O ano do calendário está se encerrando. Chegará, enfim, amanhã, o dia número 365. E depois o Dia 1 estará aí. O calendário diz que as coisas terminam e recomeçam. Todo ano há um fim de ano e há um primeiro dia do novo ano. Mas, em nós, parece que vivemos como se a estrada da vida fosse uma linha reta de mão única. Parece-nos que os começos são novidades e os fins são definitivos. Talvez por isso a culpa esteja presente sempre em nós, como se o passado fosse sempre passado, irremediavelmente passado. E o futuro nos chega como sempre oportunidades únicas, irrepetíveis, o tal do cavalo selado que só passa uma vez. "Perdeu, playboy!". E se, realmente, olharmos para as coisas como se houvesse, sempre, a possibilidade, de fazer de forma diferente aquilo que se fez e não deu certo? E se pudéssemos experimentar novos erros, em lugar de imobilizarmo-nos na culpa penitencial? Na filosofia Moreniana que embasa o Psicodrama está sempre o presente, palco do passado e da expectativa do futuro. Mas sempre o presente. Onde, ajudados pela louca da casa, a imaginação, podemos experimentar a re-visão do passado e viver o futuro. E, por fim, sair da imobilidade da culpa e da dor (do passado) e da imobilidade do temor (do futuro). Psicodrama é mais do que exercício de técnicas psicodramáticas. Psicodrama é o exercício contínuo da flexibilidade como instrumento do viver. Que possamos cometer erros novos. Porque repeti-los não é inteligente, e não tê-los é estarmos imóveis e imobilizados na vida.
quinta-feira, 30 de dezembro de 2021
segunda-feira, 27 de dezembro de 2021
Star Wars e a Loja Mágica
Há alguns dias estava assistindo a Império Contra-Ataca, Star Wars. E Yoda, Mestre Jedi, ao ser perguntado por Luke o que encontraria na caverna, responde: "Você encontrará o que você levar com você". Hoje, cedo, li uma provocação de um velho amigo Jorge Augusto (Gina) sobre uma técnica muita conhecida do Psicodrama, a Loja Mágica. Esse jogo dramático é simples. Alguém assume uma loja e todos do grupo podem vir pegar o que quiser e levar. Mas, há uma condição: tem que deixar algo em troca que talvez outro pegue. Se, imaginariamente, pretendo levar "criatividade", preciso escolher o que deixar. Impulsividade, p. ex. Mas, talvez o próximo que viesse buscar paz, escolha a impulsividade deixada pelo outro e explique :"Percebi que preciso é de mais ação, movimentar-me mais, deixar de ficar à espera". Não é certo e errado, não é bom ou ruim. É sobre perceber o que se tem e de que se precisa. É sobre sair do pensar estereotipado. Talvez haja sido o que Mestre Yoda queria fazer Luke perceber: Se não sabemos o que temos e carregamos encontraremos sempre isto pelo caminho. Ao Psicodrama/Teatro Espontâneo cabe a perspectiva do explorar, experimentar dramaticamente, de possibilitar sair dos caminhos antigos e, por isso, conhecidos e repetidos. Falando psicodramaticamente, a forma de sentir, pensar, ver e agir conservadas, tornadas conservas, fixas e imutáveis, podem ser (e são!) atingidas e modificadas pela experiência psicodramática.
quarta-feira, 22 de dezembro de 2021
De Solstícios e Anos Novos
Como a órbita da Terra é elíptica e o globo terrestre ocupa um dos focos da elipse, em dois períodos do ano o dia é mais longo (Solstício de Verão) ou mais curto (Solstício de Inverno). E em dois períodos, os dias e noites têm a mesma duração (Equinócios de Primavera e Outono). Nos tempos antigos esse eram sinalizadores de tempo para os seres humanos. O Equinócio de Primavera marcava o inicio do ano, do plantio. No Hemisfério Norte corresponde a meados de Março. O Solstício de Verão (meados de Junho) no Norte era comemorado com fogueiras. E o Solstício de Inverno (meados de Dezembro), como era a noite mais longa do ano, marcava o fim da trajetória de Inverno e o início da caminhada do Sol em direção à Primavera. Essa data sempre foi considerada no hemisfério Norte como a data de nascimento de grandes guias da humanidade. Krishna, Mitra, e posteriormente, Jesus, por anunciar o retorno à vida depois de inverno rigoroso. Para nós do Hemisfério Sul prece contraditório por termos herdado a cultura do Norte. Mas, independentemente da geografia, o simbolismo permanece. O tempo sempre foi cíclico para a humanidade. Após inverno, o renascimento da primavera. Após gelo e penúria, pode-se esperar o plantio e a abundância. O tempo mítico sempre foi cíclico. Nossa cultura competitiva é que criou o tempo linear, de sucesso ou fracasso, ganhar ou perder, ser o primeiro ou ser derrotado. O fim do ano, o fechamento do ano gregoriano, traz embutido a sensação de nova chance, novos planos, novas oportunidades. "Promessas de ano-novo". Essa possibilidade de fazer de outro jeito, de experimentar outros caminhos, de fechar um ciclo e abrir novos ciclos, de sair do imobilismo trágico, é a filosofia Moreniana do Psicodrama. Que seja um feliz Solstício (Verão ou Inverno) e que seja uma nova Primavera. Que seja um novo ano!
