Desde
cedo quando descobri que, em Grego, a palavra techné é arte, fica
flutuando pelo meu espírito uma dúvida que nunca soube muito bem
qual era. Sentia que havia algo, mas não estava claro o que. Passei
a pensar e refletir.
Os
gregos chamavam de techné àquilo feito com habilidade e destreza.
Heródoto definia como: saber fazer de forma eficaz. Ars,
já para os latinos, conserva a mesma acepção, com outra palavra.
Na Idade Média, Ars Mechanica começou a corresponder ao que hoje
chamamos de técnica. E aí começa uma divisão entre o técnico e o
artístico. Ao primeiro termo é dada uma conotação de precisão e
seriedade que parece faltar, no senso comum, ao artístico. Ser
técnico é ser preciso, exato, científico. Sério, portanto. Ser
artístico é ser sonhador, pouco racional, impreciso. Não sério.
Um filho técnico faz o pai confiar no seu futuro. Um filho artista é
uma preocupação constante. Entretanto, ao vermos ou lermos a
descrição de um matemático da demonstração de um teorema,
percebemos que há um sentido estético na apreciação. Uma
bailarina é precisa, hábil. Há destreza em seu passo. Os longos
anos de preparação de uma bailarina, suas dores, falam de técnica,
precisão, exatidão. O exercício é Técnica. E Arte. E como Arte
inclui a estética. O gesto preciso e econômico. Como o Artesão. O
Artista sabe. E sabe fazer de forma eficaz. O Artista é exato. Chico
Buarque diz da saudade: é o revés do parto. Econômico, preciso.
Tal como E=mc2. Esta fórmula é bela. Chico é exato. Sempre o
bem-feito traduz-se em sensação estética. Podemos estar em sala de
psicoterapia, numa prancheta, em um papel escrito, um campo de
futebol, uma tela, um barro ou mármore. Tanto a nossa Arte quanto a
nossa Técnica confluem-se no bem-feito. Não nos esqueçamos que
Poesia, também em Grego, provém do verbo Poesis com significado de
fazer, fabricar. Arte ou Técnica? Arte/Técnica: exatidão e
estética, rigor e espontaneidade, precisão e leveza.
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