Há dois dias uma irmã passou pela transição, faleceu. Vê-la ir-se apagando lentamente, estar ao seu lado até o fim foi doloroso. Mas, há coisas a serem feitas, há providências a tomar. Mas há também pessoas a cuidar, pessoas que precisam de suporte nessa hora tão sofrida. E é nessa hora, percebendo a dor que estou sentindo por uma perda e, ao mesmo tempo, percebendo que há outras pessoas em volta que precisam ser ajudadas; perceber que eu preciso de ajuda e perceber que há algo que precisa ser feito. Eu preciso de ajuda, mas ao lado de minha dor consigo distinguir os caminhos que preciso percorrer em relação a outros. Escrever sobre minha experiência me ajuda a localizá-la e a lidar com ela. Isso que experienciei em carne viva, é o que em Psicodrama, Socionomia, Teatro Espontâneo, se chama de diferenciação no papel. Estar diferenciado no papel de Diretor/Condutor das formas socionomicas de atuação é, sem deixar de sentir o que possa sentir, manter a atenção no grupo. É perceber quando suas ações estão sendo motivadas pela necessidade cênica, do palco psicodramático, da cena psicodramática ou estão sendo motivadas exclusivamente pelos quadros afetivos, cognitivos pessoais, em prejuízo da cena, do grupo, do protagonista. Então, a pergunta sempre que deve ser feita pelo Diretor/Condutor é: "O que está me motivando a fazer essa escolha?". Estar aquecido no papel de Diretor exige essa pergunta sempre, a todo e qualquer momento, o Condutor/Diretor pode se indiferenciar e sair, desaquecer-se de seu papel. Posso sentir tudo, mas de tudo o que sinto e percebo o que será e é útil para o protagonista, para o grupo?
domingo, 29 de julho de 2018
sábado, 21 de julho de 2018
Sapato 36
Sapato 36
Raul Seixas
Raul Seixas
Eu
calço é 37
Meu pai me dá 36
Dói, mas no dia seguinte
Aperto meu pé outra vez
Eu aperto meu pé outra vez
Meu pai me dá 36
Dói, mas no dia seguinte
Aperto meu pé outra vez
Eu aperto meu pé outra vez
Pai
eu já tô crescidinho
Pague prá ver, que eu aposto
Vou escolher meu sapato
E andar do jeito que eu gosto
E andar do jeito que eu gosto
Pague prá ver, que eu aposto
Vou escolher meu sapato
E andar do jeito que eu gosto
E andar do jeito que eu gosto
Por
que cargas d'águas
Você acha que tem o direito
De afogar tudo aquilo que eu
Sinto em meu peito
Você só vai ter o respeito que quer
Na realidade
No dia em que você souber respeitar
A minha vontade
Meu pai
Meu pai
Você acha que tem o direito
De afogar tudo aquilo que eu
Sinto em meu peito
Você só vai ter o respeito que quer
Na realidade
No dia em que você souber respeitar
A minha vontade
Meu pai
Meu pai
Pai
já tô indo-me embora
Quero partir sem brigar
Pois eu já escolhi meu sapato
Que não vai mais me apertar
Que não vai mais me apertar
Que não vai mais me apertar
Quero partir sem brigar
Pois eu já escolhi meu sapato
Que não vai mais me apertar
Que não vai mais me apertar
Que não vai mais me apertar
Raul Seixas é um dos meus músicos preferidos. Pela milionésima vez andei ouvindo essa música. E esses versos da primeira estrofe sempre me chamaram a atenção:
"Eu calço é 37, meu pai me dá 36. Dói, mas no dia seguinte, aperto meu pé outra vez. EU APERTO MEU PÉ OUTRA VEZ."