quarta-feira, 15 de dezembro de 2021
Pra você
Em 1970 o cantor e compositor Silvio Cesar (os mais antigos lembrarão!) lançou a música Pra Você, sucesso estourado à época. No final há esse verso: "Ah, se eu fosse você, eu voltava pra mim". Solução poética maravilhosa. E, psicodramaticamente, também. O conceito de Inversão de Papéis, não só uma das três técnicas fundamentais do Psicodrama, como é, também, o grande objetivo relacional da Socionomia. .A possibilidade de inverter os papéis numa relação permite que os dois envolvidos acrescentem a visão de mundo do outro à sua própria. Quanto mais inversões de papéis aconteçam nos vínculos, mais eles se tornam estáveis. Menos monólogos alternados e mais diálogos reais. No verso de Sílvio César, imaginemos a cena em um palco psicodramático: o casal, o par, e um diz: "eu quero voltar para você". Invertem os papéis. Aquele que escutou a frase é quem a diz agora:: "eu quero voltar pra você". Aquele que o diz agora, ao retornar a seu papel original, tem a chance de perceber, "de dentro", como o outro se sente. Não apenas o que diz, mas como sente. Isto significa que haverá "happy end"? Não. Significa que os dois podem decidir com base na experiência do outro, acrescida à sua. Silvio César, os poetas, a arte, os artistas, como sempre, chegam primeiro e mais esteticamente bem resolvidos, aos conceitos relacionais que nós, profissionais da área penamos em descobrir.
sexta-feira, 10 de dezembro de 2021
prurido na língua
Talvez a maior dificuldade para um psicodramatista é deixar de ter a postura e expectativa interpretativa. Essa é natural do ser humano. Perguntar "Por Que?" Pressupor o Por Que?. É quase algo instintivo, responder-se a qualquer comentário de alguém com um "por que vc fez?", por ex. A mudança que o Psicodrama cobra inicia-se no próprio psicodramatista. Aprender a ver, enxergar e propor uma cena em que o protagonista, por ele mesmo, veja e enxergue e conclua o que puder concluir. Abster-se do prurido na língua de dizer algo inteligente, mas que é sua conclusão, sua interpretação, seu ponto de vista. E não de quem, essencialmente, será o próprio agente de sua mudança: o Protagonista.
terça-feira, 7 de dezembro de 2021
engrenagens e vínculos
sexta-feira, 3 de dezembro de 2021
Duplo, dublagem
segunda-feira, 29 de novembro de 2021
Noel Rosa
Ouvindo "Feitio de Oração" de Vadico/Noel Rosa escutei este verso: "Sambar é chorar de alegria, é sorrir de nostalgia, dentro da melodia". A construção dessa letra por Noel coloca coisas paradoxais como possíveis e necessárias. mas agrega um fator limitador: "Dentro da melodia". Isto é uma metáfora maravilhosa (para mim!) para os conceitos de Espontaneidade, Criatividade e adequação à cena. No palco do Psicodrama ou do Teatro Espontâneo ou de qualquer outro atividade Socionômica, cabe qualquer cena, necessita-se que haja exploração de impossíveis, mas tem que ser "dentro da melodia". Melodia, música, improvisação, tem limites a serem cumpridos, até para serem ultrapassados. Pode-se atravessar uma parede, mas há que ter a parede. A nossa "melodia" no Psicodrama/Teatro Espontâneo corresponde à adequação à cena, à resposta que faz evoluir o ato. É esta toda a diferença entre espontaneidade criadora e o mero espontaneismo. O espontaneismo é o simples e destrutivo "falar o que vem à cabeça" sem respeitar os limites da adequação à realidade, cênica ou existencial. A Espontaneidade Criadora pode "chorar de alegria', pode "sorrir de nostalgia", mas sempre e sempre "dentro da melodia".
sexta-feira, 26 de novembro de 2021
aluno e estudante
Como o Psicodrama é um método, e método é uma forma de ver, relacional, sempre a pergunta presente é: "Em que papel?". Sendo o papel um conceito em que se admite a existência de papéis que se complementam e têm a possibilidade de se alternarem ao longo do tempo. Tendo isto em mente, pensemos em duas palavras: Aluno e Estudante. Serão sinônimos do ponto de vista psicodramático? Penso que não. Apliquemos a teoria de papéis da Teoria Socionômica Moreniana. Quem serão seus papéis complementares: Ao papel de Aluno, imediatamente, vem, o Professor. E quem é o papel complementar do Estudante? Claramente não será o Professor. Então, quem? Em minha visão, o Estudante tem como seu papel complementar o Conhecimento. Aluno x Professor. Estudante x Conhecimento. As escolas, será que pensam nisso?
quarta-feira, 24 de novembro de 2021
Começo e planos
Há um verso de Fernando Pessoa em Mensagem: "Todo começo é involuntário." De uma certa maneira, parece dizer que nada é planejado, Tudo é racionalizado a posteriori, viés de confirmação em retrospectiva. De outra maneira, parece sugerir que diante dos fatos, todo o planejamento precisa ser modificado para adaptar-se à nova conformação. Dirigir em Psicodrama é assim. Mesmo que, ainda que, haja um planejamento, o grupo impõe uma realidade que faz com que as escolhas do condutor tenham que se adaptar, adequar, encontrar novas saídas. Criatividade e Espontaneidade. Espontaneidade para deixar o que se trouxe planejado e manejar o que se encontrou. Criatividade para as novas e adequadas ações.
