Hoje acordei com saudade de um primo bem mais velho que morreu no Chile em !971. Foi um dos poetas chamados de Geração Mapa no final da década de 50 na Bahia. E uma poesia dele, entre várias que, na distancia de 14 anos de diferença de idade, sempre me marcaram, há uma, em particular:
Pedra e musgo. Silenciosa paz, sombria quietude.
árvores mortas, troncos sazonados, berço e ataúde do mistério vital.
árvores vivas, salmos coloridos, anseios góticos arborizados no interior de estranha catedral.
A par das poderosas imagens criadas pela sua poética, do ritmo quase gregoriano medieval, há essa construção: pedra e musgo.
No Psicodrama há uma palavra, Conserva, que tem um conceito original, embora a palavra seja comum. Na acepção habitual conserva é algo feito para durar, para não ser decomposta pelo tempo. Assim é com as conservas alimentícias. Para o criador do Psicodrama, Moreno, Conserva Cultural é uma produção qualquer da cultura humana que se imobiliza ou é imobilizada. Um livro, por exemplo, enquanto está sendo gestado é algo vivo em constante mutação (Não é, Dani?). Após concluído ele não mais pertence ao autor e sim a quem o lerá. E é nesse ato de ler, por exemplo, que o conceito de conserva cultural pode ser melhor explicado. Pode-se repetir infinitas vezes um poema de Pessoa ou Borges, sempre como um poema de Borges ou Pessoa. Enquanto assim for, será uma conserva cultural. Mas, ao lermos um livro qualquer e ele ser transformado pela minha vivência, deixando de ser apenas um ícone conservado, voltará à vida. Moreno insistia que a vida precisa ser vivida dando vida às conservas culturais. Olhar a Mona Lisa como "A Mona Lisa", à distancia, sem nos apropriamos dela, sem dela fazer parte nossa, é uma conserva cultural. Quem faz essa transformação, quem vivifica essas conservas é a nossa espontaneidade/criatividade. Ela é a força vital que faz que sobre a pedra, morta e conservada, nasça o musgo vivo em transformação.
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