Sempre considerei os poetas, escritores, artistas em geral, como os que chegam, primeiro e melhor esteticamente, ao ser humano e seu existir, comparando com os técnicos, como nós. Há uma fábula de la Fontaine, as Raposas e as Uvas. essa fábula, em que a raposa, por não conseguir alcançar o galho da parreira onde estavam as uvas desejadas, sai dizendo: "Mas, também, elas estão verdes!". Quanta humanidade nessa fábula! Há uma outra expressão popular que diz: "Quem desdenha, quer comprar!". .A mesma coisa. Desqualifica-se aquilo que não se pode ter ou alcançar. E isto acontece corriqueiramente. E esta é uma das situações em que, propondo-se a cena em ação, o protagonista saindo do palco, um ego auxiliar ocupando seu papel e ele, o protagonista vendo e enxergando de fora do palco, de fora da cena, sua vida passando ante seus olhos. A isto chamamos de Espelho. E por que? E Para que? Porque é sempre difícil ver-se de fora, ver-se como em cena, ver-se com os olhos da plateia. E essa técnica psicodramática, uma das três fundamentais, propicia isto. Sem interpretações do diretor/condutor/terapeuta. Ele, o protagonista tem a chance de ver-se. E perceber que seu desdém, seu enverdecimento de seu desejo, é uma manobra para não sofrer pela impossibilidade ou incapacidade. La Fontaine e Moreno. Duas visões analógicas do drama humano.
terça-feira, 28 de novembro de 2023
quarta-feira, 22 de novembro de 2023
Hoje no Psicodrama
Hoje, numa sessão psicoterápica, uma pessoa me fala sobre sua relação com seu enteado, portador de gravíssima quadro psiquiátrico, Diz ela: "Me sentei longe". Pedi para refazer a cena: Piscina, estirada numa cadeira, tomando sol, óculos escuros. Seguida por outra: respondendo a solicitação vai para a piscina com o enteado, senta-se no primeiro degrau, muda. Paro a cena e pergunto: Que está acontecendo agora com vc? Responde: " estou irritada, não queria estar aqui, acho desagradável estar com ele". Peço-lhe que capture esse estado e veja em sua vida onde mais esse estado esteve presente. "Claro, nas reuniões obrigatórios com meu pai". " E no meu ciúme de minha irmã com minha mãe". E continuamos. Mais do que a história acontecida e verbalizada, o acréscimo da cena deu-lhe uma chance de perceber no aqui e agora os afetos envolvidos e pôde fazer a ligação entre cenas anteriores e as atuais. é o que me encanta em nosso Psicodrama. Sua potência terapêutica. Potência de, ao presentificar o passado, poder vivenciar as múltiplas camadas que a cena traz e tem e contém. Sem que houvesse interpretações de minha parte. Era sua cena, vista e enxergada por ela. Era sua a compreensão.
domingo, 12 de novembro de 2023
Onde se fala de agricultura e outras coisas
Espontaneidade, espontâneo, Teatro da Espontaneidade, Teatro Espontâneo. A espontaneidade é como a humildade: quando as percebemos, as perdemos. Quando mais temos delas consciência, menos elas serão reais. É que, tanto uma quanto a outra, não são atos, ações. São estados de alma pré-existentes que servem de chão e base para as ações que a criatividade e a necessidade e a adequação à circunstância/cena requeiram. Humildade e Espontaneidade são estados a serem cultivados. Como se cultiva alguma planta qualquer. Deixa-se a semente, aguamos, damos sustentação e esperamos que venha à luz a planta, a espontaneidade, a humildade. Elas não são objetivos a serem alcançados, perseguidos.. Elas são as condições para que a Criatividade tenha à mão todos os recursos possíveis para poder escolher o melhor ato criativo. A Espontaneidade é uma condição humana para se adequar ao ambiente. Talvez por isso, ao se fazer Teatro Espontâneo, em que não há roteiro escrito, não há metas a serem alcançadas, não há fins previstos, em que o grupo tem o coração e o motivo para criarem algo coletivamente, em que o Diretor/Condutor está despido de qualquer veste autoritária, viés autoral. Tal como o Jardineiro Fiel ele cuida do grupo, da cena, poda algumas folhas/imagens para ajudar no crescimento da planta/cena, o aquecimento é o preparo da terra, a fertilização do solo, a correção das deficiências que porventura haja no solo/grupo. Ele está a serviço do grupo, como um jardineiro fiel está para a sua planta. O Jardineiro conhece a melhor maneira para ajudar sua planta, mas não pode forçá-la, fazê-la ser o que ele quer e não o que ela pode ser e quer ser. Por isso, em todos os tempos a agricultura é símbolo da paciência, confiança, humildade. E, em nosso caso, da Espontaneidade. PS. A Alquimia era também conhecida como Agricultura Celeste. Pelas mesmas razões: Paciência, confiança, humildade, a espera pelo melhor tempo para a a Grande Obra. A nossa Grande Obra é a Cena.
sábado, 4 de novembro de 2023
Tempos
"Tempo, Tempo, Tempo. És o Senhor do Destino". (Caetano Veloso). Sete décadas de minhas voltas em redor do Sol. E o que significa? Experiência? Já li definições de experiência como: "um pente que é dado ao ser humano quando ele já está ficando careca". Hipócrates dizia que "toda experiência é enganosa". Outro dia, conversando com algumas pessoas sobre algo da década de 50/60 disse: "a minha vantagem é que não li em livros, eu vivi a mudança paradigmática dos anos 50/60." O velho é testemunha da História. Se tiver olhos para enxergar além de ver, apenas. Mas, todos nós, qualquer que seja a nossa idade, somos testemunhas da História. Talvez, a questão central não seja a duração cronológica de nossas vidas. Talvez a questão central seja vivenciar o vivido. Moreno, criador do Psicodrama, referia-se a isso como "Momento". O tempo do vivido. Kairós, em Grego, diferente do Chronos, tempo marcado em relógio. O Momento Moreniano, o vivido e experienciado, diferente do tempo cronológico automatizado das conservas culturais. Existir, viver, vivenciar, Momento Moreniano.
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