quarta-feira, 29 de março de 2017

Mitologia e reflexões

Lendo sobre Mitologia Grega refletimos e aprendemos. Harmonia é uma Deusa. E é filha de Afrodite, Deusa do Amor, erótica, sensual e bela, com Ares, Deus da Guerra, impulsivo, violento e sanguinário. Harmonia é filha de pais antagônicos, opostos. Mas, no final das contas, como para haver prole há que haver sexo, quem terminou prevalecendo foi Afrodite.

terça-feira, 28 de março de 2017

Biologia e analogia

Às vezes penso bobagens. Ok. Muitas vezes penso bobagens. Penso muito por analogias. Então, o mundo e tudo o que lhe acontece são fontes de ensinamento para mim. Há pouco pensava sobre o processo biológico do encistamento. Alguns seres unicelulares quando colocados em situação totalmente adversa se encistam. Ou seja tornam-se cistos para resistir. E assim duram muitíssimo tempo. Ao surgirem as condições favoráveis reanimam-se e voltam à vida. Durante aquele tempo em que se encistaram diminuíram ao máximo as trocas com o meio e baixaram seu metabolismo. Enquanto pensava sobre isto pensei na membrana que envolve as células. Elas individualizam essas células, mas são semi-permeáveis. Controlam as trocas com o meio, selecionando o que deve entrar e o que precisa sair. Este longo texto biológico tem sua analogia na vida relacional.O isolamento social é um encistamento social. Necessário para a sobrevivência, mas eliminando as relações que são trocas entre dois ambientes. Uma vida social construtiva pressupõe uma membrana social que nos individualiza e permite o controle das relações de troca afetiva. Uma psicoterapia relacional como é o Psicodrama propõe para os encistados a construção em palco de um meio favorável para sua volta à vida. E para os não encistados, os "normais", que a sua membrana afetiva social seja harmônica e ecologicamente assumida por eles.

segunda-feira, 27 de março de 2017

A louca da casa

Pensando sobre Teatro Espontâneo (TE) aparece uma colagem de ideias. TE é a construção coletiva de uma história grupal. É isto. E o que faz deste ISTO algo tão potente? O exercício da imaginação e sentimento grupal de pertinência. Mas, fiquemos na imaginação, por enquanto. "A louca da casa". Assim, no passado, se falava da imaginação. E essa louca da casa ficava restrita ao ambiente artístico. Aí era seu locus. Aí era permitido a ela, a louca da casa, viver e agir. Ao resto do mundo, o "mundo sério", não cabia referência a essa dama louca. Pessoas sérias, respeitáveis, são "realistas". E ser realista é estar preso a um mundo imutável, rígido, linear. Não vejo muita diferença desse pensar antigo do pensamento vigente hoje. E o Teatro Espontâneo? Um modo de ver o grupo como criador de sua história. Tornar a Louca da Casa o fio condutor da vivência grupal. Imagem em ação, imaginação. E quando se experimenta a existência e força dessa senhora louca da casa, percebe-se que o mundo sério, o mundo do real tão real, pode e necessita ser fecundado por ela. Diz Gilberto Gil: "A agulha do real nas mãos da fantasia". O Teatro Espontâneo dá mãos de fantasia à agulha do real. Intervem no real com a potencia criativa da louca da casa. Nossa imaginação.

terça-feira, 21 de março de 2017

D. Sebastião

QUINTA / D. SEBASTIÃO, REI DE PORTUGAL
                                                     Fernando Pessoa in Mensagem
Louco, sim, louco, porque quis grandeza
Qual a Sorte a não dá.
Não coube em mim minha certeza;
Por isso onde o areal está
Ficou meu ser que houve, não o que há.
Minha loucura, outros que me a tomem
Com o que nela ia.
Sem a loucura que é o homem
Mais que a besta sadia,
Cadáver adiado que procria?


sábado, 18 de março de 2017

Psicofármaco, Psicodrama: Encontro?

