quinta-feira, 24 de dezembro de 2020

Natal e Psicodrama

   A origem do Natal está nas comemorações do Solstício de Inverno no Hemisfério Norte. Solstícios são os pontos da trajetória terrestre em que os hemisférios estão mais próximos (verão) ou mais distantes (inverno) do Sol. Assim, para as tradições místicas do Hemisfério Norte, esse período era quando, em seu hemisfério, Dezembro, a inclinação da Terra em relação ao Sol, voltava a se aproximar, quando o Inverno anunciava o seu fim, quando as esperanças de um novo plantio, de um degelo, surgiam, respondendo à expectativa da espera. Nas tradições místicas isso era o símbolo da renovação, do anúncio de um novo tempo. Avatares e deuses eram comemorados nesse dia. Krishina, Mitra, por exemplo. Por isto a tradição cristã aproveitou-se desse simbolismo. E isso que tem a ver com o nosso Psicodrama/Teatro Espontâneo? Nada. E tudo. Moreno, o criador do Método Socionômico (Psicodrama, Teatro Espontâneo, Sociodrama) era um judeu imbuído das tradições judaicas, principalmente da filosofia hassídica. E esse Hassidismo tinha por base a renovação, a fé na transformação, a esperança de um recomeço. Socionomia, Sociodrama, Psicodrama Morenianos são sempre fundados nessa atitude de mudança, transformação, um novo olhar, uma nova chance, um outro começo.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2020

Ah, o descanso!

 Andei pensando sobre o descanso. E aí vi que talvez houvesse três formas de se falar de descanso. Uma seria não fazer nada  e manter esse pensamento de deixar de fazer algo presente todo o tempo, como um dique represando a corrente do fazer algo. Outra seria oposta, fazer nada, ou seja, abster-se de fazer qualquer coisa e usufruir disso, sentir todo o prazer do nada. A outra forma seria o genuíno interesse por outro objeto. A primeira forma é a primeira que vem à mente ao se pensar em descanso e é a que maioria das pessoas buscam: um esforço imenso e cansativo para descansar. A segunda forma advém das práticas meditativas, o verdadeiro ócio, a suspensão de toda ação. A última maneira tem a ver com o Psicodrama. Quanto mais vínculos desenvolvemos, mais papéis podemos desempenhar. Quanto mais papéis, mais interesses. Quanto mais interesses, mais possibilidade de alterná-los. Assim, talvez descansemos do desempenho de um papel atuando outro papel. Se sou psiquiatra e psicoterapeuta, o descanso desse papel pode ser o papel de leitor, nadador, bate-papeador. E desses, o descanso adviria do papel de avô. E desse o descanso viria do papel de escritor. A séria é infinita para quem se torna aberto (espontâneo) ao desenvolvimento de interesses, vínculos, papéis, novos

sábado, 12 de dezembro de 2020

Lágrima e alegria

"Respeito muito minhas lágrimas, mas respeito mais minha risada". Caetano Veloso escreveu este verso em Vaca Profana. Tem algo a ver com o Psicodrama? Sim, tem. Pela essência de sua criação e de seu criador, Moreno, buscar a parte alegre, criativa da vida, sem desrespeitar a dor, é fundamental no Psicodrama. Não apenas corrigir, lidar, acolher a dor. Mas, também, e principalmente, visar o desvelamento, a revelação, o brotar da criação de novas e não-cristalizadas formas de viver. Há que se respeitar a risada, o prazer, a alegria. A dor encolhe, acabrunha, dobra a pessoa sobre si, fecha horizontes. A alegria é expansiva. Apenas e tão somente respeitar a dor pode levar a um circulo de eterna repetição. Quem pode levar a um salto qualitativo, além do respeito da dor, é a alegria. 

quarta-feira, 2 de dezembro de 2020

Prazer, dor, transformação

 "O samba é o pai do prazer;

O samba é o filho da dor;

O grande poder transformador."

         Desde que o samba é samba, Gil e Caetano


Hoje é dia do Samba. Essa música foi composta  por Gil e Caetano comemorando os 25 anos do movimento tropicalista. Mais além da beleza da música e letra, há algo. A posição que eles colocam o samba, intermediária entre a dor e o prazer, chama a minha atenção. A acentuação que essa posição tem um poder transformador, chama a minha atenção. Transmutando a dor recebida no prazer criado. Algo bem alquímico, lato sensu. Isto é Arte. Essa alquimia é Arte. E o exercício psicodramático é isso. Dor em prazer, merda em adubo, paralisia em movimento, cristalização em mudança.

domingo, 22 de novembro de 2020

Música e filme

A antiga banda Engenheiros do Hawaii gravou uma música em que tem esses versos: "Ouça o que digo, não ouça ninguém!". Dito assim fica óbvia a contradição inerente à frase: obedecer a uma ordem de desobedecer. Mas se olharmos só a estrutura da frase, do verso, veremos como ela faz parte de todos os manuais de autoajuda, de pretensos gurus, de professores autotitulados. De todos que se consideram portadores de mensagens especiais e únicas. No filme "Advogado do Diabo, Al Pacino na personagem John Milton (o Diabo) diz " a vaidade é o meu pecado favorito". Em nossa área de atuação, a área PSI (Psiquiatria, Psicologia, Psicoterapia, Psicodrama), tanto os Engenheiros do Hawaii quanto John Milton podem ter, e têm, razão.

quarta-feira, 18 de novembro de 2020

Sensação de segurança e segurança

Ontem e hoje, com dois clientes de Psicodrama, apareceu o binômio segurança-insegurança. E também surgiu a expressão "sensação de segurança".  Durante o trabalho psicodramático, ao dramatizar situações de segurança ou insegurança é que brotou a expressão "sensação de segurança". A reflexão do paciente foi: "é, foi a sensação de estar seguro que perdi". Sensação de segurança é algo a priori, não é racional nem racionalizável. A ideia de segurança é racional, se traduz por ações para aumentar a segurança objetiva. Mas não traz, necessariamente, a sensação de segurança. A insegurança é racionalizável: estou inseguro por.... Para ficar seguro faço .... Mas, a sensação apriorística de segurança é sensação, é subjetiva, não demonstrável. E quando isso se perde? E como se recupera?

quarta-feira, 4 de novembro de 2020

Pessoa e Moreno

Em um apontamento de Fernando Pessoa, por ele atribuído a Ricardo Reis, ele diz que Poesia não é um derramamento de emoção mas sim a emoção submetida à disciplina do ritmo e da métrica. Em outro poema - Isto – ele diz: “Dizem que finjo e minto tudo o que escrevo. Não. Eu simplesmente sinto com a imaginação. Não uso o coração”. Não vejo melhor definição de Teatro Espontâneo. O protagonista sente com a imaginação e tem sua emoção sob a disciplina do ritmo e da estética. Este é o antídoto do espontaneísmo e da impulsividade histriônica. Em “Autopsicografia” diz Pessoa: O poeta é um fingidor. Finge tão completamente que chega a fingir que é dor a dor que deveras sente. E os que leem o que escreve, na dor lida sentem bem. “Não as duas que ele teve, mas só a que eles não têm.” O protagonista finge a dor que, efetivamente, tem e estas são as suas duas dores: a sentida e a dramatizada. Os participantes, quando não aquecidos, não envolvidos, sentem apenas a que eles não tem. Em Medicina, quando se fala de alergia, há o conceito de Atopia: pessoas que, diante de estímulos comuns, de intensidade pequena, reagem de forma brusca e excessiva. O olhar poético é o olhar “atópico”. O poeta reage de forma marcante e profunda diante de estímulos banais ou simples ou comuns. Diante do grave, do pesado, todos reagem, mas diante do já visto e não enxergado, só o poeta. Mário Quintana diz: “O poeta não lê poesia. O poeta lê os classificados”.                                                                          

quarta-feira, 21 de outubro de 2020

gato escaldado

Há pouco tempo, numa sessão psicoterápica, usei uma expressão antiga: "Gato escaldado tem medo de água fria". E trabalhamos sobre este tema. O gato foi verdadeiramente escaldado, jogaram água fervendo nele. O episódio gerador é verdadeiro, foi experimentado. Mas, a partir daí, ele tem medo de água fria. O que faz o gato temer água fria e dela se afastar? À distancia, não há como distinguir água fervendo de água fria. À distancia, a imagem é a mesma. E dela ele foge. Para saber a temperatura há que experimentar, colocando a pata na água. Mas, para o observador que já sabe que a água é fria parece estranho, doentio, , maluquice, fugir de uma água que é fria. Mas, só o observador sabe que a água é fria. O gato tem uma lembrança real, inscrita em seu corpo da queimadura. O Psicodrama possibilita, ao criar cenas dramatizadas em palco, o experimentar das águas. "A segunda vez liberta a primeira", diz Moreno.

quarta-feira, 14 de outubro de 2020

Afeto e Psicodrama

 Nesta última semana estivemos envolvidos no Congresso Brasileiro de Psicodrama online. Apresentei um escrito tocando no assunto do afeto e a direção psicodramática. Em geral, os afetos são desprivilegiados em comparação à cognição. Entretanto, como a afetividade é a qualificação da experiência do humana, é aquilo que adjetiva o viver, esta característica faz da afetividade um orientador da experiência humana. Na direção psicodramática, seja em Psicodrama ou Teatro Espontâneo, afetividade do diretor/condutor, ou seja, sua diferenciação em perceber afetivamente o grupo, faz desse estado sua bússola sociométrica para direcionar suas ações e escolhas do processo de dirigir/conduzir.

quarta-feira, 23 de setembro de 2020

Só, sozinho revisitado

 Assistindo ao filme clássico Fogo contra fogo, com os grandes Al Pacino e  Robert De Niro, há uma fal da personagem de De Niro: "I'm alone, but I'm not a lonely man". "Sou sozinho, mas não sou um solitário". E isso me pôs a pensar. Estar só, sentir-se só. Sozinho, solitário. Estados de espírito não iguais, muito diferentes. Estar só é algo espacial, geográfico. É não ter pessoas em volta. Apenas isto. Sentir-se só é outra coisa. Nada tem a ver com quantidade de pessoas. Sentir-se só é consequência  de uma pobreza relacional. Solidão é não ter vínculos com nada. Uma pessoa isolada geograficamente vive e sobrevive das certezas de seus laços afetivos, das lembranças e desejos. Sentir-se só, o estar em solidão, é reconhecer a inexistência, é sentir o peso da ausência de vínculos que o ancore com o mundo.

"Eu 'tava só, sozinho

Mais solitário que um paulistano

Que um canastrão na hora que cai o pano" 

Zeca Baleiro

"É ser isolado na alma, e isso é que é ser vadio,

É ter que pedir aos dias que passem, e nos deixem, e isso é que é ser pedinte"

 Fernando Pessoa

sexta-feira, 18 de setembro de 2020

Figura e fundo

 Durante uma atividade online psicodramática de supervisão surge uma história de uma primeira visita, quando estudante, de um hospital psiquiátrico. A pessoa conta que foi abordada por um "paciente" e não sabia o que falar e ficou muda, calada. Proponho a recriação da cena. No momento que a personagem-paciente surge perguntando onde fica o ponto de ônibus, interrompo a cena e peço seu solilóquio. Diz ela: "não sei o que devo e se devo falar. ão sei se piorarei ele com o que disser". Peço-lhe para fazer essa cena em outro ambiente. Numa rua comum. E uma pessoa, desempenhada pelo mesmo ego-auxiliar, lhe pergunta onde fica o ponto de ônibus mais próximo. Ela responde naturalmente, dando as indicações necessárias. Proponho um espelho das duas cenas e lhe pergunto a diferença. O contexto, o cenário. Num cenário de hospital quem não é funcionário, é paciente. Num contexto, num cenário de rua, são pessoas se encontrando. O contexto, o cenário, criam pressuposições que direcionam nossa ação. O fundo interfere na percepção da figura. E o nosso Psicodrama ajuda a perceber isso ao recriar e criar cenários e contextos e cenas.

segunda-feira, 7 de setembro de 2020

con-fusão de papéis

Uma das coisas mais ouvida, ultimamente, é que as pessoas estão cansadas, irritadas, exauridas e exaustas. E o Psicodrama tem algo para dizer. 

