Estava relendo pela enésima vez o Drácula, de Bram Stoker. Um livro fascinante pelo qual sou fascinado. E parei numa cena fundamental da história. Drácula já havia marcado Mirna para sua refeição noturna. Mas há um empecilho: um vampiro só pode entrar em uma casa se for convidado. Então, ele se dedica a seduzir Mirna para que à noite lhe abra a janela ao ser chamada. Essa história é contada assim pelo narrador. Mas, Mirna não sabe dessa história, os familiares e noivo dela só veem seu enfraquecimento gradativo. Para Mirna, sua anemia aguda é uma surpresa. Assim como para os outros. Quantas e quantas vezes ao escutarmos histórias vemos uma narrativa contada e recontada, sob um mesmo ângulo, sob um mesmo olhar, sob uma mesma perspectiva. Forçando um pouco a barra, imaginemos Mirna num Psicodrama. Sua queixa é estar enfraquecendo sem saber porque. Seu psicoterapeuta psicodramatista, seu Direto/Condutor, lhe pede para refazer seus passos desde o anoitecer ao tempo em que vai manifestando alto seu pensamento e seu sentimento. e pensamentos (solilóquio) Ela vai realizando sua toalete noturna e em um momento vai até a janela e abre o trinco. Interrompida nesse momento e solicitado seu solilóquio ela poderia ter dito: "estou pensando naquele cara que conheci, tão interessante. Será que ele me visitaria mesmo, como me disse?". Eis porque uma dramatização é capaz de realçar, tridimensionalmente, atos, maneirismos, tons de voz e outras manifestações do subtexto da expressão corporal, que não apareceriam na narrativa verbal. A narrativa cênica inclui e ultrapassa a narrativa verbal.
PS. A cena em Drácula, é linda.
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