Quando falamos ou ouvimos a palavra papel, em geral, é como se ouvíssemos ou falássemos algo como representação, falsidade ou não verdadeiro. Transpondo do contexto teatral para a vida. Quando Moreno se apropria da palavra papel (Role, em inglês) ele o usa num contexto particular, o da socionomia. O cerne do pensamento Moreniano é que o ser humano é um ser relacional. Portanto, todo o pensamento socionômico, moreniano, está numa frase dele: "Não é que não haja o mundo intrapsíquico, mas me interessa o interpsíquico". E papel, então? No dizer moreniano o papel surge quando interage. com outro papel. O papel sempre pressupõe o papel complementar. Ele não existe só. Para haver paternidade ou maternidade há que haver o papel de filho, real e concreto, imaginário ou não. Toda intervenção num papel não é uma intervenção isolada do mundo. Há que se ver esse papel interagindo em outros contextos ou com outros papéis complementares. Isto tudo para falar sobre algo que escutei ultimamente. "Já faço tratamento ortodôntico (ou fisioterápico) há anos e não funciona". Pergunto sempre: E você vai às revisões mensais (ou sessões ou exercícios em casa) regularmente, sem faltar? Sempre ouço essas respostas: "Às vezes não, mas já era para ter produzido algum efeito". Isto também ocorre em psicoterapia. Há uma espécie de fantasia onipotente colocada no profissional pelo cliente/paciente. Em termos socionômicos diremos que a relação paciente - profissional exige os dois papéis: o profissional e o cliente. Ambos se complementam mutuamente. Não é possível exercer o papel de psicoterapeuta sem que o outro assuma o papel de cliente ou paciente. Enfim, Psicoterapeuta e paciente complementam-se para desempenhar um ato. Algo diametralmente oposto ao ato cirúrgico complexo. o cirurgião desemprenha seu papel quase completamente independentemente de seu complementar o paciente na maca. Quase. Porque há que se contar com a reação orgânica no ato cirúrgico. O paciente - cliente de psicoterapia tem o papel protagônico na relação terapêutica. O papel complementar de psicoterapeuta corresponderia mais ao "escada" do circo ou teatro: aquele que prepara a piada, prepara o desfecho, cria as condições cênicas. Mas a piada, o desfecho é do protagonista.
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