Todos nós desempenhamos múltiplos papéis na vida. Parceiro afetivo, pais, profissionais, torcedor de time, membro de partido político, membro de uma religião, pais, filhos etc. Cada papel desses tem seu papel complementar mediados por um vínculo afetivo. E cada papel desses ,também, tem seu espaço, seu palco,seu cenário, seu tempo. ainda que  pudéssemos estar sobrecarregados de papéis sociais no mundo pré-pandemia, agora, durante a pandemia, a situação sofreu alterações. Os papéis sociais continuam a existir. Aqueles que já tínhamos, continuamos a tê-los. Mas agora é diferente. Agora, durante este tempo pandêmico, todos os papéis sociais estão sendo desempenhados no mesmo locus, no mesmo cenário, ao mesmo tempo. Um pai, trabalhando, online,responde ao filho que está tendo aula online, sentados na mesma mesa onde tomaram o desjejum e aguardamo o almoço. A mãe, também sentada à mesa, trabalhando online, responde como mãe à discussão entre pai e filho, enquanto responde à colega de trabalho no Zoom. O cenário não mudou,os tempos se superpõem os papéis se mesclaram, as respostas afetivas estão mais confusas que anteriormente. A demanda de solicitações simultâneas e múltiplas está produzindo exaustão e tédio. A semana tinha sete dias, com fisionomias diferentes. Hoje a semana semana se compõe de um único dia ´prolongado, onde tudo acontece, mas tudo é monotonamente repetitivo. Os atores desempenham várias peças, sem mudar de cenário, e misturando as falas de cada personagem.

quarta-feira, 19 de agosto de 2020

Pandemia e Psicodrama

Há cerca de 4 meses estou com um canal no youtube e uma conta no instagram. Psiquiatria em outro Tom e @psiquiatriaemoutrotom. Tenho observado que as visualizações são muito maiores do que as desse Blog. A difusão também é maior. A linguagem escrita parece não estar em primeiro plano atualmente. E aí penso como Moreno, desde muito cedo, desde a década de 40/50 já se ocupava dos meios visuais. Televisão, cinema. Ele já antecipava que o uso desses recursos audio-visuais seriam uma maneira de ter alcance maior que a atividade  psicodramática presencial ou literária. Com a pandemia o uso de encontros psicodramáticos virtuais multiplicou-se. Atingimos um patamar que, há seis meses, parecia impossível ou não-desejável. Hoje, faço atividades psicodramáticas com participantes de todo o Brasil. É a mesma coisa que a atividade presencial? Não, não é. Mas é outra coisa. É a resposta para este momento. Criatividade, para Moreno, era encontrar uma resposta adequada para uma situação nova (o que é nosso caso aqui) ou encontrar uma solução adequada para um problema antigo. Ao psicodrama presencial se agregou o psicodrama virtual. Que bom que nosso método foi e é capaz de responder criativamente à crise.

terça-feira, 28 de julho de 2020

Conserva cultural

Há cerca de 4 meses abri um canal no Youtube e no Instagram para falar de psiquiatria incluindo uma visão psicoterápica. Psiquiatria em outro Tom e @psiquitriaemoutrotom. Também comecei afazer grupos online, Ou seja, em quatro meses, inclui os meios digitais na minha atividade. Refleti sobre este Blog, que é linguagem escrita, e os canais de Youtube e Instagram, que são linguagens orais. A linguagem oral exige menos esforço, exige mais mais coerência e conteúdo sólidos por não poder ser facilmente corrigidos. A linguagem escrita cobra uma definição de assunto mais imediato, a linguagem oral permite que se construa gradativamente o assunto ou o desvio do assunto inicial. A linguagem escrita dá-me a sensação de ter registrado definitivamente algo, está ali e ali permanecerá. Aquilo que Moreno chamaria de Conserva Cultural. Mas o vídeo gravado também é uma Conserva Cultural, lá está e lá permanecerá. Assim, A conserva Cultural não depende do tipo de linguagem usada, mas sim do registro ou não registro. Mas, mesmo aquilo tornado em conserva, pode ser revitalizado por uma nova perspectiva, uma nova leitura, uma nova percepção, uma nova ação. A Espontaneidade refresca a Conserva.

quarta-feira, 22 de julho de 2020

Aqui e agora

Vendo o documentário sobre os 40 anos do disco Refavela de Gilberto Gil, voltei-me para esse álbum. Nele há uma belíssima música, Aqui e Agora. Nela, há esse verso: o melhor lugar do mundo é aqui e agora. É o melhor e não há outro. Breve, simples e até prosaico. Mas que envolve uma postura existencial radical. Centrar-se no presente. Manter-se no aqui e agora. A experiência de viver só ocorre no presente. Mesmo a lembrança ou a imaginação são vivenciadas no presente. E o Psicodrama coloca o palco psicodramático como o lugar do aqui e agora. Tudo é feito no tempo presente: as ações, as falas. Tudo é presente. O palco psicodramático é o espaço próprio do aqui e agora.

quinta-feira, 16 de julho de 2020

Grupo

"Diferente esse Psicodrama!" (Angélica). Semanalmente nos encontramos online. Semanalmente construímosum grupo para fazeralgo juntos. Semanalmente temos o compartilhamento final em que a sensação de construção coletiva e pertinência grupal está presente. Ontem, pouco antes do horário marcado tive uma ocorrência. Um paciente com ideação suicida que me ligava do interior. Além da situação clínica em si, é uma pessoa marcada pela culpa de tudo ter e nada sentir de bom. Cancelei o evento já que não sabia o tempo que precisaria. "Cancelei o evento". Não é verdade. Se fôra um evento ele poderia ter sido cancelado. Mas, nunca foi um evento. Sempre foi uma construção coletiva. E, após mais de duas horas, quando escrevi ao grupo "Resolvido", imediatamente tive retorno, tive uma ressonância grupal. O grupo sempre esteve ali e estava ali. Aguardando, sustentando, suportando. Esta é a sensação do protagonista. E esta é a sensação do grupo. "Diferente esse Psicodrama". Não foi diferente. Foi um grupo de Psicodrama. Só isto. E basta.

sexta-feira, 3 de julho de 2020

Psicodrama virtual: teatro ou cinema

Realizando atividades psicodramáticas online percebo, no processo e em mim, diferenças da atividade psicodramática realizada presencialmente. A primeira diferença é a sensação de espacialidade, de concretude dada pela presença física. A  segunda diferença é o plano de observação. Em um palco a cena, o protagonista, é observado tridimensionalmente. A cena é apreendida de uma só vez. Na tela, a experiencia é repartida em múltiplas telinhas. Uma fragmentação, um mosaico da cena. A terceira diferença ainda é no plano de visada: na tela é um plano americano, mais parecido com cinema do que com teatro: só se vê a parte superior do corpo. A quarta diferença é a ausência absoluta do toque físico, dependendo exclusivamente da voz, entonação, mensagem, mímica facial e do plano superior do corpo. A quinta diferença é a limitação quase total de movimentação A sexta diferença é a presença de múltiplos palcos, pequenos palcos, não um único que focaliza a atenção da plateia. A sétima é a presença constante e regular do acidental. O acidental passa a fazer  parte inerente à cena, ao aquecimento. Seja esse acidental pela presença de pessoas passantes, de interrupções de internet, de lag, de um tempo, entre a voz e o gesto. Algo muito parecido com teatro espontâneo em rua, em ambiente aberto. Nesse momento, essas observações levam-me a crer que o uso da ferramenta virtual dependerá de uma visão mais cinematográfica do que teatral e  de uma direção mais como teatro espontâneo. Cinema e Teatro Espontâneo.

terça-feira, 23 de junho de 2020

Respeito

Respeito. Palavra que revela um conceito fundamental da vida em sociedade. O que nos diz a etimologia da palavra? Respeito provém do latim Re (outra vez) + spectare (olhar). Respeitar, é assim, permitir um segundo olhar. Não permanecer com apenas o primeiro olhar. Como se o primeiro olhar fosse o olhar impulsivo, o olhar inteiramente pessoal. É como se permitir um segundo olhar fosse admitir uma segunda opinião, uma outra opinião. Respeitar alguma opinião, atitude, pessoa,a própria dor, é se permitir  um segundo olhar além do olhar habitual e já conhecido. Em Psicodrama dizemos que manter-se congelado, rígido em uma visão de mundo seria uma postura, uma atitude, um olhar conservado, cristalizado. Desrespeitar, não respeitar, seria desse modo, manter uma visão cristalizada, inabalavelmente rígido e inflexível. Todo o empenho de uma dramatização leva a percepção de novos olhares sobre coisas antigas ou diferentes olhares sobre coisas novas. Admitir, experimentar um outro ou outros possíveis olhares pode, tem a possibilidade, de  descristalizar, desconstruir o não respeito favorecendo o desenvolver do respeito.

sexta-feira, 19 de junho de 2020

Ignorância e burrice

Durante uma sessão psicoterápica, ocorreu-me uma frase de efeito para o momento. "A ignorância é um estado, mas a burrice é um processo". Naquele momento, como frase de impacto, fez o efeito pretendido. Depois, refletindo sobre ela, enveredei por meus pensamentos. O que será que quis dizer com isto? Ignorância é o estado de quem ignora algo e sabe  que ignora. Portanto ele reconhece a ausência daquele conhecimento, podendo ser suprido, se assim desejar. O "só sei que nada sei" de Sócrates parte deste fundamento: reconhecer a ausência do conhecimento é a atitude que pode levar ao conhecimento. E o que é a burrice? Não é a ignorância. Burrice é pensar que sabe e resistir ao conhecimento que possa esclarece-lo. Esta é a razão de Sócrates usar a Ironia como forma de levar o seu oponente ao reconhecimento de sua ignorância, sair de sua posição de saber fingido. A burrice é o pretenso saber hegemônico e cristalizado, inamovível, pétreo. E o Psicodrama com isso? A repetição da cena do protagonista com ele vendo em espelho, fora do palco, permite que ele saia daquela posição de saber inquestionável e dê-se o benefício de duvidar, reconhecer sua falta de conhecimento, abrindo-se para um novo conhecimento.

terça-feira, 16 de junho de 2020

papéis, isolamento, loop

"No início do aprendizado Zen, as árvores são árvores e os rios são rios. Em meio ao aprendizado Zen, as árvores já não são árvores e os rios já não são rios. Ao fim do aprendizado Zen, as árvores são árvores e os rios são rios."
Neste momento de quarentena, isolamento social, as pessoas estão tendo que desenvolver novos papeis ou despertar papeis adormecidos. Sejam funções domésticas, sejam novas ferramentas de trabalho, sejam oportunidades novas. E isto traz à tona um conceito bem moreniano. Papéis e seu desenvolvimento. Moreno criou três expressões para se referir a isso. Role- Taking (tomada do papel), Role-Playing (desempenho de papel) e Role-Creating (criação no papel). Role-Taking é o momento em que nos deparamos com o novo papel. Nesse período de tempo aprendemos os os instrumentos, os fundamentos desse papel. Àquele que esteja nesse estágio há a admiração por quem já consegue desempenhá-lo bem e há o temos de não vir a conseguir. Em algum moimento, esses instrumentos e fundamentos se incorporam à pessoa e ela passa a desempenhar o papel com eficiência. Já consegue se percebe atuando em seu novo papel com segurança. Mas ainda há um temor e reverência às regras, um ter que agir conforme o manual, a esperar a aprovação alheia. A maior parte do tempo passamos nesse estágio. Mas, algumas pessoas, em alguns momentos, conseguem saltar para o Role-Creating. Aí, nesse momento, ele sente-se seguro para ultrapassar as regras técnicas, já não se sente tendo que responder às prescrições dos livros e mestres. Ele faz, organicamente ligado à compreensão dos fundamentos, o que é o necessário para o momento. Sua criatividade liberta-se da relação discípulo-mestre. E age.
Mas, isto não se passa apenas uma vez. Isto é dinâmico. A todo momento, estamos voltando a aprender (Role-Taking), voltando a praticar as novas aquisições (Role-Playing) e, eventualmente, voltando a criar no Papel (Role-Creating). Se assim não for, entramos na  Conserva cultural moreniana, na cristalização do papel. É a perigosa sensação de saber o já sabido. A imobilidade do saber. Os papéis e seu desenvolvimento precisam ser um loop contínuo de aprendizado, domínio e criação e novo aprendizado e novo domínio e nova criação e novo aprendizado e novo domínio do papel e nova criação no papel e...