Diz o Budismo entre suas Quatro Nobres Verdades: Existe a dor. O ser humano vive sua miséria e sua grandeza por não conhecer o futuro e querer mudar o passado. O primeiro gerando a ansiedade e o segundo gerando a culpa. Assim, entre angústia e a culpa vive este ser humano, demasiado humano. Hipócrates diz nos seus Aforismos: Sedar a dor é uma obra divina. La Rochefoucauld, a certa altura, fala: Todos sabem lidar bem com a dor … dos outros.
 A palavra Terapeuta vem do grego Therapein com o significado de “eu ajudo”. Isto posto temos duas posições frente à dor: a de ajuda e a de cura. Ambas provindo de atitudes existenciais diferentes. A ajuda implica no reconhecimento do esforço e capacidade de cada indivíduo trilhar seu caminho. A cura põe o indivíduo na posição de, passivamente, aguardar que algo lhe seja feito. A atitude de ajuda reconhece no outro seu potencial ao tempo em que reconhece, também, a momentânea ou duradoura dificuldade dele atualizar seu potencial. A atitude de cura tem um aspecto mais onipotente em que, do lado do curador, encontra-se a saúde e a certeza enquanto do lado do paciente estão a dúvida e a doença. A atitude de ajuda estabelece um vínculo no qual o gradiente entre os papéis complementares é menor, muito menor, do que na atitude de cura onde este gradiente é um fosso quase que intransponível ou mesmo intransponível. A atitude de ajuda, por ter um gradiente menor, permite que a inversão de papéis seja possível. A atitude de cura, pelo fosso que origina, cristaliza os papéis de curador e paciente.

Examinado, desta forma, o lado côncavo das ações, olhemos o Psicofármaco e o Psicodrama. De qual ponto de vista estamos olhando? Da ajuda ou da cura? Em ambas as terapêuticas há que se decidir: Se olho o psicofármaco com o olhar de ajuda ele funciona como um ego auxiliar químico para o cliente. Se o vejo com o olho da cura perpetuo no paciente o papel de doente e em mim o papel onipotente de curador. Ambos cristalizados. E o Psicodrama? De que ponto de vista o olhamos? O Diretor como aquele que ajuda é bastante diferente daquele que cura. Se o Diretor é terapeuta (eu ajudo), é dirigido, sim, pelo grupo ou cliente, no sentido de não saber, antecipadamente, qual o melhor para o grupo/cliente. Se o Diretor é um curador já sabe de antemão os destinos do grupo/cliente e, ativamente, o induz/conduz por aquele caminho. Quando meu objetivo é ajudar ao indivíduo/grupo a encontrar sua melhor realização possível, coloco-me longe da posição, ideologicamente determinada, de restringir meios de auxílio. É o leito de Procusto ideológico. O Terapeuta, seja biológico ou psicoterápico, é dirigido pela solicitação do cliente e é o seu momento (do cliente) que seleciona os mecanismos de ajuda, cabendo ao terapeuta (eu ajudo) estar atento e disponível para propiciar estes meios. O exercício de qualquer forma de Terapia (eu ajudo) é um caminho que passa entre o Desespero e a Ilusão: O Desespero da impotência e a Ilusão da onipotência.

segunda-feira, 13 de março de 2017

Dublar, duplo

Duplo, dublê, duplicar, fazer o duplo. Em linguagem corriqueira duplo significa dobro, duas vezes algo, duplicar. E essa palavra - Duplo - é usado em Socionomia (Psicodrama, Sociodrama, Teatro Espontâneo) nomeando umas das suas técnicas fundamentais. Falemos dela um pouco. É, com certeza, a mais difícil de se compreender e usar. Fazer o duplo é colocar-se junto ao protagonista, assumir sua ´postura e expressão corporal e introduzir um novo texto que o ego auxiliar perceba como o que cabe naquele instante. A validação ou não dessa intervenção é dado pelo próprio protagonista. Faz isto com uma confirmação ou negação corporal ou verbal.  NÃO é uma interpretação sobre a ação do protagonista, NÃO é uma sugestão aleatória. Por isto exige que o ego auxiliar assuma a expressão corporal, sinta o que esta postura traz à sua mente. E confie em expressá-lo. A não validação pelo protagonista não invalida o processo. O enorme cuidado é não se deixar levar pelo ânimo interpretativo, opinando em lugar de permitir que sua percepção estimulada pela postura corporal seja acionada. Quando usamos a palavra duplo, entretanto, isto pode confundir. Por isto, o mestre Moysés Aguiar sugeriu uma melhor tradução para Double, palavra em inglês, em vez de Duplo. Em nossa época talvez seja mais fácil entender o conceito técnico do Double traduzindo como DUBLAR. Em cinema e televisão dublar é traduzir em outra língua a expressão falada, mantendo o ritmo, entonação e sentido. E uma boa dublagem é sempre perceptível.  Em nossa caso, pelo protagonista.

