O ano do calendário está se encerrando. Chegamos, enfim, hoje, ao dia número 365. E depois o Dia 1 estará aí. O calendário diz que as coisas terminam e recomeçam. Todo ano há um fim de ano e há um primeiro dia do novo ano. Mas, em nós, parece que vivemos como se a estrada da vida fosse uma linha reta de mão única. Parece-nos que os começos são novidades e os fins são definitivos. Talvez por isso a culpa esteja presente sempre em nós, como se o passado fosse sempre passado, irremediavelmente passado. E o futuro nos chega como sempre oportunidades únicas, irrepetíveis, o tal do cavalo selado que só passa uma vez. "Perdeu, playboy!". E se, realmente, olharmos para as coisas como se houvesse, sempre, a possibilidade, de fazer de forma diferente aquilo que se fez e não deu certo? E se pudéssemos experimentar novos erros, em lugar de imobilizarmo-nos na culpa penitencial? Na filosofia Moreniana que embasa o Psicodrama está sempre o presente, palco do passado e da expectativa do futuro. Mas sempre o presente. Onde, ajudados pela louca da casa, a imaginação, podemos experimentar a re-visão do passado e viver o futuro. E, por fim, sair da imobilidade da culpa e da dor (do passado) e da imobilidade do temor (do futuro). Psicodrama é mais do que exercício de técnicas psicodramáticas. Psicodrama é o exercício contínuo da flexibilidade como instrumento do viver. Que possamos cometer erros novos. Porque repeti-los não é inteligente, e não tê-los é estarmos imóveis e imobilizados na vida.
terça-feira, 31 de dezembro de 2024
domingo, 22 de dezembro de 2024
Natal e Psicodrama
A origem do Natal está nas comemorações do Solstício de Inverno no Hemisfério Norte. Solstícios são os pontos da trajetória terrestre em que os hemisférios estão mais próximos (verão) ou mais distantes (inverno) do Sol. Assim, para as tradições místicas do Hemisfério Norte, esse período era quando, em seu hemisfério, Dezembro, a inclinação da Terra em relação ao Sol, voltava a se aproximar, quando o Inverno anunciava o seu fim, quando as esperanças de um novo plantio, de um degelo, surgiam, respondendo à expectativa da espera. Nas tradições místicas isso era o símbolo da renovação, do anúncio de um novo tempo. Avatares e deuses eram comemorados nesse dia. Krishina, Mitra, por exemplo. Por isto a tradição cristã aproveitou-se desse simbolismo. Entre nós é o Solstício de verão, dia mais longo, noite, qualquer que seja o tipo de noite, mais curta. E isso que tem a ver com o nosso Psicodrama/Teatro Espontâneo? Nada. E tudo. Moreno, o criador do Método Socionômico (Psicodrama, Teatro Espontâneo, Sociodrama) era um judeu imbuído das tradições judaicas, principalmente da filosofia hassídica. E esse Hassidismo tinha por base a renovação, a fé na transformação, a esperança de um recomeço. Socionomia, Sociodrama, Psicodrama Morenianos são sempre fundados nessa atitude de mudança, transformação, um novo olhar, uma nova chance, um outro começo. Noites mais e mais curtas, dias e dias mais longos. Que seja assim e assim seja para cada pessoa e para todas as pessoas.
