quarta-feira, 18 de janeiro de 2023

Alegria? Pode?

 "Aqui jaz aquele que trouxe alegria à psiquiatria". Epitáfio de J.L.Moreno

"Eu nunca vi um fanático ter senso de humor, nem uma pessoa com senso de humor ser fanático" Amós Oz

"Muito riso, pouco siso" provérbio popular

Há alguns dias, conversando em uma live com amigos (Nori Cepeda, Marilene Queiroz, Gueira Vilhena) apareceu a palavra alegria. E veio-me à mente essa expressão popular que relaciona o riso à pouca profundidade de pensamento. Logo a seguir assisti a uma conversa do Dalai Lama com o Cardeal Tutu  em que ambos falam de que a alegria é a alegria da vida significativa, da compaixão. E ambos com vidas de lutas e resistências e sofrimentos atrozes. E ambos riem. A frase do escritor israelense Amós Oz encaixa-se como uma luva. Pode-se ser profundo sem ser fanático. E o fanático não ri porque não considera o outro, só a si e seu pensamento. Diz o cardeal Tutu "uma pessoa é uma pessoa por meio de outra pessoa". Esse é o significado de Ubuntu para o sul-africano. Frase que poderia ser um título de qualquer texto psicodramático. E Moreno, ao falar de alegria não fala da alegria tosca, mas da alegria da compaixão. à Psiquiatria faltava na época (na época?) compaixão, o sentir junto, a dor e a alegria. Isso é compaixão. Compaixão não é ter dó, ter pena. É poder sentir com, sentir junto, alegria ou tristeza. Derrota ou vitória. Perda ou ganho. E o fanático exclui, isola, sobrepõe sua verdade à experiência do outro. Moreno, judeu, Amós, israelense, Tutu, negro do apartheid, Dalai lama exilado de uma terra ocupada. Experiências de vida sofridas e de lutas constantes. Mas todos expressam a alegria da compaixão. 

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