sábado, 30 de dezembro de 2017

Novo Ano, Ano Novo?

Penso que uma virada de ano, uma mudança de data, pode ser apenas uma coisa cronológica, uma mudança de calendário. Mas também pode ser um ritual pessoal de dar sentido à própria vida. As coisas serão ou não banais de acordo com o significado que agreguemos a elas. Então, nesse Ano Novo cronológico, desejo a todos que cometam erros novos.  Porque repeti-los é nada ter aprendido com a experiência. Não tê-los representa uma completa imobilidade na vida. Que seja um novo ano.

quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

Kafka, Psicodrama

"Há dois pecados humanos capitais, dos quais se derivam todos os outros: impaciência e indolência. Por impaciência foram os humanos expulsos do Paraíso; por indolência não regressaram. Entretanto, talvez haja somente um pecado capital: a impaciência. Por impaciência foram expulsos, por impaciência não regressaram. " 
Esse trecho é um dos Aforismos de Kafka. Hoje estava relendo esse curto livro e fiquei embatucado com esse escrito. E pensando no Psicodrama ou no Teatro Espontâneo ou no Sociodrama. Pensando quanto dirigir é um cabo de guerra entre a paciência e a impaciência. Como todo o tempo queremos acelerar, chegar logo em algum lugar, atropelando o ritmo do próprio grupo. Dirigir qualquer atividade Socionômica exige que tenhamos a paciência de respeitar o tempo do protagonista, o tempo do grupo. E quando algo não está funcionando bem é necessário ainda mais paciência para aceitar que cada grupo, cada protagonista vai até onde puder, obterá o que puder obter. Ao seu tempo, ao seu ritmo. "Por impaciência foram expulsos, por impaciência não regressaram. "  Nem uma coisa nem outra.

segunda-feira, 25 de dezembro de 2017

primeira, terceira

Qual o melhor lugar para esconder uma árvore? No meio de uma floresta. Acho que por isto é tão comum, corriqueiro, seja no universo psicoterápico, seja no universo do Teatro Espontâneo, seja na conversa coloquial, o uso da terceira pessoa ( a gente faz isso ou aquilo, aí você vai e briga...) ou a primeira pessoa do plural (nós fazemos, nós nos irritamos, nós isso ou aquilo). Se apenas se pedir que se conte a história usando a primeira pessoa (Eu) a importância do que é expresso muda de forma considerável. Torna-se o protagonista ou o cliente ou o paciente centro de seu furacão, deixando a terceira pessoa  de lado. A história tem que ser contada sempre em primeira pessoa. Do singular. That's all.

sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

memória, imaginação, atenção...

A memória e a imaginação não são tão diferentes assim. ambas são móveis, flutuantes. Ambas não têm compromisso com o real. A memória é a recriação do passado, a imaginação é a criação do futuro. O presente é que é transitório, fugaz e, quase, imperceptível. Estamos ou á espera de um algo que acontecerá ou lembrando o que houve. Vivenciar é o viver com atenção plena. É estar atento ao tênue momento presente. Afora isto estamos entre o criar o futuro e o recriar do passado.

terça-feira, 19 de dezembro de 2017

crença, fé...

Não sei. Vejo essas duas palavras sendo usadas como sinônimas. E, para mim, não são. Nem de longe são sinônimas. De cara digo que crença é certeza de resultado, fé é confiança no processo. Dito isto, comecemos a desdobrar um pensamento. Quando digo creio, em geral, queremos um resultado, desejamos um resultado, já temos um resultado previsto. Crença, assim, é  ter certeza de que o que deseja se realizará. Seja por que meio seja, seja com a interferência dessa ou aquela divindade, deidade ou entidade. Quando não acontece o que se espera, deseja, almeja, quer, vem a descrença, a rejeição, a raiva, a impotência, a frustração o sentimento de desconfiança. Quanto há fé, tem-se fé no mecanismo não nos efeitos. Tem-se fé. Coloca-se um pé no vazio, sabendo que há um vazio, mas que se construirá alguma ponte para atravessar o abismo. o olhar se dirige ao processo, ao mecanismo, ao método. Não se olha para o resultado. A consequência virá em razão do processo, não do desejo, apenas. e o que isto tem a ver com Psicodrama e Teatro Espontâneo? São coisas diferentes: iniciar uma atividade Psicodramática ou de Teatro Espontâneo desejando um final final planejado, buscando realizar um projeto já definido na mente. Não é Psicodrama nem Teatro Espontâneo, é uma vivencia, tão só. É uma forma de crença. A espontaneidade e criatividade do grupo anda longe. Outra coisa muito diferente é iniciar-se uma atividade Psicodramática ou de Teatro Espontâneo em que há confiança, fé no método, no processo, deixando o campo aberto para a Espontaneidade e a Criatividade atuarem, levando a cena para onde ela construir seu próprio caminho. Confiança, fé no método Psicodramático

sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

FullGás

Há poucos dias estava conversando e veio à tona uma música de Antonio Cicero gravada por Marina: FULLGás. Um neologismo de Cícero para associar o fugaz, passageiro, com o Full, cheio em Inglês, e Gás. Cheio de gás, mas breve e fugazmente.
Em grego há trés palavras que se traduzem em Português como tempo. Chronus, Kairós e Aéon. Três formas de tempo. Aéon é o tempo sagrado. Kairós o tempo vivencial, o tempo onde algo aconteceu de marcante. Esse Kairós grego em Psicodrama podemos associá-lo ao conceito de Momento. O Momento Moreniano ocorre dentro de um tempo Chronus, dentro de uma cronologia específica, mas contem algo a mais. O Momento Moreniano é o instante em que algo ganha significado, importância, intensidade. É fugaz, passageiro, não cristalizado. É intenso (Kairós) mas não duradouro (Chronos). Tanto em Teatro Espontâneo  e Psicodrama todo o aquecimento inespecífico acontece dentro de Chronus. No aquecimento específico do representante grupal caminhando para ser protagonista, ele é conduzido sempre no aqui e agora, trazendo ou levando o protagonista a novamente se colocar no tempo Chronus para recuperar e tomar posse da totalidade de sua experiência Kairós. Esse é o caminho, o método, do Psicodrama, do Teatro Espontâneo: ajudar a produzir a transformação de qualquer ação acontecida ou por acontecer no tempo Chronus, cronológico, no tempo Kairós em que os significados, intensidades e importâncias são apropriados pelo protagonista numa catarse de integração.

segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

perdão

Ando pensativo com a palavra perdão. Em português, perdoar vem de per+donare. Sendo per através de, acabamento, conclusão, sem nada faltar e donare, doar, dar. Em inglês repete-se a mesma etimologia. Forgive vem de for, por meio de, completamente, com give, dar, doar. Então, o que se dá, o que se doa, ao perdoar? Perdoar e pedir perdão. O que se pede? Esquecimento, fazer de conta que nada aconteceu? O que se dá? Esquecimento, passar uma borracha, jogar o lixo sob o tapete? Será isso que se dá e se pede? Que doação por completo é essa? Depois de um perdão há re-começo? Recomeçar não seria como desfazer o pause do filme da vida? E há o botão de pause? A nossa história re-começa do ponto onde parou? Perdoar então seria desfazer o pause? E se perdoar, o dar por completo, fosse não re-começar, mas encerrar algo e iniciar um novo algo em que a história anterior fosse incluída como história finda, terminada. Então não seria um pause e recomeço de um mesmo episódio de nossa netflix existencial. Seria, sim, um novo episódio da mesma série em que o episódio anterior está presente no argumento do novo episódio. Presente e acabado.

sexta-feira, 8 de dezembro de 2017

autocrítica, altocrítica

Por várias vezes tenho problema em escutar o que ouço. Às vezes escuto mais do que ouço. Dentre as inúmeras vezes em que isso me aconteceu, uma delas foi com essa palavra autocrítica. Juro que o que escutei foi ALTOCRÍTICA. Com L. Cheguei a perguntar. Com U ou com L? A justiça pode ser cruelmente justa. E isto acontece quando é inflexível, não ponderada. Imagine quando acontece dirigido a nós mesmos: Quando a crítica é tão exacerbada por ser inflexível e descontextualizada. E assim caminha a humanidade, ou uma parcela dela. Entre culpas imaginárias e penitências reais.

terça-feira, 5 de dezembro de 2017

O riso e o siso

Mas o riso interminável que transcende tanto os fracassos quanto os êxitos preenche a plateia... Seria bom conhecer a origem do riso... Acho que o riso teve início quando Deus viu a sim mesmo. Foi no sétimo dia da criação que Deus, o Criador, voltou a olhar para os seus últimos seis dias de trabalho – e estourou – gargalhando de si... Esta é também a origem do teatro... sim, enquanto ele ria, rapidamente cresceu um palco sob os seus pés. Ei-lo aqui, embaixo de nós”. J. L. Moreno
Outra citação de Moreno. E ela traz a tona o riso no ambiente sério e sisudo da psicoterapia. Esse nosso ambiente, embora dito terapêutico, vê com restrições valorizar o riso e a alegria. Nossa herança cultural faz do choro o maior e quase único validador da experiência psicoterápica. O riso, o gargalhar não é confiável. O choro, sim. Não é diferente o fato das comédias, dos atores de comédia, nunca serem tão valorizados quanto os atores de dramas ou tragédias. A penitencia, a culpa, a purgação da culpa, o choro, o desespero parecem ser mais confiáveis do que uma sonora e explosiva gargalhada. E Moreno traz o riso como um elemento criador, libertador, e o coloca como estando sob nossos pés, como fundamento do fazer psicodramático. Mas o peso da tradição culposa e penitencial faz-nos pender tão somente para a dor. A alegria no Psicodrama é fundante. Não a alegria tola do riso fácil, mas a alegria de reconhecer a potencia criativa grupal. De saber que o ser humano inclui "a dor e a delícia de ser o que é".

sábado, 2 de dezembro de 2017

Samba, arte e psicodrama.

"O samba é o pai do prazer;
O samba é o filho da dor;
O grande poder transformador."
         Desde que o samba é samba, Gil e Caetano

Essa música foi composta  por Gil e Caetano comemorando os 25 anos do movimento tropicalista. Mais além da beleza da música e letra, há algo. A posição que eles colocam o samba, intermediária entre a dor e o prazer, chama a minha atenção. A acentuação que essa posição tem um poder transformador, chama a minha atenção. Transmutando a dor recebida no prazer criado. Algo bem alquímico, lato sensu. Isto é Arte. Essa alquimia é Arte. E o exercício psicodramático é isso. Dor em prazer, merda em adubo, paralisia em movimento, cristalização em mudança.

Postagem em destaque

E assim é.

Experimentar e refletir.  Este blog é um espaço para mostrar ideias sobre o psicodrama, sobre o teatro espontâneo.  Há mais de trinta anos...