segunda-feira, 22 de novembro de 2021
Tele. outra vez
segunda-feira, 8 de novembro de 2021
Moreno místico
Quando Moreno dizia que o psicodrama era muito potente para apenas ser uma ferramenta psicoterápica, em meu pensamento, isso quer dizer que , fundamentalmente, Psicodrama é uma forma de ver, sentir e agir no mundo. Para o Psicodramatista, a mudança que se opera nele é expressa em todas as relações entre papéis que ele estabelece na vida. O reconhecimento (e vivência) da teoria transforma o psicodramatista nos vínculos que ele estabelece ao longo da vida. Talvez não seja estranho que a primeira visão de Moreno do mundo relacional era uma visão mística. o misticismo estabelece uma ligação direta entre o mundo, a divindade e a pessoa. Entre o a sociedade, grupo, o palco e o protagonista, diriam os psicodramatistas.
sexta-feira, 29 de outubro de 2021
experiência
A experiência subjetiva não é compartilhável. Ela é acessada por metáforas e analogias. "Como se". O Psicodrama ao recriar no palco, com o aquecimento necessário, a cena em seu tempo presente, e portanto, naquele momento, o tempo real, permite que tome o lugar do protagonista, tenha a amplificação da experiência do protagonista. Psicodrama é uma experiência analógica da experiência real do protagonista.
quarta-feira, 20 de outubro de 2021
Pequenina e Tele
Escutava uma música de Renato Teixeira, cantada por Xangai de nome "Pequenina". E nela há esse verso de beleza absurda:
quarta-feira, 13 de outubro de 2021
Palco
O que é o palco no Psicodrama? Não é apenas um praticável delimitado. O palco é qualquer lugar onde a ação dramática se desenrolará. Uma cadeira onde esteja sentado um paciente será seu palco. Um trecho de sala onde a cena aconteça será o palco dessa cena. O importante é o conceito que há dentro e há fora de palco. Convencionado isto é possível usar o palco e todas as técnicas psicodramáticas. Por que o dentro e fora? Porque, para o Psicodrama, entrar e sair de um palco é o exercício de entrar e sair do mundo da imaginação ou fantasia. É o que permite o "como se" psicodramático. É o que valida o espelho como técnica psicodramática. É aprender a recuperar aquilo que a criança faz, transitar entre o fantástico e o real com fluidez. O palco é criado pela ação dramática. Onde o está corpo estará o palco.
quarta-feira, 6 de outubro de 2021
primeira pessoa
Uma coisa que considero muito importante em qualquer atividade da área Psi, seja Psicodrama ou Psiquiatria, é em observar quem é o narrador da história contada. Muitas e muitas vezes é usada a terceira pessoa do singular (você, a gente) ou a primeira pessoa do plural (nós). Uma história contada assim é como, em um palco psicodramático, a pessoa subisse e contasse assim a história. O diretor pediria, imediatamente, "fale em primeira pessoa e no tempo presente". Por que? É que ao se falar em primeira pessoa e no tempo presente deixamos de ser plateia de nossa história e passamos a protagonista dela. Seja em Psicodrama, seja em Psiquiatria.
terça-feira, 21 de setembro de 2021
vínculo
Em geral quando reflito sobre algo parto sempre da etimologia da palavra. Nenhuma palavra existe à toa. Em algum momento foram criadas para responder a uma necessidade de expressão. Assim, quando retomo a etimologia de uma palavra é como se eu ultrapassasse o senso comum e fosse mergulhar no clima original que a gerou (em Psicodrama dizemos Status Nascendi). Hoje, em uma sessão psicoterápica, estávamos tratando de relacionamento afetivo. Pedi à pessoa que se imaginasse (era online) dançando sozinha, fazendo os movimentos que lhe dessem na telha. Em seguida, pedi-lhe que segurasse em minha mão e dançássemos. Perguntei-lhe, então, que diferença havia; Ela disse-me que não podia fazer tudo o que queria, já que tinha que levar em conta que estava segurando a minha mão. Aí entrou a etimologia. Vinculo, em latim, em italiano também, é corrente. Vínculo liga, mas limita. Une, mas cria limites de ação. Aí, entrou outra palavra e sua etimologia. O vínculo pressupõe compromisso. E compromisso, ao pé da letra, é promessa mútua. Vínculo, ligação, limite, compromisso. Vínculo, núcleo do Psicodrama.
