Em todas as atividades de Psicodrama, Sociodrama, Teatro Espontâneo que realizo inicio sempre dizendo só haver duas regras: ninguém é obrigado a fazer coisa alguma, mas, antes de desistir experimente. Experimentar é, verdadeiramente, dedicar-se a vivenciar aquele instante. Não apenas tentar. Tentar, o verbo tentar, já traz embutida a concepção de se estar de "pé atrás". Tentar algo não é, decididamente, experimentar algo. Após a verdadeira experiência vem o momento de reflexão, de ponderação, de medição de ganhos e perdas. Depois desse instante reflexivo surge a possibilidade da decisão: continuar ou para e fazer algo diferente. Nos atos psicodramáticos, sociodramáticos ou de teatro espontâneo, o aquecimento realizado adequadamente propicia a experiência real e profunda da dramatização. E em cada momento, o Diretor/condutor pode interromper e sinalizar ao protagonista ou ao grupo que reflita e decida se seguiremos pelo mesmo caminho ou experimentamos outro. Mas, não apenas no palco psicodramático o experimentar e refletir são as ferramentas existenciais fundamentais. Da vida experimentada na dramatização do palco psicodramático à vida vivida nos palcos da vida. Experimentar, tão só, sem refletir, é bater cabeça, ficar sujeito aos ventos e tempestades das escolhas. Refletir sem experimentar é estagnar-se no marasmo do pensamento e raciocínio. Experimentar e refletir.
quinta-feira, 27 de abril de 2023
sexta-feira, 14 de abril de 2023
Papéis, papéis
"Quando tomamos consciência de nosso papel, mesmo o mais obscuro, só então somos felizes. Só então podemos viver em paz e morrer em paz, pois o que dá um sentido à vida dá um sentido à morte."
Terra dos homens/Antoine de Saint-Exupéry
Penso que Exupéry falava de papel no sentido de propósito. Mas, no Psicodrama, papel tem outra conotação, próxima e distante do uso que se faz em teatro e cinema. Nestes, papel é quase equivalente a personagem. Embora possamos dizer que uma personagem pode desempenhar vários papéis na peça ou filme. Já no Psicodrama há algo disso, não sendo isso. Papel é um conceito psicodramático do somatório de falas e comportamentos que nos surgem numa relação e em complementaridade do contra papel. Os dois papéis se complementam sendo extremidades de um mesmo vínculo. Serem complementares significa que um é criado em função do outro. Por analogia, uma tampa está para a caneta assim como o filho está para uma mãe. Um só tem funcionalidade em razão da existência do outro. Na relação real, imaginária ou psicodramática. Portanto, a essência da ideia de papel é sua diversidade e flexibilidade. Mais vínculos, mais papéis. poder transitar entre papéis tem seu oposto na cristalização dos papéis. Em que o individuo congela um ou poucos papéis, transformando seus complementares reais em complementares imaginários. Quem cristaliza, p.ex. o papel de filho transforma todas suas relações em relação parental/filho, simplificando. Flexibilidade (para transitar entre os papéis) e multiplicidade vincular (para ter um conjunto universo de papéis, maior).
domingo, 9 de abril de 2023
A passagem
Hoje acordei com saudade de um primo bem mais velho que morreu no Chile em !971. Foi um dos poetas chamados de Geração Mapa no final da década de 50 na Bahia. E uma poesia dele, entre várias que, na distancia de 14 anos de diferença de idade, sempre me marcaram, há uma, em particular:
Pedra e musgo. Silenciosa paz, sombria quietude.
árvores mortas, troncos sazonados, berço e ataúde do mistério vital.
árvores vivas, salmos coloridos, anseios góticos arborizados no interior de estranha catedral.
A par das poderosas imagens criadas pela sua poética, do ritmo quase gregoriano medieval, há essa construção: pedra e musgo.
No Psicodrama há uma palavra, Conserva, que tem um conceito original, embora a palavra seja comum. Na acepção habitual conserva é algo feito para durar, para não ser decomposta pelo tempo. Assim é com as conservas alimentícias. Para o criador do Psicodrama, Moreno, Conserva Cultural é uma produção qualquer da cultura humana que se imobiliza ou é imobilizada. Um livro, por exemplo, enquanto está sendo gestado é algo vivo em constante mutação (Não é, Dani?). Após concluído ele não mais pertence ao autor e sim a quem o lerá. E é nesse ato de ler, por exemplo, que o conceito de conserva cultural pode ser melhor explicado. Pode-se repetir infinitas vezes um poema de Pessoa ou Borges, sempre como um poema de Borges ou Pessoa. Enquanto assim for, será uma conserva cultural. Mas, ao lermos um livro qualquer e ele ser transformado pela minha vivência, deixando de ser apenas um ícone conservado, voltará à vida. Moreno insistia que a vida precisa ser vivida dando vida às conservas culturais. Olhar a Mona Lisa como "A Mona Lisa", à distancia, sem nos apropriamos dela, sem dela fazer parte nossa, é uma conserva cultural. Quem faz essa transformação, quem vivifica essas conservas é a nossa espontaneidade/criatividade. Ela é a força vital que faz que sobre a pedra, morta e conservada, nasça o musgo vivo em transformação.
Postagem em destaque
E assim é.
Experimentar e refletir. Este blog é um espaço para mostrar ideias sobre o psicodrama, sobre o teatro espontâneo. Há mais de trinta anos...
-
Em Socionomia (Psicodrama, Sociodrama, Axiodrama) há um conceito central que não é fácil para ser compreendido e utilizado. Tele. Essa pala...
-
Quando não podemos fazer algo apenas por nós mesmos pedimos ajuda à instrumentos, objetos ou a outras pessoas. Aos míopes, o óculos é um in...
-
CONVITE AO ENCONTRO ( JACOB LEVY MORENO) Mais importante do que a ciência, é o que ela produz, Uma resposta provoca uma centena de p...