Sempre temos visto escritos sobre o TE e todos dentro da perspectiva da ressonância junto à plateia, do potencial de transformação grupal ou dos protagonistas por meio da estética do momento. Quero agora refletir sobre outra vertente possível. O que muda no Diretor psicodramático que se dedica ao TE? O que se altera na sua prática, ainda que não seja teatro espontâneo que ele esteja realizando? Que especificidade de olhar psicodramático tem o diretor praticante de TE? Há alguma especificidade? Que importância tem para o psicodramista in status nascendi participar de TE?
Utilizando estas perguntas como iniciadores verbais, passemos a refletir. A rigor, o primeiro combatente (proto-agonista) é o que primeiro põe o pé no palco. Assim, o primeiro a proto-agonizar é o Diretor Psicodramático. Ele, naquele momento, é o que mais arrisca, o foco da atenção está sobre ele, espera-se um algo qualquer dele. Neste primeiro momento, a espontaneidade/criatividade do Diretor encontra seu maior espaço de desafio. O ritmo, a estética, a linha condutora advirá desta mesma espontaneidade criativa. Para saber enxergar e ouvir o grupo o Diretor precisa estar aberto, disponível, sem armaduras ou defesas prévias. E isto é exatamente o que o trabalho com o TE ajuda a desenvolver. O foco estético no TE é o eixo onde gira a Direção. Por isto, o cuidado com o ritmo, a fluidez, a ressonância junto ao grupo, a atenção particularmente quanto à manutenção do aquecimento grupal. Isto é vital. Porque se corre o risco, ao não se atentar para o aquecimento, que a plateia se esvazie. Como não há compromisso terapêutico, a plateia permanece enquanto se encontra motivada, interessada. Outro aspecto importante e curioso é que o público se apropria de partes ou trechos do acontecido. No compartilhamento é que se percebe que, da obra realizada, cada pessoa, cada parte da plateia, pinçou, apropriou-se de algo diferente.
Para o Diretor é necessário não ter uma postura autoral, quem dá (ou não dá) sentido ao acontecido é o público. Como o Diretor de TE trabalha fora da psiquiatria/psicologia, apresentando-se sem este aval, fica totalmente entregue ao que ele consegue construir junto com o grupo. Sua segurança virá da sua confiança em que o grupo é senhor e construtor de seu destino cênico. O grupo é que se dirige. Cabe ao Diretor, tão somente, dar forma esteticamente resolvida à dramatização.
Os psicodramistas não precisam todos fazer TE, mas se beneficiariam muito ao trabalhar com a ideia de ritmo e estética, de atentar sempre e sempre para o aquecimento grupal, de diminuir sua importância pessoal e ampliar sua confiança na capacidade de construção grupal. Por isto, fazendo Teatro Espontâneo farão um melhor Sócio Psicodrama.
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