sexta-feira, 17 de setembro de 2021
belchior e a memória
sábado, 11 de setembro de 2021
agrupamento e grupo
O Psicodrama (todas as ferramentas Socionômicas) não é (não são) tão somente um instrumento terapêutico. É um conhecimento e uma vivência para lidar-se com as relações interpessoais, grupais e intergrupais. O conceito de aquecimento (warm-up, caldeamento) é vital para se iniciar qualquer relação. Nada pode ser construído se o terreno não for preparado. Em agricultura e engenharia é algo óbvio. Mas, curiosamente, nas relações humanas não é algo tão óbvio. Há sempre uma pressuposição que tudo começa comigo. Que tudo depende, sempre, de mim. Pensar-se, conceber a ideia de que o grupo tem uma gestalt própria, que o grupo é muitíssimo mais do que a soma dos componentes, que o grupo é um ente próprio. Com suas idiossincrasias, com suas leis autoimpostas. E grupo não é apenas o grupo terapêutico. Qualquer agrupamento de pessoas pode ser, pelo, aquecimento devido, grupalizado, tornado grupo. Apresentar um TCC, dar uma aula, um casamento, uma reunião de trabalho, qualquer agrupamento. E só e quando um agrupamento torna-se grupo é que é possível trabalhar-se com grupo. Se não, por não estarem aquecidos, por não serem grupo, poderão ser tidos como resistentes, opositores, rebeldes, não-cooperadores. Agrupamento, aquecimento, grupo, dramatização, compartilhamento Essa é a sequencia psicodramática. E esse compartilhamento, momento em que o grupo exibe as repercussões em cada um de seus membros, repercussão afetiva e não cognitiva. o grupo repõe, devolve aos que dramatizaram as vestes afetivas de que se desnudaram para protagonizar no palco. Agrupamento, aquecimento, grupo, protagonistas, compartilhamento. Sequencia completa dos instrumentos Socionômicos.
quarta-feira, 25 de agosto de 2021
outras vezes
Em uma passagem de Moreno ele diz: "Não deixe que a próxima vez saiba demais sobre a s vezes anteriores". Isto referia-se à direção psicodramática, mas que podemos extrapolar para a vida comum. Aliás, era desejo original de Moreno que o Psicodrama fosse ferramenta para viver, não apenas tratar. Qual o objetivo de Moreno ao falar isso? Era de lembrar ao Diretor de Psicodrama que vezes boas anteriores e vezes ruins anteriores criam expectativas sobre a vez atual, tirando o frescor da espontaneidade do Momento. E isto vale para a vida. Quando lidamos com o presente, com o atual, frequentemente, quase sempre, vemos este presente pela ótica das experiências anteriores. E o momento atual, o presente, sempre exige uma resposta atrelada a ele e não ao passado.
quinta-feira, 19 de agosto de 2021
O computador e o psicodrama
Há muito tempo li uma entrevista de um CEO de uma empresa grande da área de informática. E o entrevistador perguntou do futuro do computador. O CEO respondeu: desaparecerá. Essa resposta deu um susto no entrevistador. O argumento do CEO (há mais de 25 anos!) era que a entidade física do computador desapareceria e ele estaria embutido no dia a dia das pessoas. Previsão que se confirmou totalmente. Moreno tinha uma expectativa e um sonho que algo similar acontecesse ao Psicodrama. Que deixasse de ser uma ferramenta terapêutica, apenas, para se transformar em algo de uso cotidiano nas relações inter-pessoais, inter-grupais e inter-nacionais. Para o psicodramatista esse é e sempre será o desafio: incorporar os conceitos psicodramáticos a seu viver cotidiano. transcender o setting terapêutico, tornar o mundo o seu palco.
sexta-feira, 6 de agosto de 2021
O que resta é o mais importante
segunda-feira, 19 de julho de 2021
Chico César
"Deus me proteja de mim e da maldade de gente boa, da bondade da pessoa ruim". Chico César nessa letra chama a atenção de uma coisa interessante, para os psicodramatistas, Não há "pessoa boa", não há "pessoa ruim". Há ações boas e ações ruins. Para os psicodramatistas, para Moreno, tudo se realiza pela ação, tudo se verifica na ação, tudo é validado pela ação. Pressupor que tudo que advém de "pessoa boa" necessariamente será bom ou tudo o que vem de "pessoa ruim' será ruim, é pressupor que tudo é imutável, nada nem ninguém se altera ao longo do tempo e das relações. Cada papel, cada relação é uma nova oportunidade de criar no papel, de alterar o modo de agir. Se não fora assim, para que psicoterapia? Tudo já estaria definido para todo o sempre. A visão Moreniana de papel, de papel cristalizado (pessoa boa, pessoa ruim), dá chance de se alterar formas de desempenhar nossos papéis, abre caminho de, com os pés fincados na realidade, abrir-se para mudanças.
quinta-feira, 8 de julho de 2021
Papel
Há uma passagem de Clarice Lispector, em A Hora da Estrela, em que ela escreve: "Todas as manhãs ela deixa seus sonhos na cama, acorda e põe sua roupa de viver". À parte a poesia e a verdade dessa passagem, ela abre, para mim, a possibilidade de tocar num assunto psicodramático. A Teoria dos Papéis Moreniana não é fácil de ser praticada, embora seja fácil, aparentemente, de ser entendida. Para ser compreendida há que se partir do conceito basilar da Socionomia; o ser humano é um ser relacional. Como tal, para ser compreendido o conceito tem-se que pensar, sempre e sempre, de forma relacional. E como as pessoas se relacionam? Por meio de papéis. Toda interação se dá por meio de papéis. Ou seja, o papel é a condensação de fala, conteúdo, afeto, gestual, na interação. Como um papel teatral, os papéis modificam-se à medida que o papel complementar se altera. Com um aluno, sou professor. Com meus filhos, sou pai. Com os amigos sou amigo. Com o chefe, sou subordinado. Com o subordinado, sou chefe. Ou seja, Moreno afirma que diante de nossas relações somos e devemos ser flexíveis. A cristalização do papel seria a grande patologia dos papéis. Ou seja, diante de filhos, amigos, alunos, subordinados, chefes, inimigos, sou SEMPRE, por exemplo, pai. O foco aqui é no SEMPRE. Todo papel mantido indefinidamente sem se relacionar com o seu complementar, configura um sério problema relacional.
terça-feira, 22 de junho de 2021
Palco, corpo
O palco , para nós psicodramatistas, é um espaço cênico. Não há a necessidade formal de existir um praticável, uma estrutura física de palco. Havendo o corpo, há o espaço cênico. Por isso, qualquer lugar, havendo o psicodramatista, o protagonista e o grupo, pode-se realizar o Psicodrama.
terça-feira, 8 de junho de 2021
Então, o que somos?