segunda-feira, 16 de dezembro de 2024
estudante e aluno
Nunca fui professor de alunos. Sempre fui professor de estudantes. Em termos psicodramáticos, toda relação se dá entre papéis complementares. O complementar do aluno é o instrutor. O aluno relaciona-se com a instrução, apenas. O papel complementar do estudante é o próprio conhecimento, o professor é o meio de despertar o interesse e compartilhar experiência. Há uma semana recebo um convite (um presente) de um professor de psicologia. Para dar uma entrevista a um grupo que que apresentaria um trabalho sobre Psicodrama. Tivemos um encontro online, longo. E, como sempre considero importante, marquei um encontro grupal e presencial. Aqui um parênteses. Em, geral, os outros métodos psicoterápicos podem ser apreendidos pela leitura de textos confiáveis. Com o Método socionômico, o psicodrama, considero que, sem a experiência direta de uma atividade psicodramática, torna-se quase impossível apreender-se a essência do método. Um relato de um ato psicodramático, para quem nunca o haja vivenciado, pode ser visto como mágico, mágica ou teatrinho (com esse ar depreciativo, mesmo). E, esse pequeno grupo de cinco estudantes, vivenciou uma sessão psicodramática. E hoje eles apresentaram. Mostro, por orgulho deles e de nosso método, algumas depoimentos: "Resumo de conversa: foi foda pra caramba!", "A turma e o professor demonstraram encantamento e curiosidade sobre a nossa experiência. Foi realmente algo muito rico pra nós, enquanto grupo, mas para turma também, que não fazia ideia de como funcionava o psicodrama na prática", "Foi muito bem aceito pela turma". No começo, fiz uma diferença entre estudante e aluno. E que nunca fui professor de alunos e sim de estudantes. As pessoas, em si, não são uma coisa ou outra. Essa relação vincular se constrói pelos que estão interessados. E, nesse caso, o papel do professor é vital, é essencial. Ele não é o detentor do conhecimento, não é fornecedor desse conhecimento, não é um instrutor de saber. Educar ( em latim ex-ducere, conduzir para fora, algo que já está ali, e não enfiar goela abaixo algo estranho à pessoa). obrigado Luzia, Jessika, Fernanda, Eduardo, Juliane. Estudantes, enfim.
quinta-feira, 5 de dezembro de 2024
Novamente Poesia
Há um conhecido poema de Robert Frost, The road not taken ( O caminho não trilhado) que faz referência a alguém que chega em uma floresta e há dois caminhos a partir dali. Frost lamenta que sendo apenas um terá que escolher. Ele escolhe o mais convidativo pela textura da grama. Ao fim, ele diz:
"A estrada se partiu no bosque amarelado –
Tomei dos dois caminhos o menos trilhado,
E justamente isso fez a diferença."
"Two roads diverged in a wood, and I –
I took the one less traveled by,
And that has made all the difference."
E é isto: A escolha faz toda a diferença, e não há como saber como seria o outro caminho caso houvesse sido trilhado. Talvez em universos paralelos possam existir outros Frost que houvessem tomado o outro caminho. Mas, seria o outro Frost. Em cada um dos universos paralelos poderiam existir outros Frost caminhando outros caminhos. Mas, não o mesmo Frost caminhando todos os caminhos. Mas, na imaginação, naquilo que o Psicodrama chama de Realidade Suplementar (que não é tão somente imaginação) é possível experimentar-se COMO SE fossem reais os outros caminhos (os outros mundos possíveis ou até impossíveis) A questão central é qual o nível de aquecimento (isso é o cerne da psicodramatização) que transforma a imaginação simples numa experiência de Realidade Suplementar. O COMO SE acontece quando a experiência afetiva colore de realidade a cena imaginada. É como uma experiência onírica em vigília. Não é, mas É. É como se fosse. É criada para o Protagonista uma (ou umas) realidades que suplementam a então vivida ou imaginada. E isso pode acrescentar ao poema de Frost um toque vivenciado do experienciar. Moreno chamava a isso a Verdade Poética, que não é a dos poetas, mas do próprio protagonista de sua própria história.
segunda-feira, 2 de dezembro de 2024
O Samba do Psicodrama.
Escutava hoje, Dia Nacional do Samba, Feitio de Oração, de Noel Rosa e Vadico. E hoje, embora seja a centésima milionésima vez que escuto essa canção, escutei um verso de outro jeito: "Sambar é chorar de alegria, É sorrir de nostalgia, Dentro da melodia". E mais de cinquenta anos depois, Gil e Caetano fazem Desde que o Samba é Samba: "O samba é o pai do prazer, O samba é o filho da dor, O grande poder transformador". E contemporâneo à Noel e Vadico, Jacob Moreno criava o Psicodrama. E a que leva esse mashup, essa vitamina de frutas diversas? Várias coisas brotam. Uma, que pode-se dramatizar tudo o que for dramatizável num palco, mas "Dentro da melodia". Há que se respeitar os limites da cena dramática, do palco psicodramático. Sair da melodia, desafinar, corresponde às atuações espontaneístas e não espontâneas. Àquelas ditadas pela impulsividade e não pelo aquecimento específico para a cena. E palco psicodramático, tal como o samba, tem o poder transformador de acolher a dor e o prazer. dando-lhes a oportunidade de serem vistos e percebidos pelos seus outros lados. A Terceira Margem do Rio, diria Guimarães Rosa..
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