terça-feira, 9 de junho de 2020

Diretor problema

Tive uma experiência rica e curiosa. Realizei, junto com um grupo que frequenta o Espaço Livre de Psicodrama e Teatro Espontâneo, uma atividade online. O decorrer do grupo, em si, não é a questão. Mas o que aconteceu com o Diretor. Eu, nessa situação. A conexão da internet de todos estava boa, todos se viam e ouviam. A minha estava ruim. Caindo a toda hora. Em minha visão, ao cair ou interromper a conexão, todos também estariam desconectados. Isso começou a me irritar. E o grupo não me sinalizava que eu era o problema. Quando a conexão caia eles cogitavam de me falar, de me dizer que era a minha conexão que era ruim. Depois de muito tempo de hesitação, alguém disse o que todos queriam dizer. E aí dê-me conta do problema. Pedi ao grupo que significasse a experiência para cada um. Perdido, angústia, o diretor estava levando o Psicodrama para o fim. A partir daí pedi que amplificassem esse sentimento, esse significado. E apareceu nesse o grupo a situação social vivida. O Psicodrama permite, espera, deseja, faz com que aconteça, o atravessamento do protagonista pelas suas questões subjetivas, pelas questões grupais e pela questões sociais mais amplas. Assim ele é o protagonista quando sua história, sua cena, permite o espelhamento de seu mundo subjetivo, seu mundo relacional e seus papéis sociais. Pedi ao grupo um nome para esse psicodrama. "Quando o diretor é que é o problema". That's all. 

quinta-feira, 4 de junho de 2020

Mentira e Realidade Suplementar

Voltando a falar de Realidade Suplementar. Há um verso de Mário Quintana que diz: "A mentira é a verdade que esqueceu de acontecer". A Realidade Suplementar é uma "mentira", uma dramatização, uma criação no palco, que "esqueceu" de acontecer ou que poderia vir a acontecer ou que temo que possa acontecer ou que desejo que aconteça.

segunda-feira, 1 de junho de 2020

Realidade suplementar

Moreno lastreou seu Psicodrama no que ele chamou de Realidade Suplementar (Surplus Reality). Ele retirou essa expressão da mais valia referida por Marx. A mais valia marxista refere-se à diferença entre o que ganha o trabalhador e o valor do produto fabricado. Em inglês surplus value. A nossa Realidade Suplementar é aquilo que falta ao protagonista para sua realização pessoal. É aquilo que, no palco psicodramático, a cena pode dar ao protagonista. Seja realizando, cenicamente, algo do passado a ser refeito. Seja no presente experimentar vidas alternativas. Seja, no futuro, possibilidades a serem exploradas. É a verdade poética da cena. A cena é dramatizada. Mas os sentimentos, emoções e calores são verdadeiros. 

quinta-feira, 28 de maio de 2020

Adequação?

O normal é um conceito estatístico. Ser funcional é um conceito operacional. Estar harmônico é um conceito existencial. Responder adequada e criativamente às circunstâncias é um conceito psicodramático. A adequação em Psicodrama não é, absolutamente,submissão às pressões. Adequação para o Psicodrama é encontra a melhor resposta, a mais produtiva para a cena, a mais criativa para o drama. Portanto, encontrar, criativamente, a resposta mais adequada é pensando no conceito cênico: qual  a sequencia que faz sentido para este drama? A espontaneidade amplia o leque de opções ao diminuir as censuras e proibições. a criatividade permite a melhor escolha dentre essas opções dadas pela espontaneidade.

sexta-feira, 22 de maio de 2020

Autoridade ou força?

Força é autoridade? Alguém tem autoridade? A autoridade pertence a alguém? Ou será a autoridade e o respeito algo dado pelo seu papel complementar? Um pai tem autoridade sobre o filho ou o filho dá autoridade ao pai? Reconhece a autoridade de seu papel complementar? Um chefe tem autoridade ou são seus subordinados que lhe emprestam autoridade? Não se pode impor autoridade ou respeito. Pode-se impor a força. A autoridade e o respeito não são pertencentes a quem pensa que os têm. A autoridade e o respeito são reconhecimento do outro sobre mim. Não são meus. Eu posso construir as pontes para que o outro me reconheça como autoridade e me tenha respeito. Mas o poder final concedente é o outro. 

segunda-feira, 18 de maio de 2020

18/05/1889 Nascimento de Moreno


Fernando Pessoa escreveu: "Se, depois de eu morrer, quiserem escrever a minha biografia, não há nada mais simples. Tem só duas datas — a da minha nascença e a da minha morte. Entre uma e outra coisa todos os dias são meus".  Num ano civil comum, a data de morte de Moreno - 14 de maio - vem primeiro do que seu nascimento -18 de maio. Quando nasceu, como todos, era só um desejo e uma promessa. Fernando pessoa diz "todo começo é involuntário". Em seu início ele era um improvável filho de comerciante sefardita. Ao fim da vida, Moreno. Como todos os seres humanos somos construções de acasos, oportunidades e talentos. Moreno tornou-se isso: acasos e genialidade. E todos os dias foram dele.


quinta-feira, 14 de maio de 2020

14/05/1974

O que pensava e sentia Moreno? Se a nossa história ajuda a entender o nosso destino, a história de Moreno é muito clara nesse aspecto. Moreno era filho de judeus sefarditas. Ou seja, judeus expulsos da Espanha/Portugal em 1492. Nascido na Romênia, então parte do império austro-húngaro, fez toda sua formação médica em Viena. Antes de ser médico tinha interesses na dignificação de perseguidos e excluídos (prostitutas, refugiados). E tudo isso dentro de uma perspectiva mística do Hassidismo. Os Hassídicos eram e são uma corrente dentro do judaísmo caracterizado pela fé absoluta na alegria e na potencia criativa de cada ser humano. Seu contato  com crianças e excluídos esteve sempre presente em sua vida. A fé na potência grupal surge desde então, ainda distante das intenções terapêuticas. Antes da psiquiatria veio a Arte. O Teatro, principalmente. Mas, mesmo em seu exercício clínico era conhecido como Wunder Doktor - Doutor Maravilha, pelo seu interesse humano e pelo vínculo estabelecido com os pacientes. Da inquietação, do sofrimento, da exclusão (judeu e romeno) surge o 1 de abril de 1921. O império austro-húngaro esfacelado, sem imperador, caos econômico e social. Dentro de seu espírito rebelde, irônico, mordaz, ele convida toda a sociedade vienense para, no Dia da mentira discutir a realidade vivida. Claro que, ao ver no palco um homem de capa verde junto a um trono e uma coroa que, simplesmente, convida a quem quiser assumir a coroa que o faça, reage com violência, uma parte, e outra parte resolve entrar no jogo. Conflito aberto. Essa data marca, simbolicamente, o início do Psicodrama. Não era, efetivamente, ainda Psicodrama, nem havia conceitos nem teoria socionomica. Então, por que essa data tornou-se marcante? Por que nela aparecem as marcas fundamentais do que hoje chamamos de Psicodrama. Desafio, concretização (se não havia um rei ponha-se um trono vazio), crítica às conservas culturais (padrões de comportamento e pensamento repetidos sem questionamento), compromisso com a realidade social, coragem e confiança. Ao morrer, Moreno, retomando seus princípios hassídicos escolhe como seu epitáfio: "Aqui jaz o homem que trouxe alegria e o riso à Psiquiatria".

segunda-feira, 11 de maio de 2020

Perguntas

"Quántas semanas tiene un día y quántos años tiene un mes?"
Essa pergunta encontrei no Libro de las preguntas de Pablo Neruda. Perguntas de criança, perguntas de poeta. mas dão nítida ideia da diferença entre o tempo cronológico, de relógios e calendários, e o tempo vivencial, o tempo da vida, o tempo dos acontecimentos vividos. Ao tempo vivencial, ao tempo da experiência vivida, Moreno chamava de Momento. Os gregos chamariam de Kairós, diferente do Chronus, tempo medido. Kairós, Momento, são tempos qualitativos. Chronus, relógios e calendários, são tempos quantitativos. Isto é o que acontece num palco psicodramático, num sonho, no amor, no prazer, na dor, no sofrimento. Onde o pathos é mais intenso já não se mede o tempo: vive-se o tempo.

domingo, 10 de maio de 2020

Dia do papel de mãe

Hoje é Dia das Mães. Ou o Dia do Papel de Mãe. Pensando em termos psicodramáticos (socionômicos) o papel de mãe surge da relação com pessoas em que estão presentes os atributos de continência, aceitação, limite, disciplina, incondicionalidade do afeto e, sobretudo, magia de fazer da imaginação uma ferramenta de cura e resolução de problemas. É uma relação assimétrica entre os papéis - o de filho/a e o de mãe. Acolhimento de uma lado do papel e necessidade no outro lado dessa relação. Mas nesse papel materno cabem como atores mães biológicas, mulheres, homens, amigos, amantes, profissionais  de qualquer área. A  função de acolhimento versus necessidade é a fundante no papel de psicoterapeuta, por exemplo. Pais podem e devem ser mães. Hoje é dia do papel materno, dia da mãe que cada um pode ser na sua relação com o outro. 

terça-feira, 5 de maio de 2020

medo e culpa

Esta situação que vivemos, nós seres humanos, todos os seres humanos, criam em nossas relações algumas situações novas. Principalmente pela extensão. Colocando qualquer ser humano num palco psicodramático hoje, apareceriam, provavelmente, um personagem desdobrado em dois outros: Um desdobramento  com texto do medo (medo de morrer)e outro desdobramento com texto de culpa (culpa por poder causar dano a seu próximo). O personagem protagônico veria num espelho psicodramático esse possível diálogo impossível:
- Tenho medo de ser contaminado, tenho medo de precisar ir para a UTI, tenho medo de morrer, não posso me aproximar das pessoas, elas podem me contaminar.
- Eu me sinto culpado. E se alguém meu se contaminar? será que pode ter sido eu o contaminador? E se alguém meu morrer será que foi minha causa? Fiz algo indevido? Estou afastando as minhas pessoas?
Voltando a colocar o protagonista no palco ele ficaria dilacerado, puxado em sentidos opostos.
Então, como poderia prosseguir essa sessão de Psicodrama?

