quarta-feira, 19 de janeiro de 2022

Pensar e não pensar

Tenho visto, circulando pelas redes, anúncios dirigidos à médicos e psicólogos, que contém esta, ou similar, expressão. "Nunca mais você vai precisar pensar mais no que postar todos os dias". Interessante. Nossa evolução biológica nos levou ao pensamento. Isto se transformou, até onde sabemos, no apanágio da espécie humana. Pensar, ponderar, planejar, escolher, decidir. Agora, vemos este apelo para o não precisar pensar. Apenas postar. Comprar um app e postar o que ali está. Para que pensar?  A que leva o não pensar? O que seria não pensar? As redes sociais favorecem e amplificam a impulsividade. A resposta sem pensar, movida apenas pela reação emocional. O nosso  pensamento, o refletir, o decidir, necessita de um intervalo de tempo entre o estímulo e a resposta. Nas dramatizações psicodramáticas é possível observar o que chamamos de espontaneísmo, a resposta impulsiva. Então temos o recurso de pedir ao protagonista que volte a cena, repita as mesmas ações, mas em câmara lenta. E aí podemos tornar sensível o conteúdo das ações, que estava, até ali, submerso na impulsividade. Espontaneismo é impulsividade, é ação sem conteúdo. Espontaneidade é ter a possibilidade de escolha, criatividade é fazer a melhor e adequada escolha para a cena, para a vida.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2022

emocional e cognitivo

O Psicodrama e todas as ferramentas Socionômicas (Sociodrama, Axiodrama, Teatro Espontâneo) têm ações similares. Aquecimento, dramatização e compartilhamento. E na dramatização acontece, sempre, um ir e vir entre objetivar o que está subjetivo e subjetivar o que foi anteriormente objetivado. Traduzindo melhor. A dramatização é a concretização em cena de algo que está rolando subjetivamente. Mas, após a dramatização, para o protagonista e para o grupo, torna-se importante e vital, que a cena seja metabolizada. E com isso, produzindo novas cenas e novas percepções de cena. E com isso, cada dramatização torna-se aquecimento para a próxima cena. Essa contínua troca faz do Psicodrama algo sui-generis. Não é apenas vivência nem apenas dramatização catártica.  O ir e vir permite que saiamos do apenas emocional e do apenas cognitivo. As ferramentas psicodramáticas produzem essa possibilidade, mas é a condução psicodramática com esta visão que transforma tudo isso em Psicodrama.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2022

papéis, vínculos e estradas

 O Psicodrama, toda a família socionômica, é uma abordagem relacional. Portanto, pressupõe, como dizia Moreno, que somos seres em relação. E, para Moreno, essa relação se dava por meios de papéis. E papel, psicodramaticamente, é a forma com que cada um assume ao estabelecer a relação. E essa forma, esse papel,  codifica um discurso, um gestual, uma forma de falar, tal qual o papel cênico. E, isto faz Moreno dizer, ser o papel a forma tangível do Eu. Ou seja, não acessamos o Eu do outro diretamente, mas, sim, intermediado pelo papel. Tangível é aquilo que pode ser tocado. O papel pode ser tocado. O Eu do outro,  não. Então, haverá tantos papéis quanto vínculos que estabelecemos. Então, haverá pessoas com poucos papéis desenvolvidos, enquanto outras terão múltiplos papéis, múltiplos vínculos. Assim, no Psicodrama histórias psicodramatizadas sempre serão histórias relacionais, sempre explorando os papéis envolvidos, sempre pesquisando a gênese dos papéis. E se, naquela relação, a relação é télica ou não télica. Ou seja, relação télica é aquela em que os envolvidos se reconhecem como estando na mesma estrada, ou caminhando no mesmo sentido ou em sentidos contrários, mas, reconhecendo estar na mesma estrada. A relação será não télica quando estão em estradas diferentes e não sabem disto, ou então, estando na mesma estrada as percepções de encontro são diferentes: um está se distanciando e o outro o julga se aproximando.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2022

O Psiquiatra


 Hoje comemoramos a data de nascimento, em 1872, de Juliano Moreira, fundador da Psiquiatria brasileira. Baiano de Salvador, filho de português funcionário público e negra, empregada doméstica. Forma-se em medicina com 19 anos, trabalhando com Doenças Tropicais, campo em que a Bahia era líder, na época. Torna-se poliglota, com 24 anos entra como auxiliar na cadeira de Moléstias Nervosas e Mentais da Faculdade de Medicina da Bahia, embora se temesse que pudesse ser preterido por ser negro. É pioneiro, na Bahia, de punção medular para estudo de Sífilis. Tem intensa atividade científica, nacional e internacionalmente. Em 1903 assume a direção do Hospício Nacional de Alienados. É aí que sua contribuição torna-se imensa. Humaniza o atendimento e as condições de internação dos pacientes, institui oficinas de aprendizado de ofícios e, também e principalmente, oficinas artísticas. Inicia sua luta contra as teses racistas e eugênicas que explicavam as doenças assim chamadas nervosas e mentais como fruto da miscigenação racial. Insiste em atribuir os males mentais às condições sociais e sanitárias. Por razões políticas da Revolução de 1930 é exonerado do cargo. Morre aos 61 anos, de tuberculose, em 03 de Março de 1933.

Postagem em destaque

E assim é.

Experimentar e refletir.  Este blog é um espaço para mostrar ideias sobre o psicodrama, sobre o teatro espontâneo.  Há mais de trinta anos...