Será que o uso das técnicas psicodramáticas fazem o Psicodrama? Apenas provocar vivências de conteúdo catártico emocional forte será Psicodrama? Se não, então o que faz o Psicodrama? O que faz com que um ato seja, efetivamente, psicodramático? Será uma fidelidade eclesiástica à memória de Moreno? Será tornar Moreno uma conserva psicodramática em seu estrito significado? Será ser um fiel da igreja moreniana? Se as técnicas não definem o Psicodrama, se não somos fiéis da igreja moreniana, então, o que somos nós? Talvez a resposta, pelo menos para mim, seja, sermos solidários a uma visão do mundo , do outro e do grupo. Sermos solidários à ideia da construção grupal. Sermos solidários à ideia de que nos relacionamos por meio de papéis. Sermos solidários à ideia de que a criatividade aumenta à medida que a espontaneidade cresce. Sermos solidários à ideia de que a soma da visão do outro à minha, me enriquece e fecunda. Enfim, sermos solidários à uma visão da vida amorosa, construtiva, confiante na força grupal.
segunda-feira, 31 de maio de 2021
Parto e conforto
Escutei de uma paciente em consultório: "Estou num útero, mas me sinto solitária!" E lembrei-me de uma observação de Moreno sobre o nascimento em que ele diz que o estar no útero até um ponto é necessário e confortável para o feto, mas, ao crescer e desenvolver-se, o espaço diminui, a opressão aumenta. Aí o nascimento é a grande saída, a alegria do Espaço. Então, para Moreno o nascer não seria um ato de expulsão de um conforto e, sim, a abertura para o crescimento. E, também, lembrei-me da expressão "zona de conforto". Que nunca é sentida como confortável. Há vários e contínuos nascimentos em nossa vida. Em que precisamos de acolhimento , proteção, mas que o crescimento e desenvolvimento vai produzindo a mesma sensação do feto perto das 40 semanas. É a isto que as pessoas chamam de "zona de conforto". Já não é mais confortável, já não é mais proteção. Já é aperto, opressão, angústia. Para o Psicodrama, cada dramatização se comporta como novos e sucessivos nascimentos.
segunda-feira, 24 de maio de 2021
Minha visão
Venho pensando, há muito tempo, como o Psicodrama/Sociodrama é curioso. A criação de Moreno vai além, muito além, das técnicas propostas e suas aplicações. Sem a fundamentação da filosofia moreniana e da teoria desenvolvida a partir dessa filosofia aplicação de técnicas psicodramáticas soam vazias. Meras vivencias passageiras. O próprio Moreno assim dizia: "Minha filosofia tem sido mal-entendida e desconsiderada em muitos círculos científicos e religiosos. Isso não me impediu de continuar a desenvolver técnicas provenientes da minha visão de como o mundo realmente deveria ser estabelecido. É curioso o fato de que esses métodos - sociometria, psicodrama, terapia de grupo-, cria dos para implementar uma filosofia fundamental de vida subjacente, têm sido universalmente aceitos, enquanto a filosofia é relegada aos cantos escuros das estantes da biblioteca ou de todo esquecida". E qual a raiz do pensamento Moreniano? O ser humano é um homem em relação. Sua interação com outras pessoas e objetos de interesse dá-se por meio de papéis. A Espontaneidade-Criatividade são base para a vida relacional. O grupo construído é fonte de criação e sustentação de cada pertencente. O grupo constrói o grupo. E o grupo maior é a população humana e sua relação com a natureza. É preciso, mais do que falar sobre algo, mostrar, atuar. A concretização na cena promove a tridimensionalização do conflito, abarcando, além do verbal, o gestual, a entonação, a ação. A comunicação analógica exibida em cena amplia e amplifica a comunicação verbal. Há sempre em cada pessoa um principio criativo capaz de promover a reabilitação e cura. Apreender a visão do outro pela inversão de papéis acrescenta muito e tanto à minha própria visão de mundo, sem perdê-la. A alegria não é um sentimento ou emoção bobo. É o fundamento para o sim dado à vida. Cada escolha realizada pressupõe um critério para essa escolha, ainda que muitas e muitas vezes, o critério esteja obscuro, somente aparecendo em cena. Essa é a minha visão da filosofia moreniana implicada no método socionômico e instrumentalizada pelas técnicas psicodramáticas.
terça-feira, 18 de maio de 2021
Moreno entra em cena - 18/05/1889
Fernando Pessoa escreveu: "Se, depois de eu morrer, quiserem escrever a minha biografia, não há nada mais simples. Tem só duas datas — a da minha nascença e a da minha morte. Entre uma e outra coisa todos os dias são meus". Num ano civil comum, a data de morte de Moreno - 14 de maio - vem primeiro do que seu nascimento -18 de maio. Quando nasceu, como todos, era só um desejo e uma promessa. Fernando pessoa diz "todo começo é involuntário". Em seu início ele era um improvável filho de comerciante sefardita. Ao fim da vida, Moreno. Como todos os seres humanos somos construções de acasos, oportunidades e talentos. Moreno tornou-se isso: acasos e genialidade. E todos os dias foram dele.