segunda-feira, 4 de maio de 2020

Pessoa again

"Acontece-me, às vezes, um cansaço tão terrível da vida que não há sequer hipótese de dominá-lo".
Fernando Pessoa

quarta-feira, 29 de abril de 2020

Escolhas

Vamos imaginar um trabalho grupal psicodramático. O agrupamento de pessoas vão chegando, com pouca conversa, e quando há conversa é em tons baixos, conteúdo pessimista, pouca atividade motora, expressão corporal sugerindo desanimo, exaustão ou mesmo tristeza. O Diretor/condutor quieto, sentindo o grupo, deixando-se atravessar pelo clima reinante. Se fosse pedido ao Diretor/condutor seu solilóquio, o que estava passando por sua cabeça naquele momento, talvez ele assim falasse: "O que faço, tento uma atividade de aquecimento mais dinâmica, mais movimentada? Será que estou entrando no clima deprê do grupo e deixando-me levar por ele"? "Ou devo aquecer essas pessoas com imagens ou cenas que reflitam e concretizem o sentimento grupal"? Sempre para o Diretor/Condutor nunca existe um só caminho para aquecer o grupo. São escolhas que a experiência, a técnica, o feeling sugerem para aquele instante. Entretanto, o mais importante é que cada passo dado seja sempre avaliado em relação à resposta grupal. Poder voltar atrás, tomar outro caminho é a atitude psicodramática. Não ficar congelado na escolha inicial. Experimentar e corrigir, se preciso. Não há fórmulas para dirigir o grupo.

segunda-feira, 27 de abril de 2020

O palco

Por que o palco é um dos instrumentos essenciais do Psicodrama? E não precisa ser um palco montado, um praticável de madeira, um palco fixo. Mas um espaço cênico, um espaço em que se destaque o protagonista e sua cena.  E para que? O palco, o espaço cênico, é a lente de aumento da cena. Todos os gestos, atitudes, falas, movimentos, se destacam por serem amplificados. Um gesto, algo dito no grupo, ao ser trazido ao palco ganha outra dimensão para o protagonista e para o grupo. O palco no Psicodrama/Teatro Espontâneo corresponde ao close-up, ao zoom de aproximação, ao primeiro plano do cinema. Não se trata apenas de um local, mas um espaço com função definida, instrumental. Então, seu uso não deve ser feito passivamente. Deve ser feito com sabedoria e técnica.

sexta-feira, 24 de abril de 2020

Expectar, esperar

Esperar, ter esperança, expectar, ter expectativa. Embora palavras de etimologia próxima, talvez possamos brincar um pouco com elas. Iniciemos por expectar. Parece-me que expectar é a espera de forma ansiosa. Expectar é formular  uma imagem e aguardar que ela se concretize. Esperar, ter esperança, é abrir-se para o novo, deixar-se surpreender pelo inesperado. A expectativa pode ser frustrante. O futuro ao chegar pode não corresponder à imagem criada, à expectativa criada. Ter esperança, esperar, apenas esperar, sem imagens antecipadas, é como a criança que absorve o mundo como ele se apresenta. O adulto, expecta. A criança espera. A angústia do adulto está na expectativa da chegada do imaginado. A alegria da criança está em receber,  é alegria do que simplesmente virá. Com essa visão poética podemos pensar o Psicodrama/Teatro Espontâneo com o olhar da espera pueril, de aguardar o que virá sem preconcepções. Tomar o que vem não pelo que não foi, mas pelo que é. E isso, não tão poeticamente, é a atitude fenomenológica: Não expectar e frustrar-se, mas esperar e ver.
“Uma criança é inocência e esquecimento, um novo começo, um jogo, um moto-contínuo, um primeiro movimento, um “sim” sagrado. Para o jogo da criação um “sim” sagrado é necessário”. Nietzche
"Não deixe que a próxima vez saiba demais sobre as vezes anteriores"  Moreno

quarta-feira, 22 de abril de 2020

Marinheiros e tempestade

De todos os atributos humanos, talvez, o mais útil para sua sobrevivência haja sido a antecipação do futuro. Essa possibilidade de antever as consequências e desdobramentos de sua ação, deve ter sido fundamental para lidar com um ambiente em que sua características eram desfavoráveis comparada às de outros animais. Mas, tudo tem seu preço. E o preço é a ansiedade, o temor do futuro, o sentir-se menor de que seus medos. Há um verso de Rainier Maria Rilke, em Elegias de Duino, que diz assim: "Vagueiam leões, ainda, alheios ao desamparo enquanto vivem seu esplendor". Antecipar o futuro nos tirou do viver nosso esplendor e ampliou o nosso desamparo. Então, o ser humano está sempre diante da interrogação do futuro. Com a consequente apreensão, com o aperto no coração. A isso chamamos de ansiedade, angústia (aliás, essas duas palavras vêm do radical latino anx significando aperto). E o nosso truque existencial para lidar com isso sempre foi o controle, o tentar controlar o futuro, tentar nos convencermos que realmente dirigimos nosso destino. A maioria das pessoas vive suas vidas com esses truques e sobrevivem. Muitas, entretanto, não conseguem usar esses truques ou realmente acreditar que eles funcionem. A esses chamávamos de ansiosos. Para essas pessoas existia a psicoterapia, a psiquiatria, a medicação. E hoje, em tempos de Covid-19? A ameaça é geral, generalizada, invisível, incontrolável individualmente, sem certeza nenhuma de futuro. Hoje, todos estão como muitos ficavam antes. Temerosos, impotentes, recorrendo a qualquer sugestão que lhes dê alguma sensação de domínio sobre seu presente e seu futuro. Sensação, não certeza. O que dá a certeza hoje é só o fanatismo de qualquer ordem. O que a razão, o raciocínio, o pensar nos dá é angústia. Fernando Pessoa diz: "Quem tem alma não tem calma". O pensamento fanático de qualquer tipo desumaniza o ser humano ao congelar seu pensamento e raciocínio.  Hoje meu trabalho, enquanto profissional da área Psi, é, primeiro situar a pessoa nesse contexto, lembrando que em tempos anormais o normal, o comum, é sentir-se anormal, diferente de seu habitual. Nós, os profissionais também somos presa desses mesmos sentimentos e emoções que os que nos procuram trazem. Então, é segurar a onda. Como marinheiro em tempestade. leva o barco devagar, sem movimentos bruscos, evitando que o barco vire e afunde. Mas a tempestade está em volta. Existe a convicção no marinheiro que só lhe cabe esperar e evitar piorar o que já está ruim. O palco psicodramático, a cena psicodramática, permite, possibilita que o protagonista possa experimentar dentro da cena dramatizada seus temores de futuro. Para sair da imobilidade impotente e angustiante. Para fugir do congelamento de sua humanidade pelo fanatismo. Para testar possibilidades. Boas e ruins. Ao nosso Psicodrama cabe o recurso de usar esse palco, a cena para concretizar os temores e levar cada um a experimentar possíveis jeitos de lidar com a tempestade.
"Faça como o velho marinheiro
que durante o nevoeiro
leva o barco devagar".
Argumento, Paulinho da Viola


segunda-feira, 20 de abril de 2020

Uma tela em branco

Um papel ou uma tela em branco. A sensação é parecida com estar diante de um grupo do qual nada se sabe. Esse sinal "?" é sempre meu sinal de pontuação inicial numa situação dessa. Não sei. Parto disso. Não sei. E se não sei, pergunto. Ou seja, crio condições para o grupo ir me direcionando. O contrário disso seria iniciar um grupo qualquer impondo um plano pré-concebido. Algo que se vê agora nesses tempos sombrios nas chamadas redes sociais (e que não são sociais. São redes comerciais travestidas de sociais). Encontro muitas e muitas pessoas, nessas redes, dizendo o que o outro deve fazer, deve sentir, como deve se comportar. Durante o aquecimento em uma atividade psicodramática, o diretor/condutor está sempre atento para ver e sentir como o grupo reage e lida com as instruções de aquecimento. E vai moldando sua intervenção pela resposta do grupo. Só imaginando: uma atividade após o almoço. Um aquecimento que centrado no relaxamento conduzirá a uma sono coletivo. Mas, pode ser que o grupo necessite de um intervalo real de relaxamento. Enfim, as regras são construídas no grupo, pelo grupo e para o grupo. Cabe a quem dirige a atividade ouvir e escutar; olhar, vê e enxergar o grupo.

sexta-feira, 17 de abril de 2020

Fernando Pessoa me persegue (ou eu a ele)

Há um verso de Fernando Pessoa: "Todo começo é involuntário". Interpretar poesia é uma armadilha e uma traição ao poeta. Poesia sente-se. Com a cabeça e o coração. Então, para mim, esse verso remete à experiência psicodramática. Para mim, sugere que há de se aproveitar s coisas como as coisas se apresentam. Não se pode produzir o grupo ideal, o mundo ideal. Os começos são involuntários, são espontâneos, mas sua continuação necessita de criatividade. Conduzir uma atividade psicodramática qualquer com planos elaborados, roteiros a serem seguidos, sequencias de aquecimento pré-determinadas, ou seja, planejar uma atividade de Psicodrama, retira dela a experiência fundamental: Deixar-se conduzir pelo grupo. Moreno dizia: "Throw away the script". "Jogue fora o roteiro". Isso é aceitar o "involuntário" de Pessoa. Entretanto, isso tendo sendo aceito (e aceitar isto é a espontaneidade moreniana) sua continuidade necessita da criatividade para melhor levá-la a cabo.

sexta-feira, 10 de abril de 2020

Anacronismo

Curioso como determinadas palavras e conceitos se integram ao acervo humano e, mesmo sendo anacrônicas, são usadas continuamente. Por exemplo, quando alguém se destaca em alguma coisa torna-se o Rei ou Rainha ou Princesa ou Príncipe daquele algo. As palavras republicanas não tem força afetiva no imaginário. Até bobo da côrte é representativo. E como! Até aí é uma curiosidade. Mas, quando, apesar de esforço da Psiquiatria e da Psicologia, continuam a ser usadas expressões como "é um louco, é um  débil mental, é psicopata, isso é loucura, só pode ser doido, só internando num manicômio, bota camisa de força", aí eu me preocupo. A loucura, o adoecer mental (afinal, o cérebro é um órgão que pode funcionar mal. Como qualquer outro órgão), esses termos e conceitos deveriam ser restritos ao âmbito diagnóstico e terapêutico (e mesmo assim, já não são usados!). Não deveriam, não podem, ser usados como forma de qualificação da experiência humana desastrosa. Independente do adoecer, existe a responsabilidade individual. Existem os erros de conduta, existem os crimes, e eles não podem, de nenhuma maneira, ficarem sob o manto do adoecer mental. 

terça-feira, 7 de abril de 2020

Protagonista?

