Respeito. Palavra que revela um conceito fundamental da vida em sociedade. O que nos diz a etimologia da palavra? Respeito provém do latim Re (outra vez) + spectare (olhar). Respeitar, é assim, permitir um segundo olhar. Não permanecer com apenas o primeiro olhar. Como se o primeiro olhar fosse o olhar impulsivo, o olhar inteiramente pessoal. É como se permitir um segundo olhar fosse admitir uma segunda opinião, uma outra opinião. Respeitar alguma opinião, atitude, pessoa,a própria dor, é se permitir um segundo olhar além do olhar habitual e já conhecido. Em Psicodrama dizemos que manter-se congelado, rígido em uma visão de mundo seria uma postura, uma atitude, um olhar conservado, cristalizado. Desrespeitar, não respeitar, seria desse modo, manter uma visão cristalizada, inabalavelmente rígido e inflexível. Todo o empenho de uma dramatização leva a percepção de novos olhares sobre coisas antigas ou diferentes olhares sobre coisas novas. Admitir, experimentar um outro ou outros possíveis olhares pode, tem a possibilidade, de descristalizar, desconstruir o não respeito favorecendo o desenvolver do respeito.
terça-feira, 23 de junho de 2020
sexta-feira, 19 de junho de 2020
Ignorância e burrice
Durante uma sessão psicoterápica, ocorreu-me uma frase de efeito para o momento. "A ignorância é um estado, mas a burrice é um processo". Naquele momento, como frase de impacto, fez o efeito pretendido. Depois, refletindo sobre ela, enveredei por meus pensamentos. O que será que quis dizer com isto? Ignorância é o estado de quem ignora algo e sabe que ignora. Portanto ele reconhece a ausência daquele conhecimento, podendo ser suprido, se assim desejar. O "só sei que nada sei" de Sócrates parte deste fundamento: reconhecer a ausência do conhecimento é a atitude que pode levar ao conhecimento. E o que é a burrice? Não é a ignorância. Burrice é pensar que sabe e resistir ao conhecimento que possa esclarece-lo. Esta é a razão de Sócrates usar a Ironia como forma de levar o seu oponente ao reconhecimento de sua ignorância, sair de sua posição de saber fingido. A burrice é o pretenso saber hegemônico e cristalizado, inamovível, pétreo. E o Psicodrama com isso? A repetição da cena do protagonista com ele vendo em espelho, fora do palco, permite que ele saia daquela posição de saber inquestionável e dê-se o benefício de duvidar, reconhecer sua falta de conhecimento, abrindo-se para um novo conhecimento.
terça-feira, 16 de junho de 2020
papéis, isolamento, loop
"No início do aprendizado Zen, as árvores são árvores e os rios são rios. Em meio ao aprendizado Zen, as árvores já não são árvores e os rios já não são rios. Ao fim do aprendizado Zen, as árvores são árvores e os rios são rios."
Neste momento de quarentena, isolamento social, as pessoas estão tendo que desenvolver novos papeis ou despertar papeis adormecidos. Sejam funções domésticas, sejam novas ferramentas de trabalho, sejam oportunidades novas. E isto traz à tona um conceito bem moreniano. Papéis e seu desenvolvimento. Moreno criou três expressões para se referir a isso. Role- Taking (tomada do papel), Role-Playing (desempenho de papel) e Role-Creating (criação no papel). Role-Taking é o momento em que nos deparamos com o novo papel. Nesse período de tempo aprendemos os os instrumentos, os fundamentos desse papel. Àquele que esteja nesse estágio há a admiração por quem já consegue desempenhá-lo bem e há o temos de não vir a conseguir. Em algum moimento, esses instrumentos e fundamentos se incorporam à pessoa e ela passa a desempenhar o papel com eficiência. Já consegue se percebe atuando em seu novo papel com segurança. Mas ainda há um temor e reverência às regras, um ter que agir conforme o manual, a esperar a aprovação alheia. A maior parte do tempo passamos nesse estágio. Mas, algumas pessoas, em alguns momentos, conseguem saltar para o Role-Creating. Aí, nesse momento, ele sente-se seguro para ultrapassar as regras técnicas, já não se sente tendo que responder às prescrições dos livros e mestres. Ele faz, organicamente ligado à compreensão dos fundamentos, o que é o necessário para o momento. Sua criatividade liberta-se da relação discípulo-mestre. E age.
