sábado, 18 de março de 2017

Psicofármaco, Psicodrama: Encontro?

Diz o Budismo entre suas Quatro Nobres Verdades: Existe a dor. O ser humano vive sua miséria e sua grandeza por não conhecer o futuro e querer mudar o passado. O primeiro gerando a ansiedade e o segundo gerando a culpa. Assim, entre angústia e a culpa vive este ser humano, demasiado humano. Hipócrates diz nos seus Aforismos: Sedar a dor é uma obra divina. La Rochefoucauld, a certa altura, fala: Todos sabem lidar bem com a dor … dos outros.
 A palavra Terapeuta vem do grego Therapein com o significado de “eu ajudo”. Isto posto temos duas posições frente à dor: a de ajuda e a de cura. Ambas provindo de atitudes existenciais diferentes. A ajuda implica no reconhecimento do esforço e capacidade de cada indivíduo trilhar seu caminho. A cura põe o indivíduo na posição de, passivamente, aguardar que algo lhe seja feito. A atitude de ajuda reconhece no outro seu potencial ao tempo em que reconhece, também, a momentânea ou duradoura dificuldade dele atualizar seu potencial. A atitude de cura tem um aspecto mais onipotente em que, do lado do curador, encontra-se a saúde e a certeza enquanto do lado do paciente estão a dúvida e a doença. A atitude de ajuda estabelece um vínculo no qual o gradiente entre os papéis complementares é menor, muito menor, do que na atitude de cura onde este gradiente é um fosso quase que intransponível ou mesmo intransponível. A atitude de ajuda, por ter um gradiente menor, permite que a inversão de papéis seja possível. A atitude de cura, pelo fosso que origina, cristaliza os papéis de curador e paciente.

Examinado, desta forma, o lado côncavo das ações, olhemos o Psicofármaco e o Psicodrama. De qual ponto de vista estamos olhando? Da ajuda ou da cura? Em ambas as terapêuticas há que se decidir: Se olho o psicofármaco com o olhar de ajuda ele funciona como um ego auxiliar químico para o cliente. Se o vejo com o olho da cura perpetuo no paciente o papel de doente e em mim o papel onipotente de curador. Ambos cristalizados. E o Psicodrama? De que ponto de vista o olhamos? O Diretor como aquele que ajuda é bastante diferente daquele que cura. Se o Diretor é terapeuta (eu ajudo), é dirigido, sim, pelo grupo ou cliente, no sentido de não saber, antecipadamente, qual o melhor para o grupo/cliente. Se o Diretor é um curador já sabe de antemão os destinos do grupo/cliente e, ativamente, o induz/conduz por aquele caminho. Quando meu objetivo é ajudar ao indivíduo/grupo a encontrar sua melhor realização possível, coloco-me longe da posição, ideologicamente determinada, de restringir meios de auxílio. É o leito de Procusto ideológico. O Terapeuta, seja biológico ou psicoterápico, é dirigido pela solicitação do cliente e é o seu momento (do cliente) que seleciona os mecanismos de ajuda, cabendo ao terapeuta (eu ajudo) estar atento e disponível para propiciar estes meios. O exercício de qualquer forma de Terapia (eu ajudo) é um caminho que passa entre o Desespero e a Ilusão: O Desespero da impotência e a Ilusão da onipotência.

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Experimentar e refletir.  Este blog é um espaço para mostrar ideias sobre o psicodrama, sobre o teatro espontâneo.  Há mais de trinta anos...