segunda-feira, 10 de maio de 2021
Diretor dirige
Há alguns dias estava conduzindo um psicodrama público. E, no compartilhamento, um participante fez uma brincadeira; "já que falamos de circo, vc às vezes, lembra o dono do circo. E, isto, deu oportunidade, no momento e agora, a refletir sobre as atribuições do papel do Diretor/Condutor em Psicodrama. Segundo Moreno há as funções de produtor, analista social e terapeuta. Mas, o nome do papel é Diretor (ainda que eu prefira Condutor). Diretor, dirige. Portanto, a função diretiva de iniciar, selecionar, organizar, escolher, cortar, interromper. Dirigir, conduzir, enfim. assim, a brincadeira de nosso participante/colaborador, fez ressaltar um aspecto muito importante do papel de Diretor/condutor. Sem exercer ou deixando de exercer essa função diretiva, corre-se o grande risco de, estética e terapeuticamente, perder-se na cena e/ou na atividade psicodramática.
domingo, 9 de maio de 2021
Dia do papel de mãe
Hoje é Dia das Mães. Ou o Dia do Papel de Mãe. Pensando em termos psicodramáticos (socionômicos) o papel de mãe surge da relação com pessoas em que há os atributos de continência, aceitação, limite, disciplina, incondicionalidade do afeto e, sobretudo, magia de fazer da imaginação uma ferramenta de cura e resolução de problemas. É uma relação assimétrica entre os papéis - o de filho/a e o de mãe. Acolhimento de uma lado do papel e necessidade no outro lado dessa relação. Mas nesse papel materno cabem atores mães biológicas, mulheres, homens, amigos, amantes, profissionais de qualquer área. A função de acolhimento versus necessidade é a fundante no papel de psicoterapeuta, por exemplo. Pais podem e devem ser mães. Hoje é dia do papel materno, dia da mãe que cada um pode ser na sua relação com o outro.
quarta-feira, 28 de abril de 2021
"Meu Pai"
"Ó árvores da vida, quando atingireis o inverno?" Este verso em Elegias de Duino de Rainer Maria Rilke sempre me impactou. Ao assistir esse novo filme, "Meu Pai", em que Anthony Hopkins, aos 83 anos, faz uma personagem com Demência de Alzheimer em seu início e progressão. Eu me comovi e me movi de forma intensa. Literalmente, me incomodou. Tirou-me do cômodo. Em seu final ele usa a expressão: "Eu estou perdendo as minhas folhas!". Foi o que me jogou nos braços de Rilke. O espectador de um filme, em geral, o vê da plateia. De fora. Como espectador. Nesse filme o espectador não é espectador: ele toma o lugar da personagem em sua confusão, angústia, medo e vulnerabilidade. Mas, também toma o lugar da filha em sua dor e incompreensão do que acontece. Assim também, toma o papel da cuidadora despreparada e insegura. O espectador/já personagem, vivencia a dor do outro sendo o outro. Isto é a inversão de papéis do Psicodrama.
segunda-feira, 26 de abril de 2021
espontaneidade, criatividade
Trabalhando com estudantes de Psicologia, um deles me perguntou o que seria Espontaneidade. Embora conceito central, pilar e objetivo do Psicodrama, não é facilmente definível. Entretanto é facilmente reconhecida. Eu só consigo me aproximar desse conceito por meio de analogias. Espontaneidade é como o verbo inglês May que denota e conota a possibilidade, a permissão. Criatividade seria algo como o verbo inglês Can denotando ação, realização. Ambos são traduzidos em Português como Poder. Esta nossa palavra reúne, em si, os dois conceitos de permissão e capacidade de realização. Espontaneidade é a permissão prévia, a priori, o conjunto universo das possibilidades. Criatividade é o conjunto intercessão que permite escolher de todas as possíveis, as melhores para o momento, para a circunstância. Quanto maior o conjunto universo, quanto maior a espontaneidade, mais as escolhas criativas poderão acontecer. A restrição da espontaneidade reduz drasticamente o universo de escolhas, resultando no empobrecimento da criatividade. That's all.
sexta-feira, 16 de abril de 2021
"de volta para casa"
Durante uma conversa informal estava-se falando sobre home-working. e, no calor da discussão, para afirmar minha opinião, fiz um trocadilho em inglês. Disse eu "não é home-working, deveria ser house-working!". Home e house, em inglês, tem sentidos diferentes. Uma é a estrutura física, casa (house), a outra é a representação das relações afetivas, lar (home). Um espaço físico torna-se um território quando é ocupado funcionalmente, habitado. Durante a pandemia, com a existência e prevalência do chamado home-working, percebemos que o espaço até então, exclusivo das relações afetivas, familiares, o lugar para onde se volta, o repouso, o lar, foi invadido pelos papéis profissionais (ou estudantis). Gradualmente, o sentido de lar, home, foi-se diluindo. Não mais "estamos indo de volta pra casa". Casa, lar, escola, escritório, consultório, palco. Tudo se misturou. E se perdeu. Gilberto Gil diz em Back in Bahia: "como se ter ido fosse necessário para voltar". Como não vamos, não voltamos. E não repousamos em paz.