quarta-feira, 8 de março de 2017

Incomodar, Acomodar

Em uma conversa usei esta expressão: "Psicodrama, Teatro Espontâneo são mais para incomodar do que acomodar." Depois que usei, essa mesma expressão ficou me incomodando. Refleti e refleti. Para que dramatizamos e concretizamos? Para que fazemos o que fazemos? Para acomodar as pessoas e grupos? Para limpar arestas? Para que? Moreno dizia: "A segunda vez liberta a primeira." De que? De que as ações psicodramáticas são libertadoras? A resposta é: da Conserva. E em Socionomia (psicodrama, teatro espontâneo, sociodrama) conserva cultural é tal qual uma conserva em culinária: algo que permanece imune à transformações. E isto para Moreno e o Psicodrama torna-se seu objetivo de trabalho. Ajudar ao grupo ou pessoa a olhar e vivenciar sob um outro ou outros aspectos. A conserva da qual nos "libertamos" ao dramatizar uma cena é a conserva do vivenciar, do olhar. Aquilo que permanece sem transformação, repetindo-se infinitamente. As ferramentas Socionômicas propiciam às conservas saírem de sua imobilidade existencial e entrar no ciclo de mudanças da vida. E isto incomoda em lugar de acomodar. A dor ou sofrimento conhecidos tornam-se íntimos de quem sofre. Propor-se um novo olhar é sugerir uma viagem a um desconhecido. Sair de um lugar doloroso mas sabido e conhecido, e dirigir-se a uma interrogação. Psicodrama e Teatro Espontâneo incomodam. E é isto que se deseja.

quinta-feira, 2 de março de 2017

Outro que olha

Que Espontaneidade não é fazer o que se dá na telha pensamos saber. Que fazer o que se dá na telha seria melhor chamado de espontaneísmo também pensamos saber. Mas como fazer algo tão contraditório como "treinar" a Espontaneidade? Ao meu ver, criamos numa sessão de Psicodrama ou num ato de Teatro Espontâneo condições para que a Espontaneidade ocorra. Mais do que fazer coisas, seria possibilitar deixar-se de fazer coisas. A Espontaneidade existe desde o nascimento da criança. A disponibilidade para fazer qualquer coisa existe desde sempre. Com o tempo e o passar das experiências aprendemos ou passamos a temer as consequências de nossos atos. Aí a Espontaneidade começa a ser inibida." O que será que devo responder?" "Será que está certo?" O que será que ele ou ela querem saber?" "É permitido?" "E se eu errar?" " E se todos gozarem e rirem do meu erro?" "E se eu passar vergonha?". Isto torna não espontâneo o ser humano em grupo ou individualmente. O que fazemos no aquecimento, e esta sua função vital para a cena, é criar condições para que se baixem as guardas, ajudando a grupalização vivenciada. Há timidez, medo, vergonha quando nos sentimos expostos ao olhar do outro. O aquecimento, ao grupalizar visceralmente os participantes, elimina a vivência do outro que olha. Já não nos sentimos expostos porque somos parte do grupo. Vivenciar a pertinência ao grupo possibilita a Espontaneidade.

Postagem em destaque

E assim é.

Experimentar e refletir.  Este blog é um espaço para mostrar ideias sobre o psicodrama, sobre o teatro espontâneo.  Há mais de trinta anos...