Diz
o Budismo entre suas Quatro Nobres Verdades: Existe a dor. O ser
humano vive sua miséria e sua grandeza por não conhecer o futuro e
querer mudar o passado. O primeiro gerando a ansiedade e o segundo
gerando a culpa. Assim, entre angústia e a culpa vive este ser
humano, demasiado humano. Hipócrates diz nos seus Aforismos: Sedar a
dor é uma obra divina. La Rochefoucauld, a certa altura, fala:
Todos sabem lidar bem com a dor … dos outros.
A
palavra Terapeuta vem do grego Therapein com o significado de “eu ajudo”.
Isto posto temos duas posições frente à dor: a de ajuda e a de
cura. Ambas provindo de atitudes existenciais diferentes. A ajuda
implica no reconhecimento do esforço e capacidade de cada indivíduo
trilhar seu caminho. A cura põe o indivíduo na posição de,
passivamente, aguardar que algo lhe seja feito. A atitude de ajuda
reconhece no outro seu potencial ao tempo em que reconhece, também,
a momentânea ou duradoura dificuldade dele atualizar seu potencial.
A atitude de cura tem um aspecto mais onipotente em que, do lado do
curador, encontra-se a saúde e a certeza enquanto do lado do
paciente estão a dúvida e a doença. A atitude de ajuda estabelece
um vínculo no qual o gradiente entre os papéis complementares é
menor, muito menor, do que na atitude de cura onde este gradiente é
um fosso quase que intransponível ou mesmo intransponível. A
atitude de ajuda, por ter um gradiente menor, permite que a inversão
de papéis seja possível. A atitude de cura, pelo fosso que origina,
cristaliza os papéis de curador e paciente.
Examinado,
desta forma, o lado côncavo das ações, olhemos o Psicofármaco e o Psicodrama. De qual ponto de vista estamos olhando? Da ajuda ou da
cura? Em ambas as terapêuticas há que se decidir: Se olho o
psicofármaco com o olhar de ajuda ele funciona como um ego auxiliar
químico para o cliente. Se o vejo com o olho da cura perpetuo no
paciente o papel de doente e em mim o papel onipotente de curador.
Ambos cristalizados. E o Psicodrama? De que ponto de vista o olhamos?
O Diretor como aquele que ajuda é bastante diferente daquele que
cura. Se o Diretor é terapeuta (eu ajudo), é dirigido, sim, pelo
grupo ou cliente, no sentido de não saber, antecipadamente, qual o
melhor para o grupo/cliente. Se o Diretor é um curador já sabe de
antemão os destinos do grupo/cliente e, ativamente, o induz/conduz
por aquele caminho. Quando meu objetivo é ajudar ao indivíduo/grupo
a encontrar sua melhor realização possível, coloco-me longe da
posição, ideologicamente determinada, de restringir meios de
auxílio. É o leito de Procusto ideológico. O Terapeuta, seja
biológico ou psicoterápico, é dirigido pela solicitação do
cliente e é o seu momento (do cliente) que seleciona os mecanismos
de ajuda, cabendo ao terapeuta (eu ajudo) estar atento e disponível
para propiciar estes meios. O exercício de qualquer forma de Terapia
(eu ajudo) é um caminho que passa entre o Desespero e a Ilusão: O
Desespero da impotência e a Ilusão da onipotência.
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