quarta-feira, 25 de março de 2020

Solidão e Alceu Valença

A solidão é fera, a solidão devora
É amiga das horas, prima irmã do tempo
E faz nossos relógios caminharem lentos
Causando um descompasso no meu coração
Solidão
A solidão dos astros
A solidão da lua
A solidão da noite
A solidão da rua 
                Solidão, Alceu Valença
Escutava hoje essa música de Alceu. E pensei. Existem decisões de mandatos que a lógica manda cumprir. Mas é necessário levar-se em conta que tudo tem preço. No caso dessa pandemia e o consequente isolamento como medida extremamente necessária, há preços para os velhos, não só, mas para todos. E falo agora de preços emocionais. O ser humano é um bicho relacional. Ou seja, ele se constitui em relação com o outro. Aliás, esse é o pilar da filosofia Moreniana, a Socionomia. E essa relação é construída pelos vínculos. O vínculo, em latim e italiano é sinônimo de corrente, elo. O vínculo une as duas pontas da relação entre papéis. Então, há diferenças enormes entre estar só  e sentir-se só. Estar só é espacial. O isolamento nos põe sós. Sentir-se só é não ter vínculos que se sustentem na ausência física. Estar só é espacial. Sentir-se só é de natureza vincular. O que está sendo cobrado é que fiquemos sós, isolados. Mas, o velho, principalmente, mas não unicamente, necessita muito e muito de não se sentir só. Ele pode estar só , mas precisa da atenção afetiva. No afã de proteger o corpo do velho (não somente eles), podemos estar agredindo seu coração. Como bem diz Alceu Valença:
A solidão é fera, a solidão devora. É amiga das horas, prima irmã do tempo.
E faz nossos relógios caminharem lentos
Causando um descompasso no meu coração.
Solidão

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