Mas, isto não se passa apenas uma vez. Isto é dinâmico. A todo momento, estamos voltando a aprender (Role-Taking), voltando a praticar as novas aquisições (Role-Playing) e, eventualmente, voltando a criar no Papel (Role-Creating). Se assim não for, entramos na Conserva cultural moreniana, na cristalização do papel. É a perigosa sensação de saber o já sabido. A imobilidade do saber. Os papéis e seu desenvolvimento precisam ser um loop contínuo de aprendizado, domínio e criação e novo aprendizado e novo domínio e nova criação e novo aprendizado e novo domínio do papel e nova criação no papel e...
terça-feira, 9 de junho de 2020
Diretor problema
Tive uma experiência rica e curiosa. Realizei, junto com um grupo que frequenta o Espaço Livre de Psicodrama e Teatro Espontâneo, uma atividade online. O decorrer do grupo, em si, não é a questão. Mas o que aconteceu com o Diretor. Eu, nessa situação. A conexão da internet de todos estava boa, todos se viam e ouviam. A minha estava ruim. Caindo a toda hora. Em minha visão, ao cair ou interromper a conexão, todos também estariam desconectados. Isso começou a me irritar. E o grupo não me sinalizava que eu era o problema. Quando a conexão caia eles cogitavam de me falar, de me dizer que era a minha conexão que era ruim. Depois de muito tempo de hesitação, alguém disse o que todos queriam dizer. E aí dê-me conta do problema. Pedi ao grupo que significasse a experiência para cada um. Perdido, angústia, o diretor estava levando o Psicodrama para o fim. A partir daí pedi que amplificassem esse sentimento, esse significado. E apareceu nesse o grupo a situação social vivida. O Psicodrama permite, espera, deseja, faz com que aconteça, o atravessamento do protagonista pelas suas questões subjetivas, pelas questões grupais e pela questões sociais mais amplas. Assim ele é o protagonista quando sua história, sua cena, permite o espelhamento de seu mundo subjetivo, seu mundo relacional e seus papéis sociais. Pedi ao grupo um nome para esse psicodrama. "Quando o diretor é que é o problema". That's all.
quinta-feira, 4 de junho de 2020
Mentira e Realidade Suplementar
Voltando a falar de Realidade Suplementar. Há um verso de Mário Quintana que diz: "A mentira é a verdade que esqueceu de acontecer". A Realidade Suplementar é uma "mentira", uma dramatização, uma criação no palco, que "esqueceu" de acontecer ou que poderia vir a acontecer ou que temo que possa acontecer ou que desejo que aconteça.
segunda-feira, 1 de junho de 2020
Realidade suplementar
Moreno lastreou seu Psicodrama no que ele chamou de Realidade Suplementar (Surplus Reality). Ele retirou essa expressão da mais valia referida por Marx. A mais valia marxista refere-se à diferença entre o que ganha o trabalhador e o valor do produto fabricado. Em inglês surplus value. A nossa Realidade Suplementar é aquilo que falta ao protagonista para sua realização pessoal. É aquilo que, no palco psicodramático, a cena pode dar ao protagonista. Seja realizando, cenicamente, algo do passado a ser refeito. Seja no presente experimentar vidas alternativas. Seja, no futuro, possibilidades a serem exploradas. É a verdade poética da cena. A cena é dramatizada. Mas os sentimentos, emoções e calores são verdadeiros.
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