terça-feira, 17 de maio de 2022

Itabira e o sósia

Conversando com um paciente, ele falou de alguém que havia encontrado um seu sósia. De imediato, retruquei: "O sósia se parece mais com você do que vc mesmo!". O paciente olha para mim com cara espantada e pergunta: "Como assim?". Resposta minha: "É que o sósia é cópia da imagem que está na memória de quem o conheceu há muito tempo. O sósia é uma imagem sua que não se alterou pelo tempo nem pela suas vivências pessoais". Quando vemos um sósia o termo de comparação é a nossa imagem mnêmica do passado que não se transformou. A pessoa real, no presente, é aquela imagem mais tudo o que lhe aconteceu. O sósia a imagem conservada na memória. E esse termo, Conserva, é uma palavra que se refere a um conceito Moreniano referindo-se a nossa relação com os fatos culturais. Quanto uma determinada obra de arte se transforma em "A Obra De Arte" ela corre o risco de virar uma conserva cultural, no dicionário psicodramatiquês. Algo estático, icônico. Ícone em grego é imagem, figura. E isso também acontece com a nossa narrativa de vida, nossas perdas, nossos ganhos. Também eles tendem a se cristalizar em conservas. Quando Carlos Drummond de Andrade refere-se a Itabira, sua cidade natal, como "É apenas um retrato na parede. Mas como dói!", ele esta transformando uma conserva cultural numa vivência pesoal.  "Desconservando" o "apenas um retrato na parede" para uma relação íntima com seu passado, suas histórias, seu presente e suas dores. E quem faz esse papel terapeutico é o "Mas" do verso, a abertura de outras formas de vivenciar o já vivido. Isso é psicoterapia. Isso é Psicodrama.

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Experimentar e refletir.  Este blog é um espaço para mostrar ideias sobre o psicodrama, sobre o teatro espontâneo.  Há mais de trinta anos...