segunda-feira, 12 de abril de 2021
visão de mundo
quinta-feira, 1 de abril de 2021
100 anos (sem solidão, mas com solidariedade)
quarta-feira, 10 de março de 2021
Luz, cenário
Tenho pensado muito sobre o efeito do cenário e iluminação sobre o palco. Claro que, para quem é de teatro ou cinema, isto não é dúvida. É certeza. Mas trazendo para o nosso universo psicodramático talvez não seja tão óbvio assim. O nosso palco real é o mundo, é o nosso corpo. O palco numa sala ou num espaço qualquer é uma representação analógica do nosso mundo/corpo. Se aquela dúvida inicial for trazida para essa nova referência o que seria cenário e iluminação, então? Cenário seria o pano de fundo da sociedade onde viva o protagonista. E nesse caso pode haver, e há, cenários sobre cenários: mundial, nacional, regional, familiar e outros mais que possam ser identificados. A iluminação corresponderia ao clima afetivo do entorno, o zeitgeist. Se no palco teatral o cenário é comentário, ambientação, localização de onde se passa a cena, sugestão. Se no palco teatral a iluminação é um narrador e comentarista, um reforçador da cena, um indicativo, um criador de clima afetivo. Se tudo isto que dissemos sobre cenário e luz trouxermos para o palco psicodramático, abre-se um portal para sairmos de uma visão exclusivamente subjetiva, solipsista (eita !) e passarmos a ver a pessoa dentro de cenários múltiplos e iluminações cambiantes.
domingo, 21 de fevereiro de 2021
Sabedoria, conhecimento e esperteza
Assisti, novamente, ao filme Parasita. Afora qualquer discussão ou consideração sobre a estética cinematográfica, veio-me uma distinção nem sempre fácil de fazer ou entender. Sabedoria (wisdom), conhecimento (knowledgment), esperteza (slyness). O filme trata de esperteza (slyness). A sabedoria é o conhecimento englobado pela ética. Conhecimento é um instrumento de ação na Natureza. E esperteza? Esperteza tem a ver com a sobrevivência, com o imediato, com o presente. A esperteza não inclui o futuro. É "cada dia com sua pena". O horizonte da esperteza é curto. A sabedoria vê longe. E o conhecimento é o instrumento, o óculo para se ver. Isto é a minha visão de um segmento do filme. E o Psicodrama? Que tem a ver com isso? O que pode ter a ver com isso? Sempre podemos aprender com um campo da experiência e, a partir dele, olhar para outro campo experiencial. Dirigir uma ato psicodramático, um TE, exige conhecimento, profundo conhecimento do método socionômico. Mas, para o exercício da condução grupal, é fundamental a presença da esperteza, da sagacidade cênica, do pulo-do-gato. Entretanto, essas duas condições precisam ser complementadas pela sabedoria socionômica, a visão socionômico do viver. Sem essa sabedoria, ficaremos limitados ao desempenho técnico e a manha do dirigir. Psicodrama, TE, Sociodrama, atos socionômicos, enfim, precisam dos três: Esperteza, sagacidade na condução, conhecimento técnico e sabedoria socionômica.
quinta-feira, 11 de fevereiro de 2021
papéis e papéis
Há no Psicodrama, na teoria Socionômica, um conceito central derivado do teatro. O conceito de papel. Para o Psicodrama as pessoas se relacionam por meio de papeis que atuam na vida. Portanto, papel é um conceito relacional. Quando se estabelece um vínculo, ele acontece entre papeis. Sendo assim, os papéis que desempenhamos na vida são múltiplos. Tantos quantos os vínculos que estabelecemos. E são dinâmicos. Nós entramos e saímos dos papéis durante nosso tempo de relacionamento. Um pai é pai quando há seu papel complementar, o filho. Um professor o é, ao se relacionar com estudantes. Um médico é médico na relação com um paciente. Um psicoterapeuta é psicoterapeuta na relação psicoterápica. O mesmo com psicólogo ou quaisquer outros papéis sociais. Consideramos, no Psicodrama, na Socionomia, que a cristalização de um papel, sua persistência em todos os vínculos, é uma patologia do papel. Sou psiquiatra e psicodramatista quando me relaciono com pacientes ou com os temas psiquiátricos e/ou psicodramáticos. Mas, também, sou torcedor do Bahia, rosacruz, amigo de amigos, colega de colegas, amante de vinho, pai, marido, avô, tio, irmão e, ainda bem, muitos outros papeis que traduzem outros tantos vínculos. Não sou psiquiatra em toda conversa de mesa de bar, não sou sou psicoterapeuta com quem não me escolheu para sê-lo. Um ser humano é, sempre, sadiamente, ator de múltiplos papéis.
