terça-feira, 6 de agosto de 2024

Propaganda e Psicodrama

 Gosto de observar propaganda. Elas, como são destinadas a vender um produto, captam a essência do Zeitgeist , do espírito do tempo, de forma pragmática. Vi um outdoor (em português (???), em inglês seria billboard). Lá estava: "Qual a diferença entre homens e ícones". O produto a ser vendido era um curso para transformar as pessoas em celebridades (?), em "ícones". Estava de carona e tive tempo de ler e pensar. Ícone em grego é imagem, estátua. Na igreja Bizantina aqueles quadros são chamados de Ícones. E pensei. No Psicodrama privilegiamos a flexibilidade, a mudança, e chamamos de conservas culturais àquelas situações que são tomadas sempre de uma mesma maneira, não são recriadas. A conserva é o que se mantém inalterado, fixo, estável. A Espontaneidade Criatividade permitem que se reelabore a conserva, lhe dê uma novo uso, uma nova saída, uma nova e adequada resposta, em lugar da mera repetição. A conserva cultural cria a cultura ( Que aliteração!), mas sem ser renovada e recriada conduz à imobilidade. Aí ela se torna uma questão psicodramática. As respostas emocionais e comportamentais conservadas constituem (Outra aliteração!), os sintomas, as nossas queixas humanas. E aí? que tem a ver com o outdoor? Uma imagem é uma conserva cultural. Algo fixo, preservado, sempre o mesmo, mas submetido ao desgaste temporal. O que me vem à cabeça é a cena bíblica da mudança da mulher de  Lot em uma estátua de sal. Imóvel no tempo, sem ação, sem vida, sem autonomia. Uma condenação pela violação de uma ordem. E, hoje buscamos nos transformar em ícones. Presos à nossa imagem exposta e consumida nas chamadas redes sociais (redes comerciais). De punição tornou-se meta, símbolo de sucesso. Ser condenado a uma eterna e imutável imagem, sem escolha, sempre presos a si, sem vínculos. Para o Psicodrama, seria o nosso antidestino.

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Experimentar e refletir.  Este blog é um espaço para mostrar ideias sobre o psicodrama, sobre o teatro espontâneo.  Há mais de trinta anos...