Que essa música refere-se à crise de identidade e autonomia do adolescente é transparente. Entretanto, esse versos podem ser lidos em toda a vida do individuo. Claro que o sapato é 36. Claro que meu pé é 37. Mas o ato de calçá-lo é meu ato. É minha ação. Façamos uma adaptação da letra dessa música às condições de uma psicoterapia. As queixas são, em grande parte, da discrepância entre o tamanho do sapato oferecido pela vida e o tamanho real do pé que o calçará. Mas continuar a calçar um sapato de tamanho inadequado pelo resto da vida, limitando-se a queixar-se da diferença de tamanho é o que Moreno chamaria de Conserva. Manter uma atitude prejudicial, uma forma de agir destrutiva, um viver doloroso, deixando de, simplesmente ou não tão simplesmente, encarar a possibilidade de não calçar o sapato de tamanho tão discrepante, destrutivo e doloroso.
domingo, 15 de julho de 2018
Sartre, Moreno, vida
Em meio a um texto que estava lendo havia essa citação de Sartre, em o Ser e o Nada: "O passado é algo que nos pertence, mas não podemos viver". Frase curta e potente. Quantas coisa nos pertencem, mas não podemos viver? Coisas que temos, mas só se as vivermos é que serão nossas? O passado nos pertence, mas é no presente que vivo. "Viver é melhor que sonhar" diz Belchior. Mas o que é viver? Viver é durar, é passar pelo tempo, meramente existir? Para, talvez, ultrapassar essa dúvida existe outra palavra. Vivenciar. Viver com consciência, viver percebendo que e o que se vive. Aí voltamos ao mundo Socionomico, ao mundo do Psicodrama, o Teatro Espontâneo. "A segunda vez dramatizada liberta a primeira". A primeira vez pertence ao passado. É nossa, mas não a podemos viver. E viver é ser transformado, é submeter-se ao processo dinâmico, é deixar de estar congelado. Aos métodos socionomicos, ao Psicodrama, ao Teatro Espontâneo, cabe lidar com o passado que é nosso, e com o nosso futuro que também são nosso, mas não os vivemos. O palco psicodramático, a cena psicodramática é onde essa alquimia, essa mágica, essa vitalização da vida (valendo a redundância) acontece.
terça-feira, 10 de julho de 2018
Atlas x Super Homem
Sempre aprendo e reflito muito com os meus pacientes. Em meio a um trabalho com uma pessoa apareceu essa reflexão ou comentário: Há duas formas de onipotência. Onipotência ativa e onipotência passiva. O onipotente ativo exibe uma personagem autoritária, que tudo faz, tudo pode. O onipotente passivo exibe uma personagem que suporta tudo, aguenta tudo, é responsável por tudo. A primeira personagem poderia ser o Super Homem. A segunda personagem poderia ser o Titã Atlas, aquele da mitologia grega que suporta o mundo em seus ombros. Ao Super homem é mais fácil se perceber seu caráter onipotente, ativamente onipotente. Essa personagem talvez não seja frequente em psicoterapia. A segunda personagem, frequentadora assíduo de psicoterapias, chega sempre com o texto de tudo recair sobre si, do tremendo peso que a vida lhe carrega. Para essa personagem reconhecer-se no caráter onipotente torna-se mais difícil. O texto dito é de peso e sofrimento, mas o sub texto é de poder onipotente.
segunda-feira, 2 de julho de 2018
Homer Simpson
Há uma personagem de desenho animado, o Homer Simpson. E há na internet várias frases atribuídas a ele. Uma dessas é: "A pressuposição é mãe de todas as merdas". Isso não poderia ser mais explícito para definir a postura, a atitude fenomenológica. A Fenomenologia toma o fato como um fenômeno, como ele aparece, sem pressuposições e sem interpretações. E o Psicodrama, a Socionomia, O Sociodrama, o Teatro Espontâneo são da família fenomenológica. Ao psicodramista não cabe pressupor nem interpretar. A ele cabe ajudar a produzir a cena, a imagem e ao protagonista cabe ver com seus olhos. A cena produz e desdobra-se em outras cenas. O que se busca são todas as possibilidades que aquela cena ou imagem podem gerar. E sempre ao protagonista e ao grupo cabe experimentar e produzir sua própria visão de mundo. Obrigado, Homer!
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