sábado, 27 de maio de 2023

Borges e Moreno

 Talvez, junto a Fernando Pessoa e Herman Hesse, Jorge Luis Borges, seja um dos alicerces de meu sentir e pensar. Em um de seus grandes contos ele escreve: "O futuro não tem realidade a não ser como esperança presente, que o passado não tem realidade a não ser como lembrança presente." (Tlön, Uqbar e Orbis Tertius). Como sempre, o artista, o poeta chega primeiro e diz melhor todas as nossas verdades científicas. Esse período de Borges define toda a essência do pensar psicodramático. Zerka Moreno, companheira de Moreno e a grande sistematizadora da teoria psicodramática, em suas dramatizações sempre e sempre insistia pela contínua atenção à presentificação do protagonista e egos auxiliares. Usar o tempo presente, sempre. Nossas histórias de aventuras, infantis ou não, sempre começam por "Era uma vez" ou "Há muito tempo numa galáxia distante" ou "Cinderela era uma órfã" ou  "Quando era pequeno" ou "quando eu crescer" ou "Quando for independente" ou "Quando eu for feliz". As nossas histórias são narradas no tempo passado ou num tempo futuro. No Psicodrama, seguindo Borges e Moreno, tudo no palco se passa no presente. As histórias não são contadas, nem no pretérito nem no futuro. Não são narradas, são dramatizadas, são vivenciadas, são atuadas "no como se". Mesmo o sonho não é contado. É dramatizado no presente desde o seu início. Todo o sonhado torna-se o vivido. São aquilo que Moreno chamava de verdade poética.  O palco psicodramático é como se fosse uma máquina do tempo às inversas: não vai ao passado ou ao futuro, torna o futuro e o passado presentes. Essa é a razão principal do aquecimento, etapa inicial de toda atividade socionômica: trazer os membros do grupo para o presente e ajudar ao protagonista a se fundar no presente.

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Experimentar e refletir.  Este blog é um espaço para mostrar ideias sobre o psicodrama, sobre o teatro espontâneo.  Há mais de trinta anos...