domingo, 7 de fevereiro de 2021
Snoopy, Física e Psicodrama
Em figuras geométricas, a conserva cultural moreniana é uma circunferência. O par Espontaneidade-Criatividade é uma espiral. Em uma tirinha de Charlie Brown e Snoopy, o Charlie Brown questiona à Snoopy ele sempre escolher o mesmo tipo de sorvete de baunilha quando a sorveteria oferece mais de 40 sabores. Responde Snoopy porque ele é conservador. A conserva, em culinária, serve para preservar, guardar, manter, um produto perecível. Portanto, a característica, e sua funcionalidade, da conserva é preservar e mante aquilo que seja perecível. E imobilizar, por consequência, a mudança. No caso da culinária, isto é desejável. No do comportamento humano, cria a cultura. Mas, uma cultura conservada torna-se estática e perece diante das mudanças que a vida, o transcorrer do tempo, traz. Paradoxalmente, a conserva cultural pode fazer a cultura sucumbir. Na vida humana, atitudes conservadas cristalizam comportamentos e os torna inadaptados e inadaptáveis. Então, precisamos reinventar a roda e A Espontaneidade-Criatividade transforma a circunferência da Conserva Cultural em um espiral. Inércia, em Física, é a manutenção de um estado de velocidade, direção e sentido, até que uma força se aplique sobre ele. A Conserva Cultural é um estado inercial. Se não lhe for aplicada uma força nova. a espontaneidade-criatividade, ela tende a manter seu estado de movimento inercial. A Conserva se conserva, inercialmente, até que lhe se aplique a espontaneidade criadora. A evolução das espécies deve-se à diversidade e ao erro da mutação. Sem a introdução do erro, do acaso mutacional, as espécies mantém-se e perecem. Assim é na vida relacional humana.
segunda-feira, 1 de fevereiro de 2021
Psicodrama online
Realizando atividades psicodramáticas online percebo, no processo e em mim, diferenças da atividade psicodramática realizada presencialmente. A primeira diferença é a sensação de espacialidade, de concretude dada pela presença física. A segunda diferença é o plano de observação. Em um palco a cena, o protagonista, é observado tridimensionalmente. A cena é apreendida de uma só vez. Na tela, a experiencia é repartida em múltiplas telinhas. Uma fragmentação, um mosaico da cena. A terceira diferença ainda é no plano de visada: na tela é um plano americano, mais parecido com cinema do que com teatro: só se vê a parte superior do corpo. A quarta diferença é a ausência absoluta do toque físico, dependendo exclusivamente da voz, entonação, mensagem, mímica facial e do plano superior do corpo. A quinta diferença é a limitação quase total de movimentação A sexta diferença é a presença de múltiplos palcos, pequenos palcos, não um único que focaliza a atenção da plateia. A sétima é a presença constante e regular do acidental. O acidental passa a fazer parte inerente à cena, ao aquecimento. Seja esse acidental pela presença de pessoas passantes, de interrupções de internet, de lag, de um tempo, entre a voz e o gesto. Algo muito parecido com teatro espontâneo em rua, em ambiente aberto. Nesse momento, essas observações levam-me a crer que o uso da ferramenta virtual dependerá de uma visão mais cinematográfica do que teatral e de uma direção mais como teatro espontâneo. Cinema e Teatro Espontâneo.
quinta-feira, 21 de janeiro de 2021
Fisioterapia, Psicodrama
Escutei de minha fisioterapeuta esta frase: "A melhor postura, a melhor posição corporal, é a próxima!". Na hora que escutei percebi que essa seria uma legenda para a intenção do Psicodrama. Nenhuma atitude corporal é correta se for mantida muito tempo. A flexibilidade é o que torna a atitude corporal mais ou menos sadia. Tal qual a expectativa do Psicodrama.
domingo, 3 de janeiro de 2021
Novidade, originalidade
Novidade, originalidade. Em dicionários são dados como sinônimos. Mas, serão? Novidade refere-se à temporalidade, ao mais recente no tempo, ao novo. Originalidade refere-se a dar origem a, a iniciar um rumo diferente. Fotografar a Mona Lisa em preto e branco pode ser uma novidade, mas será original? Mas quando o pintor dadaísta Marcel Duchamp pintou a Mona Lisa de cavanhaque e bigode foi original. Não era apenas algo recente, mas sim dava origem a uma visão diferente do ato de pintar. A criatividade tem a ver com a originalidade e não com a novidade. O que o Psicodrama/Teatro Espontâneo busca é a criatividade do ato original, da nova e adequada resposta a uma antiga questão ou a resposta adequada à uma questão antiga.. Nova? Contradição? O novo pode ser original e original é uma nova forma. Então, por que essa diferença? Um casal pode ter formas novas de brigar dentro do quadro antigo de relacionamento. Visto de fora do palco é mais do mesmo. Podem ser formas de briga novas, mas não serão respostas originais, criativas. Serão novas formas da mesma velha briga. Às vezes, a resposta criativa poderá ser uma formulação antiga já tornada obsoleta. A resposta dita nos evangelhos "Vai e não peques mais", sem culpa ou penitência, é antiga. Mas será que hoje em dia poderia ser a resposta criativa e original?
Postagem em destaque
E assim é.
Experimentar e refletir. Este blog é um espaço para mostrar ideias sobre o psicodrama, sobre o teatro espontâneo. Há mais de trinta anos...
-
Em Socionomia (Psicodrama, Sociodrama, Axiodrama) há um conceito central que não é fácil para ser compreendido e utilizado. Tele. Essa pala...
-
Quando não podemos fazer algo apenas por nós mesmos pedimos ajuda à instrumentos, objetos ou a outras pessoas. Aos míopes, o óculos é um in...
-
CONVITE AO ENCONTRO ( JACOB LEVY MORENO) Mais importante do que a ciência, é o que ela produz, Uma resposta provoca uma centena de p...