodrama não parte de ideias pré-concebidas, mas ele as questiona, ele as expõe a um outro olhar. Os problemas existenciais muitas vezes são histórias contadas e recontadas e sempre de um mesmo jeito. Se, quem conta um conto acrescenta um ponto, ao não modificarmos jamais nossa própria narrativa vital, somos expostos e vivenciamos um looping contínuo. É o tema do filme "Feitiço do tempo". Todo e cada dia é o mesmo dia. Como dizia Mário Quintana, "Quem faz um poema salva um afogado". Psicodrama pode fazer poesia.
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