Uma das coisas que aprendi no Psicodrama é que o protagonista não é necessariamente o que primeiro se apresenta. O termo protagonista, em grego, é que primeiro (proto) luta, sofre (agon). No Teatro, em suas origens, só havia mesmo no palco um ator. Ele sempre seria o protagonista. Depois se introduziu o segundo ator (deuteragonista), o terceiro (tritagonista). Em Psicodrama trabalhamos com grupos. Portanto mais de uma pessoa. Então, em nossa visão psicodramática, distinta da visão teatral, o protagonista não está posto ao iniciar-se o grupo. Ele emerge do grupo, dos representantes grupais, das cenas de aquecimento. Mas, lembremos. Proto aí não é necessariamente o primeiro em ordem de apresentação. Mas o primeiro a quem o grupo reconhece como sendo aquele que, em sua história, em sua dramatização, encarna o tema do grupo, vigente naquele momento, naquele contexto. Então, no palco, embora esteja em cena uma história pessoal, aquela história para o grupo é sua história. Ele (o protagonista) encarna o tema protagônico do grupo. Ele (o grupo) sente-se em cena, mesmo lá não estando. Não há divisões nem separações. Nem "nós" e "eles". Há somente um "nós" vivenciado em torno do protagonista e por ele.

domingo, 5 de abril de 2020

Orai e vigiai

O Evangelho faz parte de nossa cultura. Para muitos são fundamento para sua vida. Mas, para uma maioria dos seres humanos faz parte de nossa bagagem cultural. Há uma passagem do Evangelho, em que Jesus indo ao Horto das Oliveiras, no Jardim Getsemani, para rezar, pede aos seus apóstolos que ficassem em baixo enquanto ele subia. E ele usa uma expressão: "Orai e vigiai". Interessante. Acentua a importância da oração, mas lembra que os legionários são elementos físicos, materiais. E que precisam ser vigilantes para não serem surpreendidos. Orai e vigiai. A importância do não-material e do material. A oração é importante, mas precisa ser complementada pela precaução  e pela ação. Pela vigilância. No Psicodrama, a possível presença do elemento espiritual não é descartada. Ela pode ser o impulso motivador para a mudança. Porém, além disso, é necessário esforçar-se para mudar a situação, o estado de coisas. É necessária ação de mudança. Há trabalho a ser feito. Há custos emocionais a serem pagos. A psicoterapia não exclui a fé nem deve ser por ela eliminada. Orai e vigiai.

sexta-feira, 3 de abril de 2020

Einstein, baiano, Moreno

Estamos vivendo a segunda semana de isolamento. Ainda não tem tem 14 dias. Mas, para cada um e para todos, já parece anos. E parece não ter fim. Não sei se já tiveram essa experiência. Ir-se de carro a uma cidade pela primeira vez. a ida parece que nunca chegará, demora demais! Mas, quando regressamos, por reconhecer pontos de referencia no caminho, vistos na ida, a volta parece muito mais curta. O fato de irmos ao desconhecido aumenta a vivencia do tempo decorrido. Regressar por um caminho já conhecido torna a vivencia do tempo decorrido mais rápida. Quando lhe pediram para explicar brevemente a Relatividade, Einstein disse: "caso você esteja sentado ao lado de uma pessoa agradável, uma hora parecerá um minuto. Se você estiver ao lado de uma pessoa chata, um minuto parecerá uma hora". Tá, e daí? Há um conceito Moreniano (Socionômico, Psicodramático) chamado de Momento. Ele denota o tempo vivenciado. algo como Kairós dos Gregos, como a "durée" do filósofo Bergson. Não o tempo Chronus, não tempo decorrido, não o tempo cronológico. Sou baiano. E nós aqui temos uma expressão, geralmente sacaneada pelos não-baianos: "Esperei uma hora de relógio!". Para nós significa que não é só a vivencia da espera, mas a pessoa, realmente, demorou uma hora cronologicamente. Não foi apenas porque eu estaria expectante que pareceu uma hora. Foi uma hora. Mas, voltando aos trilhos. Momento, para Moreno, é o tempo vivenciado com intensidade. E essa intensidade lhe dá a importância. Tanto para a memória quanto para o significado.

quarta-feira, 1 de abril de 2020

Aniversário do Psicodrama

Há 99 anos:
1 de abril de 1921 é a data inaugural do PSICODRAMA. Iniciou com uma sessão aberta em um teatro, em Viena, com um convite para a discussão sobre a realidade caótica do país àquela época. Cortinas abertas, uma única cadeira vermelha em cena, uma coroa sobre ela. Moreno convida a quem quiser assumir a coroa que suba ao palco. E com este gesto de desafio, coragem e comprometimento, nasceu o PSICODRAMA. 

segunda-feira, 30 de março de 2020

Os saltimbancos

Há cerca de trinta anos apareceu o musical "Os saltimbancos". Aqui no Brasil a versão das músicas foi feita por Chico Buarque. A musica principal tinha, e tem, essa letra:
"Todos juntos somos fortes,
Somos flecha e somos arco,
Todos nós no mesmo barco,
Não há nada pra temer.
Ao meu lado há um amigo
Que é preciso proteger.
Todos juntos somos fortes
Não há nada pra temer."
O Psicodrama, o método Socionômico, baseia-se nessa ideia relacional. O outro me constitui enquanto eu o constituo. E Isso numa relação entre papéis. Esse fundamento é o grupo. E como vamos reconhecer o estado grupal? Quando usamos o "nós". A sensação, o sentimento de pertinência, de pertencimento, constitui o grupo. Não há eu nem eles. Há nós. E quando escutamos o nós, bendita palavra, o que escutamos é a expressão de pertencimento a um grupo. E, para Moreno, criador do Psicodrama, também temos que ficar atentos a que, aquilo que pode acontecer a uma pessoa, eu versus ele, pode acontecer a grupos. Nós versus eles, o outro grupo. E nisto Moreno depositava sua esperança: que o Psicodrama tivesse como meta não apenas a sua aplicação psicoterápica, mas que fosse de aplicação mundial. Em sua utopia, a meta seria um grupo mundial, o grupo de seres humanos, "nós, seres humanos. Nós, habitantes do mesmo planeta (todos nós no mesmo barco...). Mas, como diz um provérbio chinês (de verdade), "antes de salvar o mundo dê três voltas dentro de sua casa". A atividade principal do Psicodrama é grupalizar. É criar, ajudar a criar, o "nós". E isso pode ser feito. Sendo ou não psicodramatistas.

sábado, 28 de março de 2020

Psicodrama e Solipsismo

O que é o normal? O que é normalidade? Normal, é o habitual. Normal, é maioria. Normal é a média. Normal é o segmento de reta que cai a 90° sobre outra. E quando se fala de estado mental? O que visualizamos como normal? Será o meu jeito, o meu comportamento, a minha história, o padrão que uso para determinar a normalidade? Se assim for, e assim é, estarei vendo o mundo exclusivamente pelos meus olhos. A realidade será, sempre, a minha realidade. Sendo essa a corrente principal, o que podemos fazer para sai desse solipsismo (palavrinha chata, mas que resume bem)? A proposta do Psicodrama, da Socionomia Moreniana, é que a dramatização ajude a produzir uma verdadeira inversão de papéis. E aí "eu lhe verei com os seus olhos e você me verá com os meus olhos". Como resultado, sairemos de nossa bolha pessoal para acrescentar à nossa visão de mundo, a visão de outros seres humanos.

sexta-feira, 27 de março de 2020

Dia do Teatro

Hoje é comemorado o Dia Mundial do Teatro. E como dizia Augusto Boal, "Todos somos Teatro. Alguns fazem Teatro". Como sou parte de um método psicoterápico, o Psicodrama, que tem suas raízes fincadas no Teatro, pensarei aqui como Psicodramatista no Dia do Teatro. Em geral, o texto das peças ou sua forma de execução são denominados de forma diferentes. Drama, tragédia, comédia, farsa, tragicomédia, burlesco. O texto ou a forma de execução. Um texto pode ser criado, escrito, para ser tragédia, mas pode ser montado como farsa ou comédia. No Psicodrama, de resto, não usamos essa terminologia classificatória. O texto e a dramatização, no Psicodrama, são do protagonista e criado por ele. A forma com que se desenrola essa dramatização pode ser ser sugerida pelo Diretor (o coordenador do grupo) ou ser desenvolvida pelo próprios atores (egos-auxiliares, no Psicodrama) e protagonista. Mas, o protagonista  não é quem se coloca na linha de frente em primeiro lugar. É quem encarna e vive, em sua história, a história-tema daquele grupo, naquele momento, Assim, o protagonista é alguém que emerge do grupo, mas leva o grupo em sua dramatização. Mesmo sendo algo pessoal, naquele momento, caso ele seja o protagonista, todo o grupo sente-se contemplado. O grupo vê-se no palco. Aquela história, é sua história. Se assim não for, ele será um falso protagonista, até um bode expiatório. Estará no palco embora não sendo a voz do grupo, encarnada. No Dia Mundial do Teatro, numa época em que não está claro que tipo de cena está no palco, reverencio essa forma profundamente humana de ser. E sinto-me honrado, como Psicodramatista, de ter tão nobre origem.

quarta-feira, 25 de março de 2020

Solidão e Alceu Valença

A solidão é fera, a solidão devora
É amiga das horas, prima irmã do tempo
E faz nossos relógios caminharem lentos
Causando um descompasso no meu coração
Solidão
A solidão dos astros
A solidão da lua
A solidão da noite
A solidão da rua 
                Solidão, Alceu Valença
Escutava hoje essa música de Alceu. E pensei. Existem decisões de mandatos que a lógica manda cumprir. Mas é necessário levar-se em conta que tudo tem preço. No caso dessa pandemia e o consequente isolamento como medida extremamente necessária, há preços para os velhos, não só, mas para todos. E falo agora de preços emocionais. O ser humano é um bicho relacional. Ou seja, ele se constitui em relação com o outro. Aliás, esse é o pilar da filosofia Moreniana, a Socionomia. E essa relação é construída pelos vínculos. O vínculo, em latim e italiano é sinônimo de corrente, elo. O vínculo une as duas pontas da relação entre papéis. Então, há diferenças enormes entre estar só  e sentir-se só. Estar só é espacial. O isolamento nos põe sós. Sentir-se só é não ter vínculos que se sustentem na ausência física. Estar só é espacial. Sentir-se só é de natureza vincular. O que está sendo cobrado é que fiquemos sós, isolados. Mas, o velho, principalmente, mas não unicamente, necessita muito e muito de não se sentir só. Ele pode estar só , mas precisa da atenção afetiva. No afã de proteger o corpo do velho (não somente eles), podemos estar agredindo seu coração. Como bem diz Alceu Valença:
A solidão é fera, a solidão devora. É amiga das horas, prima irmã do tempo.
E faz nossos relógios caminharem lentos
Causando um descompasso no meu coração.
Solidão

segunda-feira, 23 de março de 2020

agrupamento e grupo

Quando em Psicodrama ou qualquer outra atividade Socionômica, iniciamos sempre com o aquecimento grupal. O aquecimento em Psicodrama tem a mesma função do aquecimento na atividade física: preparar o grupo ou o músculo para a atividade em si  para evitar uma distensão, no caso do músculo, ou a impossibilidade de dramatização, na caso do Psicodrama. Mas, no Psicodrama, tem um outro objetivo: grupalizar aquelas pessoas que, até então, estão em seus papéis sociais. Só depois da grupalização, quando todos sentem-se pertencentes a um grupo, com objetivos em comum, é que poderemos mesmo realizar a ação psicodramática. Enquanto o agrupamento de pessoas não se organiza em grupo cada um estará perseguindo objetivos pessoais e não, grupais. A crise atual mostra isso. Pessoas isoladas defendendo sua vida pessoal, sem nenhuma atenção ou olhar, ao outro. Esse agrupamento "cada um por si" se opõe ao comportamento grupal em que cada qual sente-se parte e parcela constitutiva do resultado grupal.

sábado, 21 de março de 2020

Inversão de papéis

Os tempos atuais são de crise. Mas na crise é possível se aprender algo. Os psicodramatistas, os socionomistas, falam de papéis. Aqueles, que em nossa cultura, surgem do encontro de pessoas em determinadas relações. Como a terminologia psicodramática adveio do teatro, o termo papel engloba tudo aquilo que em teatro se refere a papel. Uma personagem, um script, um vocabulário, uma expressão corporal. Agora, aparece uma coisa curiosa. O papel parental, pai e mãe, se caracteriza pela preocupação de segurança e pensar no futuro. O papel de filho é o do tempo presente e da liberdade. Hoje o diálogo de pais e filhos em tempos de pandemia mostra o que é em Psicodrama, Socionomia, a inversão de papéis. "Cuidado, não saia. Se proteja. Vc é teimoso, Tem que se cuidar". Esse texto pertence ao papel parental. Mas quem está falando, hoje, esse texto, são os filhos, mas em seu papel parental. E os pais, em seu papel filial, dizem, "preciso sair, tenho o que fazer, não aguento mais ficar em casa". Isso, repito, é um exemplo claro de inversão de papéis. No Psicodrama, Socionomia, isso se torna fonte de ampliação do conhecimento do papel do outro, do papel complementar. Sem que deixemos de pensar e agir dentro de nosso papel, o enriquecemos ao vivenciar o papel de de seu complementar. Pais(filhos), Filhos (pais).

