Com o longo tempo e grande número de atividades públicas de Teatro Espontâneo/Psicodrama/Sociodrama penso algumas coisas sobre fazer essas atividades socionômicas em circunstâncias difíceis. Divido
em expectativas e contexto físico. O contexto grupal terapêutico é
bastante diferente do contexto grupal em uma atividade aberta,
pública. Uma questão importante que o Diretor/Condutor deve atentar
é que no contexto terapêutico os participantes têm um compromisso
tácito de frequência e permanência no grupo. Em uma atividade
pública as pessoas entram e saem na medida de sua conveniência ou
interesse. O único empecilho para a saída antecipada do
participante seria a vergonha de atravessar o espaço físico. Nestas
atividades abertas, públicas mais do que nunca o aquecimento é
vital. Torna-se mandatório perceber a queda de atenção do
participante, estar vigilante para o ritmo da cena, para o interesse
despertado porque nada prende a pessoa como membro do grupo, só este
interesse. Daí porque quem trabalha com TE é tão cuidadoso quanto
ao ritmo da cena e é tão cioso do aquecimento. O julgamento crítico
negativo do grupo é exibido clara e cruamente pela saída
progressiva dos participantes. Temos outra dificuldade que é fruto
até próprio bom desenrolar da atividade de TE. É quando dentro de
uma história criada emerge uma situação pessoal que pela sua
intensidade não pode apenas ser acolhida à parte do desenrolar. É
quando se entra no conflito ético de precisar trabalhar como
Psicodrama Público quando a proposta era de TE. As poucas vezes em
que isto aconteceu a cena original foi congelada e levantada a
questão para a pessoa e para o grupo de como seguiríamos. Alguma
vez houve acordo da pessoa e do grupo para trabalharmos a questão
pessoal. Em uma ocasião, como Diretor/Condutor tomei a iniciativa de
não dar prosseguimento ao trabalho embora aceite pelo grupo e pela
pessoa por considerar que, naquele momento, não havia nem haveria
continência para um trabalho de cunho terapêutico stricto sensu.
Mas, enfim, este é um risco inerente a todo trabalho grupal e, ainda
que devamos nos prevenir, às vezes não há como evitar lidar com
este dilema. A decisão será sempre levando em conta o grupo, a
pessoa e a sensibilidade télica do Diretor/Condutor.
A
outra parte de dificuldade refere-se ao contexto físico, ao espaço
destinado ao trabalho. O espaço há que ser proporcional ao tamanho
do grupo. Grupo grande em espaço pequeno é tão problemático
quanto grupo pequeno em espaço muito grande. O primeiro é
complicado pela limitação de movimento e o segundo complica pela
sensação grupal de pequenez, como se reduzisse a importância do
grupo, acentuando seu pequeno tamanho. A compatibilização é muito
importante para o aquecimento e desdobramento do trabalho. A presença
de cadeiras fixas torna-se um empecilho considerável. Neste caso
pode-se pensar nos corredores, na parte da frente das cadeiras. Tudo
na dependência do tamanho do grupo. Em último caso, há a
possibilidade de fazer-se o aquecimento nos próprios lugares, usando
mais a palavra. Cantos, jogos verbais, desafios entre partes do
auditório podem ser usados deixando os poucos espaços livres para a
cena em si. Não nos esqueçamos nunca que a palavra também pode ser
uma forma de ação. Locais sem cadeiras, espaços abertos, podem não
ser muito bons para pessoas com limitações físicas ou com idade
avançada. Isto favoreceria a saída precoce destas pessoas, não por
desinteresse, mas por desconforto. Então, é necessário perceber os
sinais de desconforto físico, minimizá-los se possível, ou
trabalhar a saída delas de maneira que não seja desaquecimento para
o grupo e que elas, ao sair, não se sintam inteiramente frustradas
ou discriminadas.
Estes
são alguns exemplos de dificuldades no exercício do ato socionomico
em espaço público ou aberto. Entretanto, lembremos alguns pontos:
não esperemos a situação ideal; o método psicodramático
pressupõe que tomemos a realidade tal como ela se apresenta; o
Diretor/Condutor não carrega o grupo, não é o responsável
solitário pelas decisões e escolhas; cabe ao Diretor/Condutor,
seguindo o método socionômico, ter sempre em mente que ele é
membro do grupo, em papel diferenciado; trazer para o grupo os
problemas e dificuldades porque ao grupo cabe encontrar a forma
melhor e adequada de lidar com estes percalços.
Enfim,
o método socionômico é a nossa ferramenta para lidar com as
dificuldades operacionais.
Há que se viver o método, tornando-o
parte inerente do exercício de todos, todos mesmos, instantes da
atividade grupal. Ou seja, dificuldades e problemas podem ser
aquecimento.
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