segunda-feira, 17 de outubro de 2016

E se?

Moreno, criador do Psicodrama, introduziu conceitos técnicos que , para serem compreendidos tem que ser vivenciados. Sob pena de serem inócuos. Quando traz, dentro da Teoria de Papeis, as palavras Role-Taking (tomada, aprendizado do papel), Role-Playing (desempenho, jogo, atuação do papel) e Role-Creating (criação no papel) elas se tornam ao longo do tempo nisto: palavras, apenas palavras. E passam a ideia que são etapas sucessivas e estáticas. Como passar de ano. Como ser graduado.algo que se obtém e passa ser permanente, incorporado ao indivíduo, cristalizado, enfim. E se pensarmos diferentes? E se imaginarmos isto como um fluxo contínuo, como uma espiral em movimento? E se pensarmos isto como algo que continuamente acontece. Ou pode acontecer. Que sempre, em qualquer papel que desempenhemos, qualquer um, podemos estar sempre retornando à situação de aprendizado, domínio da atuação. Pode ser médico, paciente, cônjuge, pedreiro, artesão. Permitirmo-nos continuamente estar entrando nessas situações. Permitirmo-nos, às vezes, criar alternativas não prescritas de atuação. não permitir que cristalizamos naquela forma em que o papel foi aprendido. Dar uma colher de chá à mudança. 

Um comentário:

  1. Para compreender precisamos vivenciar ... isso me lembra bastante a pedagogia de Paulo Freire e as pontes dessa pedagogia com o Psicodrama Moreniano. Assim, pensando nas cristalizações dos papéis, acredito que na aprendizagem e, por consequência, na vida, estamos vivendo um momento de crise que se evidencia na presença de bolsões de um saber herdado em vias de tornar-se conserva. Ou então do reconhecimento da presença de uma maquinaria burocrática que, submetendo a ela todos os protagonistas de um processo de formação, acaba asfixiando as tentativas criativas, tirando do homem o que ele tem de mais precioso: a tele, a espontaneidade. Segundo Romaña (1998), em alguns casos, a existência de crise produz um paradoxal efeito tranquilizador, no sentido de nos livrar da responsabilidade de ter de mudar. Porque, se no nosso íntimo achamos que não fomos nós que a produzimos, por que deveríamos mexer com ela, pensar em mudar alguma coisa, considerando todo o esforço e ginástica mental e de relacionamentos que implica? Nesses casos a conclusão é: "vamos deixar como está" ou "vamos mudar apenas o necessário para não mudar nada". Acredito na importância de investir num projeto de renovação buscando assim recontextualizar e reconstruir o ambiente e os atores do processo da vida. Parafraseando Freire, o ato criativo deve ser sempre um ato de recriação, de ressignificação de significados. Moreno também propõe uma revolução criadora provocadora de novos sentidos e possibilidades para além das conservas culturais. Precisamos mudar nossa práxis e dar, realmente, uma colher de chá à mudança.

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