quarta-feira, 18 de março de 2020

baianos e gregos

Ontem conversando com uma paciente, ela me disse: "Em minha cabeça o tempo passa muito rápido". Pedi-lhe que fechasse os olhos e quando passasse um minuto abrisse os olhos. Quando ela abriu, havia se passado 27 segundos. Esse é um exemplo da dissociação do tempo vivenciado e do tempo cronometrado. Há uma expressão, bem baiana, quando vamos reclamar do atraso de alguém e dizemos: "Estou esperando há uma hora de relógio!". Isso é sempre motivo de gozação por quem não é baiano. Mas, nós baianos, somos Morenianos, sabemos que o tempo cronométrico, "de relógio", é um e o tempo que nos vivenciamos é outro. Moreno criou o conceito de MOMENTO para se referir ao tempo vivenciado. O tempo cronológico para os gregos era Chronus. O tempo vivenciado é Kairós. Baianos, gregos, ansiosos, todos percebem a distinção necessária entre o tempo medido e o tempo vivido.

segunda-feira, 16 de março de 2020

Sócrates

Quando Sócrates usava a expressão "Só sei que nada sei" tinha um claro objetivo. Partir do zero, sem conhecimentos ou ideias ou conceitos prévios para investigar "ab ovo' (do início, do começo). Com isso sua tarefa investigatória ele a  chamava de Maiêutica (arte de parturejar, dar à luz, fazer nascer). Seu método levava ao nascimento de ideias, livrando-se de conceitos existentes. O Método Socionômico, o Psicodrama, têm muito da Maiêutica socrática. "Throw away the script" dizia Moreno. "Joguem fora o roteiro". A cena psicodramática deve ter seu significado na própria cena. O Diretor psicodramático ajuda, partureja a cena, para que nasça no protagonista uma nova compreensão. Mas uma percepção, uma compreensão apreendia pelo protagonista. Jamais imposta pelo Diretor. A ele, Diretor, cabe, ajudar a dar à luz.

sábado, 14 de março de 2020

Tele e Pequenina

Escutava uma música de Renato Teixeira, cantada por Xangai de nome "Pequenina". E nela há esse verso de beleza absurda:
"São tão claros os presságios
E os encontros dessa vida
Quando as partes combinadas
Surgem numa mesma estrada."
Esses três últimos versos me leva a pensar no conceito de TELE em Psicodrama/Socionomia. Quando as partes combinadas surgem juntas numa mesma estrada. Se vierem de sentidos contrários se aproximando ou se distanciarem por tomarem sentidos diferentes, ainda assim estarão numa mesma estrada, a relação será télica. Mas, se um se aproxima e outro se distancia ou se estão em estradas diferentes, será uma relação não-télica.

quarta-feira, 11 de março de 2020

Idiota

Acabei de ler um livro, presente de uma paciente. É um livro de citações e ilustrações. Algumas delas me chamaram a atenção, neste momento:
"A mãe dos idiotas está sempre grávida". 
É um provérbio francês de domínio público. E o que chamamos de idiotas nesse contexto? É quem não concorda conosco? É quem nos contraria? É quem não gostamos? Se assim fosse seria uma mera ofensa ou infantilidade. Idios, em grego, significa "o mesmo, o próprio". Penso que, nessa acepção, o idiota é aquele que se torna monolítico no pensar e falar, quem não estabelece um clima de discussão, quem se fecha na sua visão de mundo, é quem não abre a possibilidade de respeitar a contradição. Por isso, Moreno considerava a inversão de papéis como tão importante para o ser humano. Não para haver um pensamento hegemônico. Mas, sim, para cada um poder "ver você como seus olhos e você me ver com meus olhos". Não é para simplificar. É para ampliar o universo perceptivo da realidade.

quarta-feira, 4 de março de 2020

encontros e leituras

Estou indo a São Luis do Maranhão para fazer uma atividade de Psicodrama. Este é o resultado de pequenas e espontâneas coisas que aconteceram ao longo de dois anos. A primeira foi a mensagem de uma pessoa de São Luis, estudante de Psicologia, interessada em ter uma orientação para uma apresentação de equipe sobre psicodrama. Aí se estabeleceu uma ligação que frutificou no Encontro Norte-Nordeste. Desse encontro nasceu a ideia que agora se concretiza. E daí? Para que este relato? Tudo começa com um sim. Um pedido e um  sim. Desenrola-se como aquecimento inespecífico. Uma aproximação. O  Encontro da Paraíba torna-se um aquecimento específico. Já há personagens envolvidos. E esse próximo encontro poderíamos dizer será a dramatização (trabalharemos histórias) e compartilhamento (da experiência em si e processamento da parte técnica).  Esse é um exemplo de como a leitura psicodramática da vida pode fazer-nos entender o próprio método socionômico.

segunda-feira, 2 de março de 2020

Vivência

O Psicodrama, o método Socionomico, traz conceitos, termos e visões de mundo muitas vezes radicalmente diferentes das outras abordagens. Iniciar-se no Psicodrama pelo aspecto teórico apenas frequentemente redunda em desilusão ou desistência. Na palavra escrita parece ou mágica ou teatrinho ou superficial. Por isto, experienciar diretamente o Psicodrama por meio de vivências grupais prepara o terreno para a apreensão e compreensão da visão teórica trazida por Moreno. As vivências grupais são atos psicodramáticos únicos, não processuais, utilizando a sequência habitual do método, aquecimento, dramatização, compartilhamento/processamento, sendo o processamento a compreensão teórica daquilo que foi vivenciado. Sempre o experimentar do método conduz ao interesse pelo método. Aí sim, o aprofundamento teórico torna-se possível eu interesse permanente.

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020

Parasita

Assisti ao filme Parasita. Afora qualquer discussão ou consideração sobre a  estética cinematográfica, veio-me uma distinção nem sempre fácil de fazer ou entender. Sabedoria (wisdom), conhecimento (knowledgment), esperteza (slyness). O filme trata de esperteza (slyness). A sabedoria é o conhecimento englobado pela ética. Conhecimento é um instrumento de ação na Natureza. E esperteza? Esperteza tem a ver com a sobrevivência, com o imediato, com o presente. A esperteza não inclui o futuro. É "cada dia com sua pena". O horizonte da esperteza é curto. A sabedoria vê longe. E o conhecimento é o instrumento, o óculo para se ver. Isto é a minha visão de um segmento do filme. E o Psicodrama? Que tem a ver com isso? O que pode ter a ver com isso? Sempre podemos aprender com um campos da experiência e, a partir dele, olhar para outro campo experiencial. Dirigir uma ato psicodramático, um TE, exige conhecimento, profundo conhecimento do método socionômico. Mas, para o exercício da condução grupal, é fundamental a presença da esperteza, da sagacidade cênica, do pulo-do-gato. Entretanto, essas duas condições precisam ser complementadas pela sabedoria socionômica, a visão socionômico do viver. Sem essa sabedoria, ficaremos limitados ao desempenho técnico e a manha do dirigir. Psicodrama, TE, Sociodrama, atos socionômicos, enfim, precisam dos três.


segunda-feira, 24 de fevereiro de 2020

Feijoada completa

Mulher
Você vai gostar
Tô levando uns amigos pra conversar
Eles vão com uma fome que nem me contem
Eles vão com uma sede de anteontem
Salta cerveja estupidamente gelada prum batalhão
E vamos botar água no feijão
Mulher
Não vá se afobar
Não tem que pôr a mesa, nem dá lugar
Ponha os pratos no chão, e o chão tá posto
                       Feijoada completa, Chico Buarque
Ouvindo, agora, essa música de Chico, reparei nesse verso. É a marca do Teatro Espontâneo no exercício de condução no Psicodrama/Sociodrama. Não há o que se afobar, não precisa por a mesa, não há necessidade de preparar lugar. Eles chegam com sede e fome de ontem e anteontem. É o nosso aquecimento. Tendo isso, então, põe-se os pratos no chão, apenas. Fome e sede. O chão, o chão do palco, o palco, está posto. Aquecimento e espontaneidade. Eis o Psicodrama.

sábado, 22 de fevereiro de 2020

Estilo de condução

"Estilo é a feição peculiar das coisas. Um modo de ser inconfundível. A fisionomia. A cara." Essa frase de Monteiro Lobato, mais uma, ficou-me na cabeça. Passemos essa ideia, esse conceito, para o exercício socionômico, para o Psicodrama, para o Teatro Espontâneo. Cada direção psicodramática, cada Diretor de Psicodrama ou TE tem seu estilo, seu modo de ser inconfundível. Há diferenças de ritmo, estética que tornam reconhecível aquele estilo. Esse é o lado artístico desse fazer. É irrepetível e tem estilo. Sempre que possível, em encontros, jornadas, congressos, é bom participar de direções não conhecidas, expor-se a conduções diferentes. Para descobrir o seu próprio estilo de conduzir.

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2020

O ficar e a Tele

E que tal pensarmos um pouco sobre o "ficar"? Claro que pessoas da minha geração têm alguma dificuldade de entender (e aceitar) o ficar. Vamos passar o olho psicodramático (socionômico) sobre o assunto. O que caracteriza o "ficar"? É um encontro mediado tão somente pela atração visual. Mas sem expectativa de continuidade. Este é o fator principal como característica desse encontro. Há um contrato implícito em que o presente é o que conta, sem futuro esperado. Mas, e se,  e se no dia seguinte algumas das duas pessoas acorda esperando uma mensagem? Quando numa relação entre dois papéis os dois concordam com o script do encontro, há uma relação télica. Quando há uma dissonância de expectativas, de projetos, de scripts, haverá uma relação não-télica. O ficar seria uma relação télica, o namoro seria uma relação télica, o esperar a mensagem que não chegará nunca, será uma relação não-télica.

domingo, 16 de fevereiro de 2020

Throw away the script

Em recente vídeo gravado  por Sergio Guimarães numa entrevista com Marcia Karpp (Psicodramista inglesa formada por Moreno) surge essa frase: "Moreno told us "throw away the script". Isto é a peça fundamental do edifício psicodramático. Esse edifício começou a ser construído exata,mente jogando fora os roteiros. Era o Teatro da Espontaneidade.  E jogar fora o roteiro não significa porraloquice.  E isto norteado pelo método psicodramático. Seguir um roteiro é ter algo pre-estabelecido, é ser não-espontâneo, é não fazer Psicodrama. Jogar fora o roteiro significa deixar o momento, a ocasião, a espontaneidade conduzir a direção da cena. Jogar fora o roteiro é fazer Psicodrama/Teatro Espontâneo.

terça-feira, 11 de fevereiro de 2020

O que é preciso?

O Teatro Espontâneo se sustenta no aquecimento, no ritmo e na estética. Como quem participa não tem o compromisso de fidelidade de um grupo terapêutico, ele só permanece  e participa se estiver aquecido para aquilo. É muito fácil deixar, sair, abandonar uma sessão de TE. O olho atento do Condutor/Diretor ao ritmo das cenas e na consonância da plateia mantém o aquecimento desejado. A mirada estética produz a sensação de bem feito reforçando, mais uma vez, o aquecimento. E isto é o grande presente dado ao Psicodrama e Sociodrama: ritmo e estética.

