segunda-feira, 7 de outubro de 2024

Puxa!

 Voltando a um tema algo complicado no Psicodrama. Há algum tempo usa-se a palavra empatia com muita frequência. "Vc não tem empatia", "vc precisa desenvolver empatia". a forma como é dita e cobrada lembra um atributo moral ou uma virtude ou m defeito em sua ausência. etimologicamente, empatia vem do grego em (dentro) + pathos (sentimento). O que seria "sentir de dentro" uma tradução aproximada. Até hoje em Grécia é usada nesse sentido. A capacidade de colocar-se no lugar no outro sentindo aproximadamente o que ele (o outro) sente. Em fenomenologia não não é usada como um atributo ou virtude moral. É uma ferramenta de investigação. E essa ferramenta pressupõe um preparo para ser exercida. esse preparo é uma profunda e honesta depuração dos prejulgamentos, dos preconceitos. com isso feito no maior rigor pode ser exercida como ferramenta diagnóstica. Mas, isso sempre exige que haja uma validação por parte do investigado. Foi dessa forma que o psiquiatra e filósofo Karl Jaspers trouxe para a psiquiatria o conhecimento da fenomenologia. E Moreno? Ele estava desenvolvendo um conceito de empatia, mão dupla. Essa empatia recíproca, base da relação entre papéis, ele chamou de Tele. Algo que, à distância permitia que duas pessoas em relação pudessem se perceber com mais nitidez. Ele expressou isso num poema escrito muito tempo antes do próprio conceito: Um encontro de dois: olhos nos olhos, face a face, e quando você estiver perto arrancarei seus olhos e os colocarei no lugar dos meus; arrancarei os meus olhos e os colocarei no lugar dos seus; então verei você com os seus olhos e você me verá com os meus olhos. Essa empatia dupla de Moreno, a Tele, não seria mais um instrumento investigatório, mas sim a base de compreensão do das escolhas soicoométricas. Ou seja, é a possibilidade de nos reconhecermos com os mesmos sinais que possibilita uma relação saudável. Isso significa que se eu e outra pessoa nos vemos e nos percebemos como inimigos, p.ex., isso é télico. porque seria pouco saudável se o vejo como inimigo e ele como amigo, simplificando. Para que não se transforme em um atributo que uns têm e outros não, que uns têm muito e outros o têm pouco, Moysés Aguiar nos ajudou trazendo a ideia de projeto cênico comum. Ou seja, numa peça, em um palco, os personagens precisam se complementar. nas relações, caso eu esteja num drama romântico e a outra pessoa em uma comédia satírica seria um projeto não télico. É algo da construção das relações, não é uma qualidade pessoal. As relações é que podem ser télicas ou não télicas, e não as pessoas envolvidas.

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