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2020

Clarice Lispector

Uma pessoa me citou um texto de Clarice Lispector. Não o conhecia e ela citava de memória. Fui atrás do texto original. Estava em suas correspondências. "Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso. Nunca se sabe qual defeito sustenta o edifício inteiro". Claro que é uma frase bem construída e permite, abre espaço para múltiplas reflexões. Uma delas tem a ver com o Psicodrama, com o exercício psicoterápico, com a dramatização no palco psicodramático. Considerando a analogia de Clarice, o nosso edifício pessoal, é construído ao longo do tempo. E os tijolos não são todos do mesmo tamanho nem da mesma qualidade nem do mesmo formato. Mas compõem a parede, a estrutura. Retirá-los, tão somente, levando em conta apenas que eles não seguem o padrão construtivo, pode levar à queda do muro, do edifício inteiro. Daí porque a cena psicodramática permite a vivência no palco das possibilidades aventadas. É como se desse a oportunidade, que não existe no mundo da realidade real, de no mundo da realidade poética, da realidade suplementar, experimentar-se à vera sem ser de verdade. Ou seja, podemos experimentar o mexer de vários tijolos e suas consequências, mas podendo, usando os recursos psicodramáticos, ver-se de fora, repetir, experimentar outras saídas. É verdade: a priori nunca saberemos que defeito sustenta o edifício todo

quarta-feira, 29 de janeiro de 2020

Pode ser assim

Diante de uma tela, querendo escrever algo sobre Psicodrama e nada vem. Quanto mais olho e tenho a necessidade de escrever menos vejo saídas para mim. Penso em repetir coisas que já escrevi, procuro e procuro uma luz no fim do túnel, me inquieto, penso em levantar da cadeira e fechar o computador. Chato, incômodo, angustiante. Quantas vezes como condutor de Psicodrama /Teatro Espontâneo nos sentimos assim! Quantas vezes dá vontade de sair correndo e largar porque não vemos saída, não vemos solução. Quantas vezes para evitar a mais remota possibilidade disso pensamos em levar um roteiro pronto, rígido e acabado. Quantas vezes a rigidez substitui a espontaneidade pelo temor do vazio. E, no entanto, isso é consequência de uma atitude: a de se julgar diretor, comandante, total responsável pelo grupo. Como se carregasse o grupo nas costas. Para um fato simples, um antídoto simples: dar ar grupo, devolver ao grupo, compartilhar com o grupo. Pedir ajuda aos universitários. tal como fiz aqui desde o começo dividindo com vocês as minhas dificuldades. Utilizando a própria dificuldade como a matéria-prima do texto. Do grupo.

domingo, 26 de janeiro de 2020

Reflexões com Pessoa



Em um apontamento de Fernando Pessoa, por ele atribuído a Ricardo Reis, ele diz que Poesia não é um derramamento de emoção, mas sim a emoção submetida à disciplina do ritmo e da métrica. Em outro poema - Isto – ele diz: “Dizem que finjo e minto tudo o que escrevo. Não. Eu simplesmente sinto com a imaginação. Não uso o coração”. Não vejo melhor definição de Teatro Espontâneo. O protagonista sente com a imaginação e tem sua emoção sob a disciplina do ritmo e da estética. Este é o antídoto do espontaneísmo e da impulsividade histriônica.Em “Autopsicografia” diz Pessoa: O poeta é um fingidor. Finge tão completamente que chega a fingir que é dor a dor que deveras sente. E os que leem o que escreve, na dor lida sentem bem. Não as duas que ele teve, mas só a que eles não têm.” Os participantes, quando não aquecidos, não envolvidos, sentem apenas a que eles não tem. O Protagonista finge (dramatiza) a dor que ele tem e estas são as suas duas dores: a sentida e a dramatizada.

sexta-feira, 24 de janeiro de 2020

Ahn????

Lá nos idos do 2º grau aprendi em Física algo chamado Paralaxe. Trata-se da mudança de perspectiva entre figura e fundo pela mudança de posição do observador. Algo que ocorre quando olhamos o dedo indicador com apenas um olho aberto e depois alternamos o fechamento dos olhos. Esta mudança de posição relativa entre dedo e o fundo é a Paralaxe. E o que tem de análogo com o Psicodrama? Aqui quando reencenamos uma história, quando experimentamos outro final para ela, quando fazemos um espelho, duplo, inversão de papeis, quando usamos todos estes instrumentos de trabalho psicodramático, sempre o fazemos com o objetivo de permitir ao observador participante (grupo e/ou indivíduo) uma ou várias outras miradas novas da mesma cena. Isto é o que se torna o verdadeiro instrumento terapêutico do Psicodrama: a possibilidade de que o grupo e/ou indivíduo possa sair da visão única, cristalizada (talvez até patologizada) que até então acontecia para um horizonte de outras formas de ver. Sim, fazer Psicodrama é ajudar a construir múltiplos pontos de vista, é descongelar a visão de mundo. É fazer um movimento de Paralaxe existencial em que, sem que nada mude na superfície, algo se altere profundamente.



terça-feira, 21 de janeiro de 2020

Respeitar, amar

Penso há tempos na impossibilidade do amar a todas as pessoas. Esta quase exigência nos faz sentir ou culpados ou não-seres humanos. Amar é uma relação bilateral. Em termos psicodramáticos, uma relação Télica: Em que eu e o outro nos reconhecemos e interagimos dentro do mesmo vínculo, em relação complementar e com o mesmo tipo de afeto e intensidade. Isto seria amar em sentido relacional. Usamos a mesma palavra para também nos referirmos ao cuidado a todos os seres da Natureza e à própria Natureza. Essa relação não necessita ser bilateral, complementar. Pode ser unilateral. E talvez seja melhor chamá-la não de amor, por ser este um afeto necessariamente espontâneo. O respeito, prefiro esta palavra, não precisa ser espontâneo, podendo ser ensinado, aprendido e cobrado. O respeito é o reconhecimento do outro, da existência do outro. Respeitar é reconhecer e aceitar a existência do outro, sob qualquer forma. É o respeito que pode conduzir à harmonia ou à discordância, ambas construtivas para o processo humano. Se nulificamos, reificamos o outro, o tornamos coisas, tudo se admite e nada é proibido. No julgamento em Nuremberg ficou visível essa nulificação como forma de proteger-se da culpa. Hannah Arendt chamou a isto de banalização do mal. Respeitar é reconhecer a humanidade intrínseca de todos. E o Psicodrama por ter a sua base, seu alicerce, na ideia de que somos seres relacionais, seres em relação, constrói a possibilidade do respeito com suas inversões papel e consequentes multiplicações das visões de mundo. 

domingo, 19 de janeiro de 2020

TE e Psicodrama

Sempre temos visto escritos sobre o TE e todos dentro da perspectiva da ressonância junto à plateia, do potencial de transformação grupal ou dos protagonistas por meio da estética do momento. Quero agora refletir sobre outra vertente possível. O que muda no Diretor psicodramático que se dedica ao TE? O que se altera na sua prática, ainda que não seja teatro espontâneo que ele esteja realizando? Que especificidade de olhar psicodramático tem o diretor praticante de TE? Há alguma especificidade? Que importância tem para o psicodramista in status nascendi participar de TE?
Utilizando estas perguntas como iniciadores verbais, passemos a refletir. A rigor, o primeiro combatente (proto-agonista) é o que primeiro põe o pé no palco. Assim, o primeiro a proto-agonizar é o Diretor Psicodramático. Ele, naquele momento, é o que mais arrisca, o foco da atenção está sobre ele, espera-se um algo qualquer dele. Neste primeiro momento, a espontaneidade/criatividade do Diretor encontra seu maior espaço de desafio. O ritmo, a estética, a linha condutora advirá desta mesma espontaneidade criativa. Para saber enxergar e ouvir o grupo o Diretor precisa estar aberto, disponível, sem armaduras ou defesas prévias. E isto é exatamente o que o trabalho com o TE ajuda a desenvolver. O foco estético no TE é o eixo onde gira a Direção. Por isto, o cuidado com o ritmo, a fluidez, a ressonância junto ao grupo, a atenção particularmente quanto à manutenção do aquecimento grupal. Isto é vital. Porque se corre o risco, ao não se atentar para o aquecimento, que a plateia se esvazie. Como não há compromisso terapêutico, a plateia permanece enquanto se encontra motivada, interessada. Outro aspecto importante e curioso é que o público se apropria de partes ou trechos do acontecido. No compartilhamento é que se percebe que, da obra realizada, cada pessoa, cada parte da plateia, pinçou, apropriou-se de algo diferente.

Para o Diretor é necessário não ter uma postura autoral, quem dá (ou não dá) sentido ao acontecido é o público. Como o Diretor de TE trabalha fora da psiquiatria/psicologia, apresentando-se sem este aval, fica totalmente entregue ao que ele consegue construir junto com o grupo. Sua segurança virá da sua confiança em que o grupo é senhor e construtor de seu destino cênico. O grupo é que se dirige. Cabe ao Diretor, tão somente, dar forma esteticamente resolvida à dramatização.

Os psicodramistas não precisam todos fazer TE, mas se beneficiariam muito ao trabalhar com a ideia de ritmo e estética, de atentar sempre e sempre para o aquecimento grupal, de diminuir sua importância pessoal e ampliar sua confiança na capacidade de construção grupalPor isto, fazendo Teatro Espontâneo farão um melhor Sócio Psicodrama.

quinta-feira, 16 de janeiro de 2020

Teatros Espontâneos: O que, como e para que

“A agulha do Real nas mãos da fantasia”
                  A linha e o linho, Gilberto Gil
Como já foi dito, o Psicodrama que fazemos hoje não é o Psicodrama que Moreno fazia. Assim também podemos falar do que convencionamos chamar Teatro Espontâneo. Moreno denominava, e assim intitulou seu livro, Teatro da Espontaneidade. Nós usamos a expressão Teatro Espontâneo. Trata-se da mesma coisa? Estamos falando de mera troca de uma locução adjetiva, da espontaneidade, pelo adjetivo correspondente, espontâneo? Não, penso que não. E é disto que tratarei a seguir. Lendo o livro de Moreno, percebemos que sua intenção primeira era de valorizar e sedimentar o conceito de Espontaneidade. Era o centro de sua atenção, de seu universo particular. Era a sua ferramenta para se contrapor ao conservado, petrificado, tradicional. Ao teatro morto e congelado se contrapunha a experiência espontânea. Era a sua lança diante do moinho de vento do teatro tradicional. Assim DA ESPONTANEIDADE refere-se a um substantivo, a um algo que precisa ser exibido, desenvolvido, cultivado. Todo o esforço da trupe e de Moreno era exibir diante de uma plateia descrente e atônita, um algo novo, revolucionário: a Espontaneidade. Fazendo uma dublagem (duplo) de um possível frequentador, digo: ”Puxa, não é que existe mesmo esta Espontaneidade que Moreno fala? Eu a vi no palco”. Também posso fazer outra dublagem (duplo): “por mais que eles se esforçassem não vi a Espontaneidade apregoada, vi uma bagunça completa". Como poderia ser a dublagem de um ator qualquer da trupe: “Hoje a Espontaneidade estava no palco, vi no rosto das pessoas sua surpresa".  Ou então: “Tentamos de tudo, mas não deu". E Moreno, qual seria seu duplo? “Eu sabia que era possível mostrar do que a Espontaneidade é capaz!”
Ou: “Vou ter que inventar mais um jeito para esfregar na cara das pessoas que isto existe!”. Como toda dublagem, ela poderia ou não ser validada pelas pessoas, mas, para efeito de discussão consideremos que houve esta validação. A Espontaneidade era a atriz principal de seu Teatro. Todos os olhos voltados, benévola ou malevolamente, para ela. O Teatro da Espontaneidade existia e existiu, para justificar uma ideia de Moreno. Foi necessário, foi imprescindível. No contexto da época, estimular a existência da Espontaneidade era navegar contra uma corrente que via a liberdade e espontaneidade como geradoras de caos, de caos destrutivo. A década de 20 do século XX ainda era século XIX: sua estética, sua ética, sua moral era de um século XIX estendido. Moreno e Freud, trouxeram, a seu tempo, dois demônios a serem exorcizados, o sexo e a espontaneidade. 
Mas, tempos fugit. O tempo passa. Ao longo do tempo, o substantivo Espontaneidade foi sendo substituída por um adjetivo, uma qualificação. Gradualmente, já não se perseguia a espontaneidade como um fim e sim um agir espontâneo, um criar espontâneo, um viver espontâneo. Uma CREAÇÃO. Em que o objetivo está no processo, no status nascendi.
O Teatro Espontâneo é a criação em status nascendi. Seu objetivo, sua meta, sua realização é o próprio fazer, o construir. “mais importante do que a evolução da criação é a evolução do criador”. O ritmo, a estética são balizadores do fazer harmônico daquele grupo. No Teatro Espontâneo matricial, em que do próprio grupo emergem as histórias, o protagonista, os egos auxiliares, cada grupo ou cada agrupamento tornado grupo pelo aquecimento, tem caminhos diferentes, constrói-se diferente e tem o seu fim possível. Cada grupo obtém o que ele pode obter daquele e naquele MOMENTO (Kairós).  A dublagem (duplo) possível de um membro do grupo: “Gostei de sentir que podemos fazer coisas juntos, a partir do nada”. Ou então: “Achei uma história boba, parecendo grupo amador”. O condutor do grupo: “Tinha instantes que não sabia o que fazer ou por onde ir, mas sempre confio no grupo e aonde ele me leva”. Embora trabalhoso, arriscado, demandando uma direção cuidadosa, o TE no formato matricial, sem trupe específica, possibilita ao grupo não só contar e ouvir histórias, mas, e principalmente, fazendo-se de ator e dramaturgo, construir um algo evanescente, produção possível do grupo, fotografia daquele instante vivencial, atravessado pelo social e pelo histórico, que dura o que o grupo durar, mas permanece como experiência indelével. A meta é o caminho.

quarta-feira, 15 de janeiro de 2020

Não querer

"A renúncia é a libertação. Não querer é poder." 
                 O livro do desassossego/Bernardo Soares/Fernando Pessoa

O senso comum diz que querer é poder. Coloca-se toda ênfase numa suposta entidade chamada força de vontade. E, ao mesmo tempo, dá-se uma ideia fantasiosa e onipotente de que o limite é dado pela pessoa, desprezando-se as circunstâncias que podem ser, realisticamente, limitadoras e limitantes. Pessoa traz nossa atenção para a recusa, o não querer. O foco passa a ser dizer não a algo habitual, recusar o já conhecido. Trazendo para a nossa realidade psicodramática, o palco, a cena, a dramatização permitem que ao protagonista seja dada a oportunidade de dizer Não. Experimentar o recusar, testar o seu não querer. Sair da imobilidade do "É assim mesmo".

domingo, 12 de janeiro de 2020

Alice, Machado, Chico

"Pode dizer-me, por favor, que caminho devo seguir para sair daqui? Pergunta Alice.
Isso depende muito para onde você quer ir, responde o gato de Cheshire.
Preocupa-me pouco aonde ir, disse Alice.
Nesse caso, pouco  importa o caminho que siga, diz o gato de Cheshire."
             L. Carroll in Alice no País das Maravilha
"Caminhante, são tuas pegadas o caminho e nada mais;
Caminhante, não há caminho, se faz caminho ao andar.
Ao andar se faz caminho e ao voltar a vista atrás
se vê a senda que nunca se há de voltar a pisar"
            Antonio Machado in Cantares
"Os poetas, como os cegos, podem ver na escuridão".
            Chico Buarque de Holanda in Choro Bandido

Diz-se que o Psicodrama, o Sociodrama, o Teatro Espontâneo, a Socionomia, enfim, são de base fenomenológica existencial, não interpretativos. E o que isso quer dizer? Acima, há três citações. A de Lewis Carroll sugere que não tendo um objetivo definido, há múltiplos caminhos a serem tomados. O poeta espanhol, Antonio Machado, nos diz que o trilhar do caminho constrói o próprio caminho, não havendo caminhos pre-definidos e que, uma vez trilhados, não há como repeti-los. O Socionomista, seja atuando como psicodramista, como sociodramista ou teatreiro espontâneo, constrói seu caminho no grupo com o grupo. É aí que o método socionômico se torna o nosso único guia. Não é o plano, não é o objetivo. Mas o método. Método de construção coletiva, sendo o diretor/condutor/psicoterapeuta, o o olhar diferenciado que dá ao grupo o suporte para sua realização no palco psicodramático.
E Chico, como acontece, diz que os poetas vêem mais longe e mais claro.


segunda-feira, 6 de janeiro de 2020

Ensinar Psicodrama?

A maior vantagem do Psicodrama e das Artes Psicodramáticas (dança, música e pintura espontâneas) é ascensão da forma e beleza das cinzas da produção espontânea”.
Moreno in Quem sobreviverá?
Minha filosofia tem sido mal entendida e desconsiderada em muitos círculos científicos e religiosos. Isto não me impediu de continuar a desenvolver técnicas provenientes da minha visão de como o mundo deveria ser estabelecido. É curioso o fato de que esses métodos – sociometria, psicodrama, terapia de grupo – criados para implementar uma filosofia fundamenta de vida subjacente, têm sido universalmente aceitos, enquanto a Filosofia é relegada aos cantos escuros das estantes das bibliotecas ou de todo esquecidas”.
Moreno in Autobiografia

Axioma: O Psicodrama é mais do que uma técnica de fazer. É um método de olhar e vivenciar a relação com o grupo/cliente/mundo.

Corolário 1: Ensinar técnicas não faz um psicodramista.
Corolário 2: O uso das técnicas psicodramáticas não faz de alguém psicodramista.

Na maioria dos métodos psicoterápicos a formação de novos profissionais raramente se inicia com a biografia do mentor. Provavelmente,a vida particular, histórias pessoais, acidentes, vaticínios, não são considerados no processo formativo. É possível  que que seus seguidores pouco conheçam da vida íntima dos seus mentores. Talvez mais adiante, por interesse pessoal, alguém mergulhe mais a fundo. Mas, como parte da formação, como elemento essencial de um curso formal, provavelmente não. O que importa são apenas as ideias, as obras. Com os Psicodramistas acontece o contrário. Em, todas as escolas formadoras a biografia de Moreno é parte essencial da aproximação do estudante com a Socionomia. Será que isto se tornou apenas uma conserva didática? Por que a vida pessoal de Moreno é imprescindível (ou deveria ser) para a formação do Socionomista?
A nossa colega e amiga Valéria Brito escreveu certo dia, de forma lapidar: “Ao contrário do que habitualmente se supõe, a especificidade do Psicodrama reside mais em seus pressupostos do que em sua técnica.” E que pressupostos são estes? A Socionomia lastreia-se no pressuposto de que o ser humano é relacional. A Socionomia, mais do que a técnica, são estas suas pressuposições, axiomas, posturas filosóficas que a definem. Quando estudamos Moreno em sua infância, brincadeiras megalomaníacas, vivências místicas, experiências sociais, estamos fazendo nosso Caminho de Santiago. É uma iniciação não à sua técnica, mas à sua atitude filosófica existencial. Isto não deveria ser apenas matéria de erudição. Deveria ser vivencial. Ensinar técnicas psicodramáticas não produz psicodramistas, produz técnicos em Psicodrama.
Aconteceu com o ensino das escolas o que aconteceu com o próprio Moreno ao sair da Europa para os EUA. O início de Moreno, intuitivo e impulsivo, artístico e crítico, definidor do olhar psicodramático, foi gradualmente cedendo o passo, no afã de ser aceito por uma cultura obsessiva como a americana. Ele deixa aquele início e afirma o lado matemático, o pesar, medir, contar, a pretensa seriedade científica substituindo o olhar artístico com embasamento filosófico. Ele forçou-se a pensar como americano, a fazer como americano. Aí ocorre esta dicotomia: arte europeia, ciência americana. As fórmulas e equações sociométricas são bem diferentes do Komoedien Haus. Com as escolas o mesmo. O formal, o obsessivo, supera o artístico, histérico. Enfim, Psicodrama é sério, terapêutico, científico. O TE é lúdico, espontâneo, divertido. E só. Mas, onde fica o olhar fenomenológico existencial? Onde fica o real vivenciar do diretor ser um membro do grupo (em papel diferenciado)? Onde o real sentido de confiar em que o grupo encontra as suas respostas? Onde a experiência vivencial de que o ser humano se constitui em grupo, que é um ser em relação? Isto não é só técnica. É a encarnação de um jeito de olhar e pensar o grupo. Mas, se admitirmos que está acontecendo e aconteceu às escolas de Psicodrama o mesmo que aconteceu ao seu criador, então temos que enfrentar o mesmo desafio. Também para sermos aceitos na comunidade acadêmica precisamos de usar a linguagem acadêmica, a formatação acadêmica. Para termos alunos precisamos de que esses alunos recebam o que buscam, um diploma com reconhecimento do Ministério de Educação, validado para o mercado de trabalho. Essa é a nossa realidade imediata. E como seria a nossa realidade suplementar?

Há um ditado Zen budista que diz: ao se apontar o dedo para a Lua deve-se ter cuidado de não confundir o dedo com a Lua. O formal, a monografia, a ABNT, são dedos apontando para a Lua. E que Lua é esta? Há uma frase de Moreno, sobre as diferenças entre ele e Freud, dizendo que Freud morreria de prisão de ventre e ele de diarreia. Todos estamos padecendo desta obstipação criativa. O nosso ventre espontâneo está preso. Saídas? Vejo caminhos no recuperar o aprofundamento filosófico, nos pressupostos existenciais e humanistas, em fazê-lo não de forma erudita, como textos lidos, mas sim vivenciado, encarnado, descobrindo e afirmando em cada um sua visão de mundo. Vejo caminhos no recuperar a arte europeia, no exercício do Teatro Espontâneo como método didático. Afinal, o nosso Diretor/Condutor é verdadeiramente o primeiro a agonizar no espaço cênico, é a primeira personagem que aparece. E ele encarna o metrônomo do grupo. Sua espontaneidade e criatividade determinam o fluxo de energia criativa inicial. O aquecimento depende dele. E do aquecimento tudo depende. Para saber enxergar e ouvir o grupo o Diretor precisa estar aberto, disponível, sem armaduras ou defesas prévias. E isto é exatamente o que o trabalho com o TE ajuda a desenvolver. O foco estético no TE é o eixo onde gira a Direção. Por isto, o cuidado com o ritmo, a fluidez, a ressonância junto ao grupo, a atenção particularmente quanto à manutenção do aquecimento grupal. Isto é vital. Porque se corre o risco, ao não se atentar para o aquecimento, que a plateia se esvazie. Como não há compromisso terapêutico, a plateia permanece enquanto se encontra motivada, interessada. Outro aspecto importante e curioso é que o público se apropria de partes ou trechos do acontecido. No compartilhamento é que se percebe que, da obra realizada, cada pessoa, cada parte da plateia, pinçou, apropriou-se de algo diferente. Para o Diretor é necessário não ter uma postura autoral, quem dá (ou não dá) sentido ao acontecido é o público. Como o Diretor de TE trabalha fora da psiquiatria/psicologia, apresentando-se sem este aval, fica totalmente entregue ao que ele consegue construir junto com o grupo. Daí porque para se fazer TE está implícito que o grupo é construtor e senhor do seu caminho. Cabe ao Diretor dar forma esteticamente resolvida a este caminho.
Neste ponto, não bastam as técnicas. Há o verdadeiro vivenciar de todos os pressupostos Morenianos: ser humano como ser relacional; Diretor/Condutor como parte do grupo em papel diferenciado; postura fenomenológica, não interpretativa, que toma o que está posto; do Psicodrama ser uma construção coletiva e uma contínua objetivação do subjetivo com a subjetivação do objetivo. Mas TE é lúdico, não é sério.
Retornando, e finalizando, aos pressupostos Morenianos, a reflexão é sobre o que foi perdido ao se ganhar o que foi ganho. Apenas as técnicas ou o uso delas não nos diferencia, a potência do Psicodrama não está nas técnicas, mas no como e para que são usadas.


Postagem em destaque

E assim é.

Experimentar e refletir.  Este blog é um espaço para mostrar ideias sobre o psicodrama, sobre o teatro espontâneo.  Há mais de trinta anos...